24 dezembro 2009

Divaldo apoia Ramatis... Mas, e daí?

O médium Divaldo Franco, em foto recente
Há muito tempo estamos aguardando para falar sobre esse assunto. No entanto, como alguns ramatisistas vêm se utilizando da declaração do citado médium datada de 15 de agosto de 2004 para dar credibilidade ao espírito Ramatis, resolvemos fazer algumas considerações. O áudio da palestra pode ser ouvido acessando Divaldo fala sobre Ramatis.

A princípio, ficamos verdadeiramente surpresos quando soubemos, quase que imediatamente, que o conhecido médium Divaldo Pereira Franco havia proferido, em público, considerações elogiosas acerca do espírito Ramatis. Afinal, Divaldo sempre se apresentou como fiel defensor do Espiritismo e da Codificação Kardeciana, assim como psicografou livros de um dos maiores expoentes da pureza doutrinária, o cearense Vianna de Carvalho.

Com certeza, seu trabalho de divulgação é notável, temos de reconhecer. Porém, assim como todos nós, o médium Divaldo tem o direito a ter suas opiniões, nem sempre todas elas, contudo, abalizadas pela Doutrina. O que não se pode, por isso, é tomar suas opiniões como se representassem o posicionamento do Espiritismo ou mesmo fosse um reflexo indefectível da Verdade. Nos últimos tempos, aliás, Divaldo Franco tem se envolvido em inúmeras polêmicas. Muitas delas, inclusive, receberam sinais de desagrado tanto de espíritas como dos próprios ramatisistas, como poderemos nos certificar neste nosso artigo.

Inicialmente, não poderíamos deixar de colocar as coisas como elas devem verdadeiramente ser. Em termos de divulgação e entendimento doutrinário, a primeira e a última palavra deva ser a da Codificação Espírita, acima de toda e qualquer opinião individual, seja de um espírito ou de um indivíduo encarnado. Concomitantemente à Doutrina, a Ciência material, naquilo que ela estuda e aborda, também deve ser levada em consideração, tal qual explicou o Codificador:

"...O Espiritismo não estabelece como princípio absoluto senão o que se acha evidentemente demonstrado, ou o que ressalta logicamente da observação. Entendendo com todos os ramos da economia social, aos quais dá o apoio das suas próprias descobertas, assimilará sempre todas as doutrinas progressivas, de qualquer ordem que sejam, desde que hajam assumido o estado de verdades práticas e abandonado o domínio da utopia, sem o que ele se suicidaria. Deixando de ser o que é, mentiria à sua origem e ao seu fim providencial. Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará."

Portanto, é importante ressaltar que o posicionamento espírita acompanha o progresso científico, e não opiniões isoladas de médiuns ou de espíritos. Esta é uma questão capital nesta nossa análise.

Da mesma forma, notamos que se tem dado aos médiuns, especialmente no Movimento Espírita Brasileiro, uma autoridade e notoriedade que eles jamais tiveram à época de Kardec e na própria Codificação, por exemplo. Claro que se pode ser, ao mesmo tempo, um grande conhecedor da Doutrina e médium, mas o que a grande maioria leva unicamente em consideração, infelizmente, é a mediunidade (ostensiva) do indivíduo, como se isso, por si só, o elevasse à condição de ser superior, inatacável e acima do Bem e do Mal. Esta é uma visão equivocada, oriunda do desconhecimento acerca do papel do médium e também de um certo misticismo atávico, onde o médium é tido como possuidor de "poderes sobrenaturais" ou alguma espécie de intercessor ou "pistolão" espiritual, pronto a interceder em favor de seus seguidores e admiradores, haja vista o número de pessoas que seguem alguns desses medianeiros em verdadeiras caravanas. O interesse, neste caso, passa a não ser mais o conhecimento espírita, mas uma ostensiva idolatria à figura do médium em si.

Assim sendo, é evidentemente errôneo formarmos uma opinião baseados tão-somente no que disse o médium "X" ou "Y", abandonando a Codificação Espírita e a Ciência, assim como a razão, a lógica e o bom-senso. Isso é abdicar da razão e fé raciocinada, postura totalmente em oposição àquilo que o Espiritismo ensina.

As Polêmicas

Como dissemos no início, o médium Divaldo Franco tem se envolvido em inúmeras polêmicas, algumas delas ferindo tanto posicionamentos da própria Doutrina como dos ramatisistas, que listaremos e comentaremos a seguir.

Apometria

Como pudemos desenvolver no tópico "O Que Está por trás da Apometria", Ramatis e os ramatisistas se se colocam como maiores incentivadores da Apometria. No entanto, a posição de Divaldo é diametralmente oposta:

"Apometria não é Espiritismo"

Autor: Divaldo Pereira Franco

Não irei entrar no mérito nem no estudo da apometria porque eu não sou apômetra, eu sou espírita e o que posso dizer é que a apometria, segundo os apômetras, não é espiritismo. Porquanto as suas práticas estão em total desacordo com as recomendações de 'O Livro dos Médiuns'. Não examinaremos aqui o mérito ou demérito porque eu não pratico a apometria, mas segundo os livros que tem sido publicados, a apometria, segundo a presunção de alguns, é um passo avançado do movimento Espírita no qual Allan Kardec estaria ultrapassado. Allan Kardec foi a proposta para o século XIX e para parte do século XX e a apometria é o degrau mais evoluído no qual Allan Kardec encontra-se totalmente ultrapassado. Tese com a qual, na condição de espírita, eu não concordo em absoluto". (...) Então, se alguém prefere a apometria, divorcie-se do Espiritismo. É um direito! Mas não misture para não confundir."(Leia o texto na íntegra em http://www.oespiritismo.com.br/textos/ver.php?id1=91)

Crianças Índigo e Cristal

Já no meio espírita, Divaldo recebeu duras críticas por seu apoio à tese da existência das chamadas "crianças índigo" e "cristal", originária de uma estranha seita "new age". Em oposição a esse posicionamento e baseados nas obras da Codificação e nas orientações de Allan Kardec, vários estudiosos, tais como Paulo Henrique Figueiredo, Heloisa Pires, Rita Foelker, e lançaram artigos e documentos em conjunto em que afirmam provar que esta teoria não sobrevive ao crivo da razão e da análise científica.

Ainda segundo o escritor e dirigente espírita Richard Simonetti, da cidade de Bauru-SP, essas crianças seriam, ao invés de espíritos evoluídos, como afirma Divaldo, "uma geração de espiritos perturbados, com subdesenvolvimento moral, comprometidos com graves desvios de existências anteriores. Não podem ser identificados como espiritos missionários porque detestam a disciplina e assumem postura que contrariam elementares princípios de civilidade".

Já a pedagoga Dora Incontri afirma que tudo não passa de uma mistificação grosseira, oriunda das mensagens de um espírito chamado Kryon, que a tradução brasileira mudou para "médium Kryon", que se afirma extra-terrestre e o espírito mais próximo de Deus. Uma grande mistificação com fins comerciais, sem nenhuma racionalidade, sem nenhum critério científico. Segundo ainda a pedagoga, "espíritas embarcam gostosamente na idéia. Por que? Alguns certamente o fizeram de boa fé, outros com claros interesses financeiros, porque se trata de uma tema vendável, na linha da auto-ajuda descompromissada, aquela que agrada ao leitor, por trazer receitinhas prontas de como tratar um filho índigo - e muitos podem se iludir no orgulho de ter um filho de aura azul, predestinado a mudar o mundo, um mutante genético".


O Fim dos Tempos

Como bem sabemos, Ramatis defende a tese da existência de um astro que, devido a sua aproximação com nosso planeta, iria provocar, até o ano 2000, a elevação abrupta do eixo terrestre e consequentes cataclismas globais que viriam a dizimar boa parte da humanidade. Embora Divaldo Franco tenha defendido o espírito Ramatis, o mesmo não parece corroborar tais previsões apocalípticas em entrevista ao jornal "O Paraná", muito pelo contrário:

O Paraná: "Muitos acreditam no final dos tempos, a partir da virada para o próximo milênio. Como o Espiritismo encara isso?"

Divaldo: "Como uma superstição. Normalmente, através da história, a mudança de século sempre trouxe, particularmente na idade média, o fantasma do horror. Baseado em que, nessa mudança, a Terra se deslocaria do eixo, haveria uma erupção de epidemias, de terremotos, maremotos, de fenômenos sísmicos e, na virada do milênio, foi ainda mais apavorante, por causa desse mesmo critério supersticioso. Em todo o Evangelho, nos 27 livros que o constituem, não há nenhuma referência ao novo milênio. As observações, a respeito do "fim do mundo", estão no Apocalipse de João, quando ele dirá, através de metáforas e de imagens, de uma concepção de um estado alterado de consciência, que vê a transformação que se operaria na Humanidade. Mais tarde poderíamos colher outros resultados também no chamado sermão profético de Jesus, que está no evangelista Marcos, capítulo 13, versículo 1 e seguintes, quando Jesus saía do templo de Jerusalém e os discípulos, muito emocionados, dizem: - "Senhor, vede que pedras, vede que templo". E Jesus lhes redargue: - "Em verdade vos digo que não ficará pedra sobre pedra que não seja derribada". Foram para o Getsêmani, no Horto das Oliveiras, e ali os amigos disseram: "Conta-nos quais serão os sinais que antecederão a isso". Ele narra uma série de fenômenos que certamente atingiriam a Terra. Aconteceu que, realmente, no ano 70, Tito teve a oportunidade de derrubar o templo de Jerusalém, que não foi mais reerguido, e no ano 150, na segunda diáspora dos hebreus, praticamente Jerusalém foi destituída da Terra, somente voltando a ter cidadania quando a ONU reconheceu o Estado de Israel com os direitos que, aliás, lhe são credenciados e que ele merece. Mas as doutrinas religiosas, com o respeito que nos merecem, que sempre se caracterizaram pelo Deus-temor ao invés do Deus-amor, por manterem as pessoas na ignorância e intimidá-las, ao invés de libertá-las pelo esclarecimento, estabeleceram que o fim do mundo seria desastroso, seria cruel, como se não vivêssemos perpetuamente num mundo desastroso e cruel, cheio de acidentes, de vulcões, de terremotos, de maremotos, de guerras, de pestes, etc. Para nós, espíritas, o fim do mundo será o fim do mundo moral negativo, quando nós iremos combater os adversários piores, que são os que estão dentro de nós: as paixões dissolventes; os atavismos de natureza instintiva agressiva; a crueldade; o egoísmo e, por conseqüência, todos veremos uma mudança da face da Terra, quando nós, cidadãos, nos resolvamos por libertar-nos em definitivo das nossas velhas amarras ao ego e das justificativas por mecanismos de fuga. Então o homem do futuro será um homem mais feliz, sem dúvida. Haverá uma mudança também da justiça social. Haverá justiça social na Terra, porque nós, as criaturas, compreenderemos os nossos direitos, mas acima de tudo, os nossos deveres, deveres esses como fatores decisivos aos nossos direitos. Daí, a nossa visão apocalíptica do fim dos tempos é a visão da transformação moral em que esses tempos de calamidade passarão a ser peças de museu, que o futuro encarará com uma certa compaixão, como nós encaramos períodos do passado que nos inspiram certo repúdio e piedade pela ignorância, então, que vicejava naquelas épocas". (Fonte: http://www.mundoespirita.com.br/antigo/jornal/set6-1.htm)

A Umbanda e os Pretos Velhos

Sabemos que o movimento ramatisista possui muita simpatia pela Umbanda, sendo que inúmeros médiuns umbandistas têm alegado receber mensagens de Ramatis. Divaldo Franco, contudo, declarou o seguinte recentemente, causando espécie em muitos umbandistas e ramatisistas também:

"... Na cultura brasileira, remanescente do africanismo, há uma postura muito pieguista, que é a do preto velho. E muitas pessoas acham que é sintoma de boa mediunidade ser intrumento de preto velho. Quando lhe explicamos que não há pretos velhos, nem brancos velhos, que todos são Espíritos, ficam muito magoadas, dizendo que nós, espíritas, não gostamos de pretos velhos. E lhes explicamos que não é o gostar ou não gostar. Se tivessem lido em 'O Livro dos Médiuns', 'O Laboratório do Mundo Espiritual', saberiam que se a entidade mantém determinadas características do mundo físico, é porque se trata de um ser atrasado. Imagine o Espírito que manquejava na Terra, porque teve uma perna amputada, ter de aparecer somente com a perna amputada. Ele pode aparecer conforme queira, para fazer-se identificar, não que seja o seu estado espiritual. Quando, ao retornar à Pátria da Verdade, com os conhecimentos das suas múltiplas reencarnações anteriores, pode apresentar-se conforme lhe aprouver.

Então, a questão do preto velho é um fenômeno de natureza animista africanista, de natureza piegas. Porque nós achamos que o fato de ter sido preto e velho, tem que ser Espírito bom, e não é. Pois houve muito preto velho escravo que era mau, tão cruel quanto o branco, insidioso e venal. E também houve e há muito branco velho que é venal, é indigno e corrompido. O fato de ter sido branco ou preto não quer dizer que seja um Espírito bom.

Cabe ao médium ter cuidado com esses atavismos, e quando esses Espíritos vierem falando errado, ou mantendo os cacoetes característicos das reencarnações passadas, aclarar-lhes quanto à desnecessidade disso. Porque se, em verdade, o preto velho quer falar em nagô, que fale em nagô, mas que não fale um enrolado que não é coisa nenhuma. Ou, se a entidade foi alemã na Terra e não logre falar o idioma do médium, que fale alemão, mas que não fale um falso alemão para impressionar. O médium só poderá falar o idioma no qual ele já reencarnou em alguma experiência passada. Desde que não há milagres nem sobrenatural, o médium é um instrumento. Sendo a mediunidade um fenômeno orgânico, o Espírito desencarnado vai utilizar o que encontre arquivado no psiquismo do médium, para que isto venha à baila." (Extrato de um ensaio do médium Divaldo Pereira Franco, que tem como título "Consciência")

Aliás, é bom que se diga que a visão de Ramatis varia de médium para médium. Enquanto que para o Ramatís de Hercilio Maes a Umbanda é culto fetichista, para o Ramatís de Norberto Peixoto é a religião do terceiro milênio...

Rituais

Segundo Ramatis, "rituais, mantras, etc. são meios de se alcançar o 'Cristo Planetário'", espírito superior até a Jesus. ("Mensagens do Astral", pág. 302) Assim sendo, para Ramatis, rituais podem nos colocar em comunicação até mesmo com espíritos bastante adiantados. Para Divaldo, contudo, rituais não se justificam:

O Paraná: "Existem rituais no Espiritismo?"

Divaldo: "O Espiritismo, inicialmente, é o resultado de uma investigação científica, por isso mesmo dizemos que o Espiritismo é ciência, não uma ciência convencional, porque o material com que labora não obedece às leis das doutrinas físicas. Trabalhando com o espírito imortal, está sempre na dependência das suas reações psicológicas, das suas atitudes emocionais. Essa investigação científica, que é resultado da observação, ofereceu uma visão filosófica, e nessa proposta filosófica, o Espiritismo responde aos quesitos que perturbam o pensamento filosófico. Por efeito, tem uma ética moral. Nessa ética moral surge uma vertente religiosa, não do ponto de vista de uma religião constituída, que se caracteriza por um misticismo, por paramentos, por sacerdócio organizado, pelas expressões seitistas, ou que se permita caracterizar por uma forma ou fórmula de culto externo. É, portanto, uma doutrina destituída de toda e qualquer apresentação visual que tenha por meta impressionar. É uma Doutrina que leva o indivíduo a uma auto-reflexão a respeito da vida e das suas responsabilidades perante a consciência cósmica."

Divaldo e Sai Baba

É conhecida, já de muito tempo, a admiração de Divaldo Franco pelo guru indiano Sathya Sai Baba. O médium baiano, assim como fez com Ramatis, rasgou-se em elogios a Sai Baba, afirmando ser o mesmo um dos seres mais evoluídos da Terra e digno de toda confiança e apreço. Divaldo chegou a relatar que, estando ele em um país distante, foi acometido por uma crise de angina no quarto do hotel, e Sai Baba teria se materializado (!) e o tratado ali mesmo, tal qual um médico. Mais tarde, na Índia, segundo Divaldo, os dois se encontraram e assim que se viram Sai Baba sorriu para Divaldo, e lhe disse logo: - "Que bom, meu filho! Este, já é o nosso segundo encontro!" Depois disso, Divaldo relatou ter visto intensa luminosidade espiritual e sentido uma intensa paz ao encontrar o indiano.

Apesar dessa elevada opinião de Divaldo Franco sobre o citado guru, o que muitos no Brasil ainda não sabem, no entanto, é que Sai Baba andou envolvido em inúmeros escândalos, inclusive com acusações de participação em assassinatos, pedofilia e fraude em seus espetáculos de materialização, conforme veremos em detalhes.

Os Truques de Sai Baba

O parapsicólogo Wellington Zangari comenta sobre estudos científicos realizados com Sai Baba:

“Haraldsson e Wiseman apresentaram juntos, em 1994, na Convenção da Parapsychological Association, um estudo que fizeram com Sai Baba. Eu estive lá e assisti com interesse a apresentação, sobretudo porque foi acompanhada de um vídeo do estudo. Submeteram o alegado paranormal a alguns controles simples, como ter suas mãos colocadas dentro de sacos plásticos fechados por elásticos. Nenhum fenômeno ocorreu enquanto houve esse tipo de controle. A conclusão do trabalho aponta para a possibilidade de fraude.”

Acusações vindas de toda parte

Diversas instituições mundo afora, como a UNESCO, o Departamento de Estado Norte Americano, a BBC e o jornal "Times" de Londres, o jornais "Telegraph" e "The Guardian", além de outras importantes instituições midiáticas da União Européia, Escandinávia, Canadá e Austrália, já fizeram trabalhos investigativos sobre Sai Baba. Os documentários The Secret Swami (2004) da BBC, e assassinatos a sangue frio cometidos pela polícia no quarto de Sai Baba em 6 de junho de 1993. Seus ex-seguidores afirmam que, ameaçados pela mídia indiana e pela influência política de Sai Baba e seu multimilionário império, não tiveram outra alternativa senão fazer as denúncias a meios de comunicação não-indianos. Há, inclusive, uma petição pública para investigações oficiais de Sathya Sai Baba e de sua organização a nivel mundial.

Já no endereço http://saibabaexposed.blogspot.com é possível ler, na íntegra, a reportagem investigativa levada a cabo pelo respeitado jornal inglês "The Guardian", contendo denúncias de abuso sexual contra meninos.

Conclusão

Pudemos ver que um médium é um indivíduo que também pode se enganar e emitir opiniões completamente equivocadas. No caso específico de Divaldo Franco, o mesmo, inadvertidamente e sem ter colhido os elementos suficientes que lhe dessem a segurança de uma análise precisa, fez considerações elogiosas a uma entidade espiritual cujos ditados colidem frontalmente com os postulados da Doutrina Espírita e com as opiniões do próprio Divaldo acerca de temas importantes. Talvez na ânsia de agradar aos seus simpatizantes e colher a simpatia dos mesmos, Divaldo, que parece jamais ter lido os livros ditados por Ramatis, chegou a afirmar tratar-se de nobre entidade. Da mesma maneira, Divaldo parece ter se equivocado em relação ao guru Sai Baba, tendo inclusive relatado uma materialização do mesmo em seu quarto, algo que provavelmente nem deve ter ocorrido, o que é bastante grave, em nossa opinião. Em ambos os casos, o desencarnado Ramatis e o encarnado Sai Baba falam de amor, de caridade, de Deus - palavras estas fáceis de pronunciar, mas que servem tão-somente de nuvem de fumaça para acobertar interesses inconfessáveis.

Portanto, a lição que aprendemos é que não devemos nos fiar na opinião deste ou daquele, mas sim aprofundarmos conhecimentos, confrontando as opiniões e submetendo-as às informações da Doutrina Espírita, da Ciência e da mais severa lógica num estudo atento e imparcial. O próprio Codificador, mesmo sendo um homem de extensa cultura, não olvidou tais cuidados, sugerindo, inclusive, a utilização de um Método de Controle Universal do Ensino dos Espíritos (CUEE) que pode ser encontrado no 9º parágrafo do ítem II da Introdução do Evangelho Segundo o Espiritismo (ESE), e na parte final do ítem XXVIII do cap. XXXI do Livro dos Médiuns (LM), que transcrevemos abaixo:

“Uma só garantia séria existe para o ensino dos Espíritos: a concordância que haja entre as revelações que eles façam espontaneamente, servindo-se de grande número de médiuns estranhos uns aos outros.” (definição contida no ESE).

“A melhor garantia de que um princípio é a expressão da verdade se encontra em ser ensinado e revelado por diferentes Espíritos, com o concurso de médiuns diversos, desconhecidos uns dos outros e em lugares vários, e em ser, ao demais, confirmado pela razão e sancionado pela adesão do maior número.” (definição contida no LM).

Se o prezado médium Divaldo Franco tivesse seguido tal critério, talvez não tivesse incorrido em análises tão precipitadas. O argumento que o mesmo se utiliza, na sua palestra em questão, colocando-o na boca de Kardec, é que Ramatis pode ser aceito porque "o que importa é o conteúdo moral". O critério kardeciano jamais foi só esse. Confiram:

"Aplicando esses princípios de ecletismo às comunicações que nos enviaram, diremos que em 3.600 há mais de 3.000 que são de uma moralidade irreprochável, e excelentes como fundo; mas que desse número não há 300 para publicidade, e apenas 100 de um mérito inconteste. Essas comunicações vieram de muitos pontos diferentes". (Allan Kardec, Revista Espírita, 1863, maio.)

Podemos ver que, dentre 3000 mensagens de uma moral irreprochável, Kardec só aceitou 100 como dignas de publicidade e publicação.

Para finalizar, disponibilizamos uma lista de estudiosos espíritas que se colocaram contrários ao conteúdo dos ditados do espírito Ramatis após terem analisado detidamente seus livros confrontando-os com os da Doutrina Espírita:

1) Herculano Pires - jornalista, filósofo, educador e escritor espírita brasileiro, com várias obras publicadas;

2) Deolindo Amorim - jornalista, escritor e conferencista espírita brasileiro. Colaborou no Jornal do Commercio e em praticamente toda a imprensa espírita do país;

3) Carlos Imbassahy - advogado, jornalista, escritor e espírita brasileiro;

4) Ary Lex - médico, escritor e dirigente da FEESP por muitos anos;

5) Celso Martins - jornalista, professor de Biologia e Física, palestrante e escritor espírita com mais de 30 obras publicadas;

6) Sérgio Aleixo - professor de Português e Literatura, expositor e escritor, atualmente presidente da Associação de Divulgadores do Espiritismo do Rio de Janeiro (ADE-RJ);

7) Jorge Rizzini - médium e escritor consagrado, tem fama de ter sido o guardião dos conceitos espíritas (http://geocities.ws/meutrabalho2005/#RAMATIS);

8) Américo Domingos Nunes Filho - pediatra, escritor, conferencista e pesquisador espírita brasileiro;

9) Nazareno Tourinho - escritor, articulista e imortal da Academia Paraense de Letras;

10) Iso Jorge - Médico psiquiatra, professor, escritor e articulista espírita;

11) Dulcídio Dibo - Professor universitário, versado em Astronomia, expositor e autor de diversas obras doutrinárias;

12) José Passini - Possui Licenciatura em Letras, Mestrado em Língua Portuguesa e Doutorado em Linguística, é Presidente do Instituto Jesus, obra de amparo ao menor carenciado; presidente da Aliança Municipal Espírita, por duas vezes; presidente do Centro Espírita União, Humildade e Caridade e Membro da equipe do programa Opinião Espírita (Rádio e Televisão) e do Departamento de Evangelização da Criança da Aliança Municipal Espírita de Juiz de Fora;

13) Cirso Santiago - jornalista e editor do Jornal Correio Fraterno do ABC;

14) Gélio Lacerda - Advogado e escritor, ex-presidente da Federação Espírita do Estado do Espírito Santo.

23 dezembro 2009

A Necessidade de se Conhecer o Grau de Elevação dos Espíritos


Algumas pessoas, geralmente aquelas que não se detiveram muito nos textos da Codificação, nos perguntam se não seria falta de caridade questionar se esse ou aquele espírito é bom ou mau, sábio ou pseudo-sábio, confiável ou não-confiável.

Respondemos, sempre que possível, com textos do próprio Codificador em que o mesmo nos incentiva a tal, uma vez que isso é de significativa importância para a análise das mensagens e parte importante do método espírita.

Vejamos os trechos, que são muitos, onde isso fica bem claro e evidenciado:

262. Se a perfeita identificação dos Espíritos é, em muitos casos, uma questão secundária, sem importância, não se dá o mesmo com a distinção entre os Espíritos bons e maus. Sua individualidade pode ser-nos indiferente, mas a sua qualidade jamais. Em todas as comunicações instrutivas é sobre esse ponto que devemos concentrar nossa atenção, pois só ele pode nos dar a medida da confiança que podemos ter no Espírito manifestante, seja qual for o nome com que se apresente. O Espírito que se manifesta é bom ou mau? A que grau da escala espírita pertence? Essa a questão capital. (Ver Escala Espírita no item 100 de O Livro dos Espíritos)

263. Julgamos os Espíritos, já o dissemos, pela linguagem, como julgamos os homens. Suponhamos que um homem receba vinte cartas de pessoas que não conhece. Pelo estilo, pelas ideias, por numerosos indícios julgará quais são as instruídas e quais as ignorantes, educadas ou sem educação, profundas, frívolas, orgulhosas, sérias, levianas, sentimentais etc. Acontece o mesmo com os Espíritos. Devem considerá-los como correspondentes que nunca vimos e perguntar o que pensaríamos da cultura e do carácter de um homem que dissesse ou escrevesse aquelas coisas. Podemos tomar como regra invariável e sem excepção que a linguagem dos Espíritos corresponde sempre ao seu grau de elevação.

Os Espíritos realmente superiores não se limitam apenas a dizer boas coisas, mas as dizem em termos que excluem absolutamente qualquer trivialidade. Por melhores que sejam essas coisas, se forem manchadas por única expressão de baixeza temos um sinal indubitável de inferioridade. E com mais forte razão se o conjunto da comunicação ferir as conveniências por sua grosseria. A linguagem revela sempre a sua origem, seja pelo pensamento ou pela forma. Assim, mesmo que um Espírito quisesse enganar-nos com a sua pretensa superioridade, bastaria conversarmos algum tempo com ele para o julgarmos.

264. A bondade e a afabilidade são também atributos essenciais dos Espíritos depurados. Eles não alimentam ódio nem para com os homens nem para com os demais Espíritos. Lamentam as fraquezas e criticam os erros, mas sempre com moderação, sem amarguras nem animosidades. Se admitirmos que os Espíritos verdadeiramente bons só podem querer o bem e dizer boas coisas, concluiremos que tudo o que, na linguagem dos Espíritos, denote falta de bondade e afabilidade não pode provir de um Espírito bom.

265. A inteligência está longe de ser um sinal seguro de superioridade, porque a inteligência e a moral nem sempre andam juntas. Um Espírito pode ser bom, afável e ter conhecimentos limitados, enquanto um Espírito inteligente e instruído pode ser moralmente bastante inferior. (5)
Geralmente se pensa que interrogando o Espírito de um homem que foi sábio na Terra, em certa especialidade, obtém-se a verdade com mais segurança. Isso é lógico, e não obstante nem sempre é certo. A experiência demonstra que os sábios, tanto quanto os outros homens, sobretudo os que deixaram a Terra há pouco, estão ainda sob o domínio dos preconceitos da vida corpórea, não se livrando imediatamente do espírito de sistema. Pode assim acontecer que, influenciados pelas ideias que alimentaram em vida e que lhes deram a glória, vejam com menos clareza do que supomos. Não damos este princípio como regra. Longe disso. Advertimos apenas que isso acontece e que, por conseguinte, sua sabedoria humana nem sempre é uma garantia de sua infalibilidade como Espíritos.
(5) Atenção para a advertência final de que isso não constitui regra. Certas pessoas entendem que só devemos crer nos Espíritos ignorantes ou que se fazem passar por tal. Isso é ir de um extremo ao outro. Os Espíritos realmente elevados são inteligentes e bons, realizaram ao mesmo tempo a evolução intelectual e moral, como se depreende da própria regra de identificação de sua elevação pela linguagem. (N. do T.)

266. Submetendo-se todas as comunicações a rigoroso exame, sondando e analisando suas ideias e expressões, como se faz ao julgar uma obra literária e rejeitando sem hesitação tudo o que for contrário à lógica e ao bom senso, tudo o que desmente o carácter do Espírito que se pensa estar manifestando, consegue-se desencorajar os Espíritos mistificadores que acabam por se afastar, desde que se convençam de que não podem nos enganar. Repetimos que este é o único meio, mas é infalível porque não existe comunicação má que resista a uma crítica rigorosa.(6) Os Espíritos bons jamais se ofendem, pois eles mesmos nos aconselham a proceder assim e nada têm a temer do exame. Somente os maus se melindram e procuram dissuadir-nos, porque têm tudo a perder. E por essa mesma atitude provam o que são.

Eis o conselho dado por São Luís a respeito:

"Por mais legítima confiança que vos inspirem os Espíritos dirigentes de vossos trabalhos, há uma recomendação que nunca seria demais repetir e que deveis ter sempre em mente ao vos entregardes aos estudos: a de pesar e analisar, submetendo ao mais rigoroso controle da razão todas as comunicações que receberdes; a de não negligenciar, desde que algo vos pareça suspeito, duvidoso ou obscuro, de pedir as explicações necessárias para formar a vossa opinião."

267. Podemos resumir os meios de reconhecer a qualidade dos Espíritos nos seguintes princípios:

1º) Não há outro critério para se discernir o valor dos Espíritos senão o bom senso. Qualquer fórmula dada pelos próprios Espíritos, com esse fim, é absurda e não pode provir de Espíritos superiores.

2º) Julgamos os Espíritos pela sua linguagem e as suas acções. As acções dos Espíritos são os sentimentos que eles inspiram e os conselhos que dão.

3º) Admitido que os Espíritos bons só podem dizer e fazer o bem, tudo o que é mau não pode provir de um Espírito bom.

4º) A linguagem dos Espíritos superiores é sempre digna, elevada, nobre, sem qualquer mistura de trivialidade. Eles dizem tudo com simplicidade e modéstia, nunca se vangloriam, não fazem jamais exibição do seu saber nem de sua posição entre os demais. A linguagem dos Espíritos inferiores ou vulgares é sempre algum reflexo das paixões humanas. Toda expressão que revele baixeza, auto-suficiência, arrogância, fanfarronice, mordacidade é sinal característico de inferioridade. E de mistificação, se o Espírito se apresenta com um nome respeitável e venerado.

5º) Não devemos julgar os Espíritos pelo aspecto formal e a correcção do seu estilo, mas sondar-lhes o íntimo, analisar suas palavras, pesá-las friamente, maduramente e sem prevenção. Toda falta de lógica, de razão e de prudência não pode deixar dúvida quanto à sua origem, qualquer que seja o nome de que o Espírito se enfeite. (Ver nº 224.)

6º) A linguagem dos Espíritos elevados é sempre idêntica, se não quanto à forma, pelo menos quanto à substância. As ideias são as mesmas, sejam quais forem o tempo e o lugar. Podem ser mais ou menos desenvolvidas segundo as circunstâncias, as dificuldades ou a facilidade de se comunicar, mas não serão contraditórias. Se duas comunicações com o mesmo nome se contradizem, uma das duas é evidentemente apócrifa. A verdadeira será aquela em que nada desminta o carácter conhecido do personagem. Entre duas comunicações assinadas, por exemplo, por São Vicente de Paulo, uma pregando a união e a caridade e outra tendendo a semear a discórdia, não há pessoa sensata que possa enganar-se.

7º) Os Espíritos bons só dizem o que sabem, calando-se ou confessando a sua ignorância sobre o que não sabem. Os maus falam de tudo com segurança, sem se importar com a verdade. Toda heresia científica notória, todo princípio que choque o bom senso revela a fraude, se o Espírito se apresenta como esclarecido.

(6) "Não existe comunicação má que resista a uma crítica rigorosa". Esta confiança de Kardec na análise racional das comunicações é acertada, mas depende do critério seguro de quem analisa. Por isso mesmo é conveniente fazer a análise em conjunto e recorrer, no caso de dúvida, a outras pessoas de reconhecido bom senso. O Espírito farsante pode influir sobre um indivíduo e sobre o grupo, o que tem ocorrido com frequência em virtude da vaidade, da pretensão ou do misticismo dominante. Comunicações avulsas e até obras mediúnicas alentadas, evidentemente falsas, têm sido publicadas, aceitas e até mesmo defendidas por grupos e instituições diversas. (N. do T.)

8º) Os Espíritos levianos são ainda reconhecidos pela facilidade com que predizem o futuro e se referem com precisão a fatos materiais que não podemos conhecer. Os Espíritos bons podem fazer-nos pressentir as coisas futuras, quando esse conhecimento for útil, mas jamais precisam as datas. Todo anúncio de acontecimento para uma época certa é indício de mistificação.(7)

9º) Os Espíritos superiores se exprimem de maneira simples, sem prolixidade. Seu estilo é conciso, sem excluir a poesia das ideias e das expressões, claro, inteligível a todos, não exigindo esforço para a compreensão. Eles possuem a arte de dizer muito em poucas palavras, porque cada palavra tem o seu justo emprego. Os Espíritos inferiores ou pseudo-sábios escondem sob frases empoladas o vazio das ideias. Sua linguagem é sempre pretensiosa, ridícula ou ainda obscura, a pretexto de parecer profunda.

10º) Os Espíritos bons jamais dão ordens: não querem impor-se, apenas aconselham e se não forem ouvidos se retiram. Os maus são autoritários, dão ordens, querem ser obedecidos e não se afastam facilmente. Todo Espírito que se impõe trai a sua condição. São exclusivistas e absolutos nas suas opiniões e pretendem possuir o privilégio da verdade. Exigem a crença cega e nunca apelam para a razão, pois sabem que a razão lhes tiraria a máscara.

11º) Os Espíritos bons não fazem lisonjas. Aprovam o bem que se faz, mas sempre de maneira prudente. Os maus exageram nos elogios, excitam o orgulho e a vaidade, embora pregando a humildade, e procuram exaltar a importância pessoal daqueles que desejam conquistar.

12º) Os Espíritos superiores mantêm-se, em todas as coisas, acima das puerilidades formais. Os Espíritos vulgares são os únicos que podem dar importância a detalhes mesquinhos, incompatíveis com as ideias verdadeiramente elevadas. Toda prescrição meticulosa é sinal certo de inferioridade e mistificação de parte de um Espírito que toma um nome pomposo.

13º) Devemos desconfiar dos nomes bizarros e ridículos usados por certos Espíritos que desejam impor-se à credulidade. Seria extremamente absurdo tomar esses nomes a sério.

14º) Devemos igualmente desconfiar dos Espíritos que se apresentam com muita facilidade usando nomes bastante venerados, e só com muita reserva aceitar o que dizem. Nesses casos, sobretudo, é que um controle severo se torna indispensável. Porque é frequentemente a máscara que usam para levar-nos a crer em pretensas relações íntimas com Espíritos excelsos. Dessa maneira eles lisonjeiam a vaidade do médium e se aproveitam dela para o induzirem a actos lamentáveis e ridículos.

15º) Os Espíritos bons são muito escrupulosos no tocante às providências que podem aconselhar. Em todos os casos têm apenas em vista um fim sério e eminentemente útil. Devemos pois encarar como suspeita todas aquelas que não tenham esse caráter ou sejam condenáveis pela razão, refletindo maduramente antes de adoptá-las, pois do contrário nos exporemos a mistificações desagradáveis.

16º) Os Espíritos bons são também reconhecíveis pela sua prudente reserva no tocante às coisas que possam comprometer-nos. Repugna-lhes desvendar o mal. Os Espíritos levianos ou malfazejos gostam de expô-lo. Enquanto os bons procuram abrandar os erros e pregam a indulgência, os maus os exageram e sopram a discórdia por meio de pérfidas insinuações.

(7) As predições apocalípticas, com datas certas, de acontecimentos próximos têm sido feitas por espíritos pseudo-sábios nestes últimos anos. A linguagem dessas previsões seria suficiente para mostrar a falsidade das comunicações. Muitas outras ainda serão feitas, pois há sempre quem as aceite. O estudo atento deste resumo prevenirá as pessoas prudentes contra esses embustes, hoje tão numerosos e que pelo seu ridículo afastam muita gente das luzes da doutrina. (N. do T.)

17º) Os Espíritos bons só ensinam o bem. Toda máxima, todo conselho que não for estritamente conforme à mais pura caridade evangélica não pode provir de Espíritos bons.

18º) Os Espíritos bons só dão conselhos perfeitamente racionais. Toda recomendação que se afaste da linha reta do bom senso ou das leis imutáveis da Natureza acusa a presença de um Espírito estreito e portanto pouco digno de confiança.

19º) Os Espíritos maus ou simplesmente imperfeitos ainda se revelam por sinais materiais que a ninguém poderão enganar. A ação que exercem sobre o médium é às vezes violenta, provocando movimentos bruscos e sacudidos, uma agitação febril e convulsiva que contrasta com a calma e a suavidade dos Espíritos bons.

20º) Os Espíritos imperfeitos aproveitam-se frequentemente dos meios de comunicação de que dispõem para dar maus conselhos. Excitam a desconfiança e a animosidade entre os que lhes são antipáticos. Principalmente as pessoas que podem desmascarar a sua impostura são visadas pela sua maldade.

As criaturas fracas, impressionáveis, tornam-se alvo do seu esforço para levá-las ao mal. Usam sucessivamente os sofismas, os sarcasmos, as injúrias e até as provas materiais do seu poder oculto para melhor convencê-las, empenhando-se em desviá-las do caminho da verdade.

21º) Os Espíritos dos que tiveram, na Terra, uma preocupação exclusiva, material ou moral, se ainda não conseguiram libertar-se da influência da matéria continuam dominados pelas ideias terrenas. Carregam parte dos preconceitos, das predilecções e até mesmo das manias que tiveram aqui. Isso é fácil de se reconhecer pela sua linguagem.

22º) Os conhecimentos de que certos Espíritos muitas vezes se enfeitam, com uma espécie de ostentação, não são nenhum sinal de superioridade. A verdadeira pedra de toque para se verificar essa superioridade é a pureza inalterável dos sentimentos morais.

23º) Não basta interrogar um Espírito para se conhecer a verdade.
Devemos, antes de tudo, saber a quem nos dirigimos. Porque os Espíritos inferiores, pela sua própria ignorância, tratam com leviandade as mais sérias questões. Também não basta que um Espírito tenha sido na Terra um grande homem para possuir no mundo espírita a soberana ciência. Só a virtude pode, purificando-o, aproximá-lo de Deus e ampliar os seus conhecimentos.

24º) Os gracejos dos Espíritos superiores são muitas vezes subtis e picantes, mas nunca banais. Entre os Espíritos zombeteiros, mas que não são grosseiros, a sátira mordaz é feita quase sempre muito a propósito.

25º) Estudando-se com atenção o caráter dos Espíritos que se manifestam, sobretudo sob o aspecto moral, reconhece-se a sua condição e o grau de confiança que devem merecer. O bom senso não se enganará.

26º) Para julgar os Espíritos, como para julgar os homens, é necessário antes saber julgar-se a si mesmo. Há infelizmente gente que toma a sua própria opinião por medida exclusiva do bem e do mal, do verdadeiro e do falso. Tudo o que contradiz a sua maneira de ver, as ideias, o sistema que inventaram ou adoptaram é mau aos seus olhos. Falta a essas criaturas, evidentemente, a primeira condição para a recta apreciação: a rectidão do juízo. Mas elas nem percebem. Esse o defeito que mais enganos produz.(8)
Todas estas instruções decorrem da experiência e do ensino dos Espíritos. Completamo-las com as próprias respostas dadas por eles a respeito dos pontos mais importantes.(9)

(8) A afirmação de Kardec no nº 25: "O bom senso não se enganará" se refere, como vemos, às pessoas dotadas de bom senso. Neste nº 26 ele nos adverte quanto ao perigo das pessoas que não possuem "a retidão do juízo". Por isso devemos recorrer com humildade ao juízo dos outros, não nos fechando orgulhosamente em nossas opiniões. (N. do T.)

(9) O próprio Kardec nos dá o exemplo do que ensina: completa as suas instruções com as respostas textuais dos Espíritos às suas consultas. Este é um exemplo vivo de como foi escrita a Codificação. Às suas experiências pessoais, aos resultados sensatos de suas observações, Kardec junta a opinião esclarecida dos Espíritos superiores. (N. do T.)

268. Perguntas sobre a natureza e a identidade dos Espíritos:

1. Por qual sinais podemos reconhecer a superioridade ou a inferioridade dos Espíritos?

— Pela sua linguagem, como distingues um estouvado de um homem sensato. Já dissemos que os Espíritos superiores nunca se contradizem e só tratam de boas coisas. Só querem o bem. Essa é a sua preocupação.
— Os Espíritos inferiores estão dominados pelas ideias materiais. Suas manifestações se ressentem da sua ignorância e da sua imperfeição. Só aos Espíritos superiores é dado conhecer todas as coisas e julgá-las sem paixão.

2. O conhecimento científico de um Espírito é sempre uma prova da sua elevação?

— Não, porque se ainda estiver sob a influência da matéria pode ter os vossos vícios e preconceitos. Há pessoas que são no vosso mundo excessivamente invejosas e orgulhosas. Pensas que ao deixá-lo perdem esses defeitos? Resta-lhes, depois que partem daí, principalmente as que alimentaram fortes paixões, uma espécie de atmosfera que as envolve e conserva todas essas coisas más.
Esses Espíritos semi-imperfeitos são mais temíveis que os Espíritos maus, porque, na sua maioria, juntam a astúcia e o orgulho à inteligência. Pelo seu pretenso saber eles se impõem às pessoas simples e ignorantes, que aceitam sem exame as suas teorias absurdas e mentirosas. Embora essas teorias não possam prevalecer contra a verdade, não deixam de produzir um mal momentâneo porque entravam a marcha do Espiritismo e porque os médiuns se enganam ingenuamente quanto ao mérito das comunicações que recebem. Este o ponto que requer grande estudo de parte dos espíritas esclarecidos e dos médiuns. Para distinguir o verdadeiro do falso é que devemos convergir toda a nossa atenção.(10)

3. Muitos Espíritos protetores se apresentam com nomes de santos ou de personagens conhecidos. O que devemos pensar disso?

— Todos os nomes de santos e de personagens conhecidos não bastariam para designar o protetor de cada criatura. São poucos os Espíritos de nomes conhecidos na Terra. É por isso que quase sempre não dão os seus nomes. Mas na maioria das vezes quereis um nome. Então, para vos satisfazer eles usam o de um homem que conheceis e que respeitais.

4. Esse empréstimo de nome não pode ser considerado uma fraude?

— Seria fraude se feito por um Espírito mau que desejasse enganar. Mas sendo para o bem, Deus permite que se faça entre os Espíritos da mesma ordem, pois entre eles existe solidariedade e similitude de pensamentos.

(10) Muitos entendem que não devemos importar-nos com as mistificações, pois a verdade acaba prevalecendo. Kardec toca o nó da questão ao advertir que estes embustes "entravam a marcha do Espiritismo" e prejudicam a atividade dos médiuns, perturbando-lhes o discernimento necessário ao cumprimento de suas missões. Grande número de criaturas sofrem a desorientação proveniente das confusões semeadas no campo doutrinário e muitas chegam mesmo a perder oportunidades de uma encarnação ardentemente solicitada na vida espiritual. Dever dos espíritas, portanto, é combater as mistificações e desmascarar os Espíritos embusteiros, assegurando o progresso normal da doutrina que eles se empenham em ridicularizar com suas teorias absurdas. Esse é o bom combate de que falava o apóstolo Paulo, em que os inimigos não são os Espíritos nem as pessoas por eles fascinadas, todos dignos do nosso amor, mas os erros semeados entre as criaturas ingénuas. (N. do T.)

9. Compreendemos que seja assim quando se trata de ensinamento sério. Mas como os Espíritos elevados permitem a Espíritos de baixa classe usarem nomes respeitáveis para semear o erro através de máximas muitas vezes perversas?

— Não é com a sua permissão que o fazem. Isso não acontece também entre vós? Os que assim enganam serão punidos, ficai certos disso, e a punição será proporcional à gravidade da impostura.
Aliás, se não fosseis imperfeitos só teríeis Espíritos bons ao vosso redor. Se sois enganados, não o deveis senão a vós mesmos. Deus o permite para provar a vossa perseverança e o vosso discernimento, para vos ensinar a distinguir a verdade do erro. Se não o fazeis é porque não estais suficientemente elevados e necessitais ainda das lições da experiência.

10. Espíritos pouco adiantados, mas animados de boas intenções e do desejo de progredir não são às vezes incumbidos de substituir um Espírito superior para se exercitarem na prática do ensino?

— Jamais nos Centros importantes. Quero dizer nos Centros sérios e para um ensino de ordem geral.(11) Os que o fazem é por sua própria conta e, como dizem, para se exercitarem. É por isso que as suas comunicações, embora boas, trazem sempre a marca da sua inferioridade. Recebem essa incumbência apenas para as comunicações de segunda importância e para as que podemos chamar de pessoais.

11. As comunicações espíritas ridículas são às vezes entremeadas de boas máximas. Como resolver essa anomalia, que parece indicar a presença simultânea de Espíritos bons e maus?
— Os Espíritos maus ou levianos se metem também a sentenciar, mas sem perceberem bem o alcance ou a significação do que dizem. Todos os que o fazem entre vós são homens superiores? Não, os Espíritos bons e maus não se misturam. É pela constante uniformidade das boas comunicações que reconhecereis a presença dos Espíritos bons.

12. Os Espíritos que induzem ao erro estão sempre conscientes do que fazem?
— Não. Há Espíritos bons, mas ignorantes; podem enganar-se de boa fé. Quando tomam consciência da sua falta de capacidade eles a reconhecem e só dizem o que sabem.

13. Ao dar uma falsa comunicação, o Espírito sempre o faz com má intenção?
— Não. Se for um Espírito leviano apenas se diverte a mistificar, sem outra finalidade.

14. Desde que certos Espíritos podem enganar pela linguagem, podem tomar também uma falsa aparência para os médiuns videntes?
— Isso acontece, mas é mais difícil. Em todos os casos isso somente se dá com uma finalidade que os próprios Espíritos maus desconhecem, pois servem de instrumentos para uma lição. O médium vidente pode ver os Espíritos levianos e mentirosos como os outros médiuns podem ouvi-los ou escrever sob sua influência. Os Espíritos levianos podem aproveitar-se da faculdade do médium para o enganar com uma falsa aparência. Isso depende das qualidades do próprio Espírito do médium.(12)

15. É suficiente a boa intenção para não ser enganado, e nesse caso os homens realmente sérios, que não mesclam de curiosidade leviana os seus estudos, também estariam expostos à mistificação?
— Menos do que os outros, evidentemente. Mas o homem tem sempre algumas esquisitices que atraem os Espíritos zombeteiros. Julga-se forte e quase nunca o é. Deve desconfiar, por isso mesmo, da fraqueza proveniente do orgulho e dos preconceitos. Não se levam muito em conta essas duas causas de que os Espíritos se aproveitam, pois agradando-lhes as manias estão seguros de conseguir o que desejam.(13)

16. Porque Deus permite que os Espíritos maus se comuniquem e digam coisas más?
— Mesmo o que há de pior traz um ensinamento. Cabe a vós saber tirá-lo. É necessário que haja comunicações de toda espécie para vos ensinar a distinguir os Espíritos bons dos maus e para que vos sirvam de espelho.

17. Os Espíritos podem sugerir desconfianças injustas contra certas pessoas, por meio de comunicações escritas, e separar amigos?

— Os Espíritos perversos e invejosos podem praticar os males que os homens praticam. Eis porque precisamos estar sempre em guarda. Os Espíritos superiores são sempre prudentes e reservados quando censuram: nada dizem de mal, advertem com jeito. Se quiserem que duas pessoas, no próprio interesse delas, deixem de ver-se, provocarão incidentes que as separem de maneira natural. Uma linguagem que semeia discórdia e desconfiança provém sempre de um Espírito mau, seja qual for o nome de que se sirva. Assim, recebei sempre com reservas o que um Espírito disser de mal contra outro, sobretudo quando um Espírito bom já vos disse o contrário, e desconfiai também de vós mesmos, das vossas próprias aversões. Das comunicações espíritas aceitai somente o que for bom, grande, belo, racional e o que a vossa consciência aprove.

(11) "Les grands centres", como está no original, ou os Centros importantes, como diríamos em português, são as instituições responsáveis, pouco importando o seu tamanho ou número de adeptos. Para se compreender a razão dessa espécie de privilégio (ao menos aparente) confronte-se este item com os de nº 19 e 20. A justiça espírita é aplicada segundo os méritos reais de pessoas e instituições, visando sempre ao bem geral. (N. do T.)

(12) Passa-se exatamente como entre os encarnados: o trapaceiro só consegue êxito com as pessoas que lhe dão ouvidos. Daí o ensino evangélico de vigiar e orar. Na mediunidade esse ensino se aplica como verdadeira lei. O médium que não vigiar a si mesmo e não souber manter-se em oração está sujeito a todos os enganos. Mas cada engano será para ele uma lição, como é para os homens enganados por outros. (N. do T.)

(13) Todos temos as nossas manias e as nossas pretensões. Os Espíritos zombeteiros ou mistificadores, por simples diversão ou maldade se aproveitam delas, dizendo coisas que estão de acordo com essas fraquezas do nosso carácter. Com isso nos agradam e nos dominam. (N. do T.)

18. Pela facilidade com que os Espíritos maus se infiltram nas comunicações, parece que nunca se pode estar certo da verdade?
— Sim, podeis, desde que tendes a razão para os julgar. Ao ler uma carta sabeis reconhecer muito bem se foi um grosseirão ou um homem educado, um tolo ou um sábio que a escreveu. Se recebeis uma carta de um amigo distante, o que vos prova que é dele? A letra, direis. Mas não há farsantes que imitam todas as letras e tratantes que podem conhecer os vossos negócios? Não obstante, há indícios que não vos permitem enganar. O mesmo se dá com os Espíritos. Imaginai que é um amigo que vos escreve ou que se trata da obra de um escritor. E julgai da mesma maneira.

19. Os Espíritos superiores poderiam impedir os maus de tomarem nomes falsos?
— Certamente que o podem. Mas, quanto piores são os Espíritos, mais teimosos são e frequentemente resistem às injunções. Convém saber que há pessoas pelas quais os Espíritos superiores se interessam mais do que por outras, e quando julgam necessário sabem preservá-las da mentira. Contra essas pessoas os mistificadores são impotentes.

20. Qual a razão dessa parcialidade?

— Isso não é parcialidade, é justiça. Os Espíritos bons se interessam pelos que aproveitam os seus conselhos e se esforçam seriamente para melhorarem. São esses os seus preferidos e os ajudam, mas pouco se importam com aqueles que os fazem perder o seu tempo em belas palavras.

21. Porque Deus permite aos Espíritos o sacrilégio de usarem falsamente nomes veneráveis?

— Poderíeis perguntar também porque Deus permite aos homens mentir e blasfemar. Os Espíritos, como os homens, têm o seu livre-arbítrio para o bem e para o mal, mas nem uns nem outros escaparão à justiça de Deus.

22. Há fórmulas eficazes para expulsar Espíritos mentirosos?
— Fórmula é matéria. Vale mais um bom pensamento dirigido a Deus.

23. Certos Espíritos disseram possuir sinais gráficos inimitáveis, espécies de selos pelos quais se pode reconhecer e constatar a sua identidade. Isso é verdade?

— Os Espíritos superiores só possuem como sinais de sua identidade a elevação de suas ideias e de sua linguagem. Qualquer Espírito pode imitar um sinal material. Quanto aos Espíritos inferiores, traem-se de tantas maneiras que só um cego se deixa enganar por eles.

24. Os Espíritos inferiores não podem imitar também o pensamento?

— Imitam o pensamento como os cenários do teatro imitam a Natureza.

25. Seria assim tão fácil descobrir a fraude por um exame atento?

— Nem há dúvida. Os Espíritos só enganam os que se deixam enganar. Mas é preciso ter olhos de joalheiro para distinguir a pedra verdadeira da falsa, e quem não sabe distingui-la procura um lapidário.

26. Há pessoas que se deixam seduzir por uma linguagem enfática, que se contentam mais com palavras do que com ideias, que chegam mesmo a tomar ideias falsas e vulgares por sublimes. Como essas pessoas, inaptas para julgar os homens, podem julgar os Espíritos?

— Quando são bastante modestas para reconhecer a sua insuficiência não se fiam em si mesmas. Quando, por orgulho, se julgam mais capazes do que são, pagam pela sua tola vaidade. Os Espíritos mistificadores sabem a quem se dirigem. Há pessoas simples e pouco instruídas que são mais difíceis de enganar do que as espertas e sabidas. Agradando o amor-próprio eles fazem dos homens o que querem.(14)

(14) A vaidade anula a inteligência e a instrução. A humildade supre através da vaidade que os mistificadores dominam os mais inteligentes e instruídos. Podemos ver isso ao nosso redor, e nos espantamos de que certas pessoas se deixem levar por mistificações evidentes. Os itens 25 e 26 esclarecem bem esse problema. Devemos meditar sobre esses itens. (N. do T.)

Referência: "O Livro dos Médiuns"

19 dezembro 2009

Emmanuel referenda Ramatis?

Emmanuel teria emitido opiniões contraditórias em suas mensagens
Tempos atrás tomamos conhecimento de um texto onde o espírito Emmanuel teria referendado os ditados ramatisianos. Já vínhamos verificando que, em praticamente todo assunto, a opinião do espírito Emmanuel vinha sendo indevidamente usada por boa parte de pessoas que se dizem espíritas para referendar determinada posição doutrinária, ou mesmo de cunho filosófico, científico e religioso. Porém, o que temos percebido ao longo do tempo é que a citada entidade espiritual, que só se comunicou através do médium Chico Xavier, teria adotado posicionamentos antagônicos e contraditórios, o que é, convenhamos, algo bastante estranho e digno de suspeição, o que fez com que viéssemos a pesquisar mais a fundo a questão.

Antes de listarmos essas posturas estranhas e suas fontes e origens, é bom que se cite a possibilidade de algum arranjo para "encaixar" Emmanuel ao lado de certos grupos, com o intuito de dar autoridade a certas opiniões. Embora eu particularmente tenha minhas dúvidas sobre isso, o que se sabe bem até hoje é que a Federação Espírita Brasileira (FEB) sempre teve a "preocupação" de destruir os originais das mensagens psicografadas, sendo que Chico Xavier anuía com o fato, dentro de sua postura altamente passiva e subserviente, principalmente em relação aos dirigentes febeanos, que eram tratados como indivíduos praticamente perfeitos e acima de quaisquer suspeitas pelo citado médium. Tal realidade pode ser facilmente verificada e constatada através da leitura do livro "Testemunhos de Chico Xavier" (1986), de autoria de Suely Caldas Schubert e editado pela própria FEB.

Assim sendo, não seria de admirar que tenha havido dois ou mais "Emmanuéis", adredemente usados para declararem o que os dirigentes febeanos quisessem, assim como toda sorte de místicos que se aproximavam de Chico Xavier à busca de um "OK" daquele médium, erroneamente elevado à categoria de autoridade doutrinária, a despeito de sua inegável competência mediúnica e honestidade moral.

Emmanuel e Roustaing

A mais evidente aliança feita pelo espírito Emmanuel foi com o roustainguismo, isso é inegável. Tudo começou com o prefácio feito à obra "Vida de Jesus", do autor declaradamente rustenista Antônio Lima, em que da primeira à última página, o autor defende os princípios rustenistas, como o corpo fluídico de Jesus e a queda angélica, entre outros disparates que colidem frontalmente com a Doutrina Espírita. Emmanuel chega a afirmar que o entendimento das questões abordadas no livro exigem uma espécie de entendimento superior, que ainda não está ao alcance de todos. Defendendo a diversidade no meio doutrinário, Emmanuel chega a declarar que “Cada qual, à maneira de Antônio Lima, poderá trazer o fruto de suas meditações e de seus estudos para a grande oficina da Fé”.

Mais tarde, Emmanuel reafirma suas convicções rustenistas, prefaciando, desta feita, a obra "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", uma obra que também, do inicio ao fim, faz propaganda ao rustenismo, mesmo de uma maneira velada e imperceptível a quem não conhece as idéias contidas em "Os Quatro Evangelhos", de J.B. Roustaing. O livro chega a citar Roustaing como coadjutor de Kardec, ao lado de León Dennis e Gabriel Delanne, além de fazer referência ao "anjo Ismael" como espírito guia do Brasil - lembrando que o chamado anjo Ismael sempre estimulou e defendeu o roustainguismo. Além disso, o livro contém capítulos de propaganda febeana, em que exalta a condição daquela instituição como entidade máxima e legítima do Movimento Espírita Brasileiro. E, pasmém os amigos, a obra também cita uma comunicação nitidamente apócrifa e mistificatória atribuída a Kardec-espírito, em que o Codificador exalta a FEB, o anjo Ismael e, consequentemente, o rustenismo, ao adotar também um linguajar místico-religioso. Trancreveremos aqui mais adiante para que os amigos identifiquem os absurdos, principalmente os que ainda não conhecem bem a questão.

Emmanuel e Pietro Ubaldi

O espírito Emmanuel, pela pena de F. C. Xavier, teria feito alguns comentários sobre a obra de Pietro Ubaldi:

- "Quando todos os valores da civilização ocidental desfalecem numa decadência dolorosa, é justo que saudemos uma luz como esta, que se desprende da grande voz silenciosa da 'Grande Síntese'."

- "A "Grande Síntese" é o Evangelho da Ciência, renovando todas as capacidades da religião e da filosofia, reunindo-as à revelação espiritual e restaurando o messianismo do Cristo em todos os institutos da evolução terrestre."

- "Enquanto o mundo velho se prepara para as grandes provações coletivas, sugere que meditemos sobre o campo infinito da Providência Divina, que enaltece a glória sublime e imperecível do Espírito imortal."

Vimos aí o apoio de Emmanuel à obra de Ubaldi, o que até se justifica pela similitude entre os princípios rustenistas e ubaldistas em certos pontos importantes, como o da queda angélica, por exemplo, que afronta um princípio básico e elementar da Doutrina Espírita, que é o da não-retrogradação.

Emmanuel, Herculano e Ubaldi

E dentro desta mesma tendência de apoiar tudo e todos, Emmanuel afirma ser Herculano Pires "o metro que melhor mediu Kardec". Mesmo reconhecendo que o espírito foi justo na sua consideração desta feita, mais uma vez vemos o pensamento contraditório de Emmanuel, já que Herculano foi um defensor da coerência doutrinária, e sempre alertou quanto aos perigos do Rustenismo, do Ubaldismo e do Ramatisismo.

Em relação a Pietro Ubaldi, Herculano responde a mensagem que Pietro Ubaldi enviou ao VI Congresso Espírita Pan-Americano, realizado no mês de outubro de 1963, em Buenos Aires, e que causou estranheza nos meios doutrinários. Depois de discorrer sobre a estagnação das religiões, o autor de "A Grande Síntese" chega às seguintes conclusões:

1 - "O Espiritismo estacionou na teoria da reencarnação e na prática mediúnica;
2 - Não possuindo “um sistema conceptual completo”, não pode ele ser levado a sério pela cultura atual;
3 - A filosofia espírita é limitada, não oferece uma visão completa do Todo e “não abrange todos os momentos da lei de Deus;
4 – O Espiritismo não construiu uma “teologia espírito-científica, que explique o que a católica não explica”;
5 - O Espiritismo “corre o perigo de ficar parado no nível Allan Kardec, como o catolicismo ficou no nível São Tomás e o protestantismo no nível Bíblia”.Diante dessa situação, propõe Ubaldi a adoção, pelo Espiritismo, dos livros de sua autoria, abrangendo a “série italiana” e a “série brasileira”.E explica: “Trata-se de um produto realizado de uma forma que permite que ele caiba dentro do Espiritismo, porque atingido por inspiração, que é por ele julgada a mais alta forma de mediunidade, aquela consciente, controlada pela razão”.

E logo mais afirma:

“Só assim o Espiritismo poderá avançar paralelo à ciência e exigir atenção de parte dos materialistas, porque usa a forma mental e os métodos racionais dele. Só assim o Espiritismo poderá sair do trilho dos costumeiros conceitos que se repetem nas sessões mediúnicas e colocar-se no nível do mais adiantado pensamento moderno, penetrando no terreno da filosofia e da ciência e situando-se na sua altura”.

Ao que Herculano responde:

"A redação e a tradução dessa mensagem de Ubaldi, como se vê, por estes pequenos trechos, estão muito abaixo do texto de suas obras mais inspiradas, que pertencem à “série italiana”. Por outro lado, verifica-se que faltou a Ubaldi a percepção necessária para captar o processo espírita em suas verdadeiras dimensões. O admirável médium de A Grande Síntese revela absoluta falta de acuidade e de compreensão da realidade espírita no mundo de hoje, onde o Espiritismo vem cumprindo serenamente a sua finalidade. A sua crítica ao Espiritismo, resumida nos cinco pontos acima, coincide com a dos adeptos menos instruídos na doutrina, e pode ser respondida, ponto por ponto, por qualquer adepto de inteligência e cultura medianas, que conheça a Doutrina Espírita. Por outro lado, o oferecimento de suas obras ao Espiritismo revela desconhecimento da natureza da nossa doutrina e das exigências metodológicas para a aceitação da proposta, que não cobre essas exigências. Ubaldi desenvolveu suas faculdades mediúnicas à margem do Espiritismo. Seu primeiro livro, A Grande Síntese, apresenta curioso paralelismo com o Espiritismo, o que lhe valeu a simpatia e a amizade dos espíritas brasileiros. Na Itália ou no Brasil, porém, Ubaldi recusou-se sempre a integrar-se no movimento espírita, filiando-se na península à corrente da Ultrafânia, do prof. Trespioli, que pretende haver superado a concepção espírita.
Em seu livro 'As Noúres', Ubaldi nos oferece a concepção ultrafâníca da mediunidade, na qual enquadra o seu caso pessoal. É uma pretensiosa concepção de mediunidade cósmica, fugindo à naturalidade e simplicidade das comunicações espirituais entre espíritos desencarnados e médiuns. As pretensões de Ubaldi o transformaram, de simples médium em autor messiânico, agora arvorado em reformador do Espiritismo.Respondemos aos itens da sua crítica da seguinte maneira:

1 - O Espiritismo é uma doutrina evolucionista, como o provam as suas obras fundamentais e o seu imenso desenvolvimento em apenas cem anos de existência;
2 - O sistema conceptual espírita é completo e sua síntese está em O Livro dos Espíritos;
3 - A filosofia espírita não pode abranger o Todo e muito menos “todos os momentos da lei de Deus”, porque isso não está ao alcance de nenhuma elaboração mental, no plano relativo da vida terrena;
4 - A teologia espírita é limitada às possibilidades atuais do conhecimento de Deus, segundo ensina Allan Kardec, e essas possibilidades não admitem ainda a criação na Terra de uma teologia científica, nem dentro nem fora do Espiritismo;
5 - O “nível Allan Kardec” não é o do Espiritismo, mas sim o “nível Espírito da Verdade”, de quem Kardec, segundo dizia, foi um “simples secretário”. Encontrando-se, pois, nesse plano de revelação constante e progressiva, que é o da manifestação do Espírito da Verdade, segundo o próprio Kardec adverte, o Espiritismo está livre dos perigos da estagnação dogmática. Se, pelo contrário, adotasse as obras de Ubaldi para completá-lo, o Espiritismo cairia imediatamente no dogmatismo. Para cumprir sua missão, em todos os campos da atividade humana, o Espiritismo tem de manter-se como Ciência do Espírito (que investiga o elemento inteligente do Universo, paralelamente com a Ciência da Matéria, que investiga o elemento material); como Filosofia Livre, “sem os prejuízos do espírito de sistema”, segundo a expressão feliz de Kardec; e como Religião em Espírito e Verdade, de acordo com o anúncio do Cristo à Mulher Samaritana."

Emmanuel e Ramatis

Embora Ramatis discorde de Roustaing na questão do corpo fluídico, possua teoria própria em relação à queda angélica, defenda Jesus como um espírito e o Cristo como outro, afirme, ao contrário de Emmanuel, que Jesus tenha estado e aprendido com os essênios, e defenda uma mescla com as religiões orientais, ao contrário da tese cristocêntrica apoiada pela FEB, anjo Ismael, Roustaing e Emmanuel, este último, seguindo um posicionamento deveras contraditório, comenta sobre o posicionamento de Ramatis em relação aos fim dos tempos catastrófico e quejandos.

Leiamos o relato ramatisista:

"Logo que apareceram as primeiras publicações da "Conexão de Profecias" (hoje com o título Mensagens do Astral), de Ramatis, fomos a Pedro Leopoldo, a fim de ouvir a palavra autorizada de Emmanuel, através daquele aparelho maravilhoso que é Francisco Cândido Xavier. Isto, porque o que era dito pelo espirito de Ramatis, parecia-nos perfeitamente lógico. Mas, como constituía novidade, não queríamos aceitar de pronto algo que não passasse pelo crivo de várias manifestações mediúnicas, através de diversos aparelhos.Desta forma, munidos do aparelho de gravação em fita, fomos atendidos gentilmente pelo médium, que respondeu às perguntas que fazíamos, repetindo as palavras da resposta, que eram ditadas por Emmanuel. A gravação foi feita no dia 5 de janeiro de 1954. Conservamos até hoje o rolo gravado em nosso poder. Passamos a estampar as perguntas e respectivas respostas:

Pergunta: - "Que pode o irmão dizer-nos a respeito do astro que se avizinha, segundo a predição de Ramatis?"

Chico Xavier: - "Afirma nosso Orientador espiritual que não podemos esquecer que a Terra, em sua constituição física, propriamente considerada, possui os seus grandes períodos de atividade e de repouso. Cada período de atividade e cada período de repouso da matéria planetária, que hoje representa o alicerce de nossa morada temporária, pode ser calculado, cada um, em duzentos e sessenta mil (260.000) anos. Atravessando o período de repouso da matéria terrestre, a vida se reorganiza, enxameando de novo, nos vários departamentos do Planeta, representando, assim, novos caminhos para a evolução das almas.Assim sendo, os grandes instrutores da Humanidade, nos planos superiores, consideram que, desses 260.000 anos de atividade, 60 a 64 mil anos são empregados na reorganização dos pródomos da vida organizada. Logo em seguida, surge o desenvolvimento das grandes raças que, como grandes quadros, enfeixam assuntos e serviços, que dizem respeito à evolução do espírito domiciliado na Terra. Assim, depois desses 60 a 64 mil anos de reorganização de nossa Casa Planetária, temos sempre grandes transformações, de 28 em 28 mil anos. Depois do período dos 64 mil anos, tivemos duas raças na Terra, cujos traços se perderam, por causa de seu primitivismo. Logo em seguida, podemos considerar a grande raça Lemuriana, como portadora de urna inteligência algo mais avançada, detentora de valores mais altos, nos domínios do espírito. Após a raça Lemuriana - em seguida aos 28.000 anos de trabalho lemuriano propriamente considerado - chegamos ao grande período da raça Atlântida, era outros 28.000 anos de grandes trabalhos, no qual a inteligência do mundo se elevou de maneira considerável.

Achamo-nos, agora, nos últimos períodos da grande raça Ariana. Podemos considerar essas raças, como grandes ciclos de serviços, em que somos chamados de mil modos diferentes, em cada ano de nossa permanência na crosta do planeta, ou fora dela, ao aperfeiçoamento espiritual, que é o objetivo de nossas lutas, de nossos problemas, de nossas grandes questões, na esfera de relações, uns para com os outros. Assim considerando, será mais significativo e mais acertado, para nós, venhamos a estudar a transformação atual da Terra sob um ponto de vida moral, para que o serviço espiritual, confiado às nossas mãos e aos nossos esforços, não se perca em considerações, que podem sofrer grandes alterações, grandes desvios; porque o serviço interpretativo da filosofia e da ciência está invariavelmente subordinado ao Pensamento Divino, cuja grandeza não podemos perscrutar. (Neste ponto, ele sutilmente discorda de Ramatis.)

Cabe-nos, então, sentir, e, mais ainda, reconhecer, que os fenômenos da vida moderna e as modificações que nosso "habitat" terreal vem apresentando nos indicam a vizinhança de atividades renovadoras, de considerável extensão. Daí esse afluxo de revelações da vida extra-terrestre, incluindo sobre as cogitações dos homens; esses apelos reiterados, do mundo dos espíritos; essa manifestação ostensiva, daqueles que, supostamente mortos na Terra, são vivos na eternidade, companheiros dos homens em outras faixas vibratórias do campo em que a humanidade evolui. Toda essa eclosão de notícias, de mensagens, de avisos da vida espiritual, devem significar para o homem, domiciliado na Terra do presente século, a urgência do aproveitamento das lições de JESUS. Elas devera ser apreciadas em si mesmas, e examinadas igualmente no exemplo e no ensinamento de todos aqueles que, em variados setores culturais, políticos e filosóficos do globo - lhe traduzem a vontade divina, que na essência é sempre a nossa jornada para o Supremo Bem.

Elogios rasgados e críticas veladas...


"Os termos da comunicação obtida em Curitiba (a "Conexão de Profecias", de Ramatis) são de admirável conteúdo para a nossa inteligência, de vez que, realmente, todos os fatos alusivos à evolução da Terra, e referentes a todos os eventos, que se relacionam com a nossa peregrinação para a vida mais alta, estão naturalmente planificados, por aqueles ministros de Nosso Senhor Jesus Cristo; os quais, de acordo com Ele, estabelecem programas de ação para a coletividade planetária, de modo a facilitar-lhe os vôos para a divina ascensão. Embora, porém, esta mensagem, por isso mesmo, seja digna de nosso melhor apreço, contudo, na experiência de companheiro mais velho, recomenda-nos nosso Orientador Espiritual (Emmanuel) um interesse mais efetivo, para a fixação de valores morais em nossa personalidade terrena, de conformidade com os padrões estabelecidos no Evangelho de nosso Divino Mestre. Porque, para nossa inteligência, os fenômenos renovadores da existência que nos cercam têm qualquer coisa de sensacional, de surpreendente, nosso coração de inclinar-se, humilde, diante da Majestade do Senhor, que nos concede tantas oportunidades de trabalho, em nós mesmos, a revelação dos grandes acontecimentos porvindouros; novo soerguimento íntimo, novo modo de ser, a fim de que estejamos realmente habilitados a enfrentar valorosamente as lutas que se avizinham de nós, e preparados para desfrutar a Nova Era que, qual bonança depois da tempestade, facilitará nossos círculos evolutivos. Será, todavia, muito importante encarecer, que não devemos reclamar, do terceiro milênio, uma transformação absolutamente radical, nos processos que caracterizam, por enquanto, a nossa vida terrestre. O prazo de 47 anos é diminuto, para sanar os desequilíbrios morais, de tantos séculos, em que o nosso campo coletivo e individual adquiriu tantos débitos, diante da sabedoria e diante do amor, que incessantemente apelam para nossa alma, no sentido de nos levantarmos, para uma clima mais aprimorado da existência."

Vimos, logo acima, uma flagrante discordância.

Chico Xavier/Emmanuel prosseguem:

"Não podemos esquecer, que grandes imensidades territoriais, na América, na África e na Ásia, nos desafiam a capacidade de trabalho. Não podemos olvidar, também, que a Europa, superalfabetizada, se encontra num Karma de débitos clamorosos, à frente da Lei, em doloroso expectação, para o reajuste moral, que Ihe é necessário.Aqui mesmo, no Brasil, numa nação com capacidade de asilar novecentos (900) milhões de habitantes, em quatrocentos e alguns anos de evolução, mal estamos -os espíritos, encarnados na Terra em que temos a bênção de aprender ou recapitular a lição do Evangelho - mal estamos passando das faixas litorâneas. Serviços imensos esperam por nossas almas no futuro próximo. E, se é verdade que devemos aguardar, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, condições mais favoráveis para a estabilização da saúde humana, para o acesso mais fácil às fontes da ciência; se nos compete a obrigação de esperar o melhor para o dia de amanhã cabe-nos, igualmente, o dever de não olvidar que, junto desses direitos, responsabilidades constringentes contam conosco, para que o Mundo possa, efetivamente, atender ao programa Divino, através, não somente da superestrutura do pensamento científico - que é hoje um teto brilhante para os serviços de inteligência do mundo - mas também, através de nossos corações, chamados a plasmar uma vida, que seja realmente digna de ser vivida por aqueles que nos sucederão nos tempos duros; entre os quais, naturalmente, milhões de nós os reencarnados de agora, formaremos, de novo, como trabalhadores que voltam para o prosseguimento da tarefa de auto acrisolamento, para a ascensão sublime, que o Senhor nos reserva.

Mais discordâncias, porém com elogios...

Pergunta: - "Foi, de fato, há 37.000 anos que submergiu a Atlântida?" (Ramatis afirma isso)

Chico Xavier: - "Diz nosso Amigo (Emmanuel) que o cálculo é, aproximadamente, certo, considerando-se que as últimas ilhas, que guardavam os remanescentes da civilização atlântida, submergiram, mais ou menos, 9 a 10 mil anos, antes da Grécia de Sócrates."

Pergunta: - Poderíamos ter alguns informes a respeito de Antúlio? (Para Ramatis, Antúlio foi uma das encarnações de Jesus)

Chico Xavier: - "Vejo, aqui, nosso diretor espiritual, Emmanuel, que nos diz que um estudo acerca da personalidade de Antúlio exigiria minudências relacionadas com a história, no espaço e no tempo, que, de imediato, não podemos realizar. De modo que, tão somente, pode afiançar-nos que se trata de uma entidade de elevada hierarquia, no plano espiritual; vamos dizer, um assessor, ou um daqueles assessores, que servem nos trabalhos de execução do plano divino, confiado ao Nosso Senhor Jesus Cristo, para a realização do progresso da Terra, em geral. Esclarece nosso amigo que Jesus Cristo, como governador de nosso mundo, no sistema solar, conta, naturalmente, com grandes instrutores, para a evolução física e para a evolução espiritual, na organização planetária. E, subordinados a esses ministros, para o progresso da matéria e do espirito, no plano que nós habitamos presentemente, conta Ele com uma assembléia de múltiplos instrutores, de variadas condições, que lhe obedecem as ordens e instruções, numa esfera, cuja elevação, de momento, escapa à nossa possibilidade de apreciação. Antúlio forma no quadro destes elevados servidores." (Visão cristocêntrica de Emmanuel x visão descentralizada de Ramatis)

Quem consegue entender?

Pergunta: - "Acha nosso irmão que a Mensagem de Ramatis deva ser divulgada com amplitude?"

Chico Xavier: - "Diz nosso Orientador que a Mensagem é de elevado teor... E todo trabalho organizado com o respeito, com o carinho e com a dignidade, dentro dos quais essa Mensagem se apresenta, merece a nossa mais ampla consideração, de vez que todos nós, em todos os setores, somos estudiosos, que devemos permutar as nossas experiências e as nossas conclusões para a assimilação do progresso, com mais facilidade em favor de nós mesmos."

Dentro dessa salada doutrinária de Emmanuel, temos elogios e considerações favoráveis a todos. Teses e idéias das mais antagônicas são apoiadas por Emmanuel, desde o orientalismo catastrofista de Ramatis até o religiosismo católico impregnado em Roustaing.

E a pergunta é: De que lado está/esteve Emmanuel?

ADENDOS

Conforme prometido, vamos analisar o que o Kardec-espírito da FEB teria ditado em sua mensagem através do médium rustenista Frederico Júnior e espertamente publicada no livreto "A Prece", como para referendar a "missão" do anjo Ismael, a da FEB como "casa-máter", a do Brasil como "coração do mundo, pátria do Evangelho" e do roustainguismo.

"Sendo assim, a esse pedaço de terra, a que chamais Brasil, foi dada também a Revelação da Revelação...", pág. 13

Nosso comentário: Revelação da Revelação é sub-título de "os Quatro Evangelhos".

"Ismael, o vosso guia, tomando a responsabilidade de vos conduzir ao grande templo do amor e da fraternidade humana, levantou a sua bandeira, tendo inscrito nela - Deus, Cristo e Caridade. Forte pela dedicação, animado pela misericórdia de Deus. que nunca falta aos trabalhadores, sua voz santa e evangélica ecoou em todos os corações, procurando atraí-los para um único agrupamento onde, unidos..., onde enlaçados num único sentimento - o do amor - pudessem adorar o Pai em Espírito e Verdade..."

Nosso comentário: A expressão "em espírito e verdade" é exaustivamente repetida nos livros de Roustaing, e na mensagem a puseram na boca de Kardec...

Mais referências do Kardec-espírito da FEB enaltecendo o anjo Ismael:

"...todos os espíritas tinham o dever sagrado de vir aqui se agruparem - ouvir a palavra sagrada do bom Guia Ismael - único que dirige a propaganda da Doutrina nesta parte do planeta e único que tem a responsabilidade de sua marcha e desenvolvimento." (págs. 14/15)

O pseudo-Kardec da FEB renuncia á sua condição de Codificador do Espiritismo ao declarar que a Doutrina Espírita está contida nos "Os Quatro Evangelhos" de Roustaing - A Revelação da Revelação:

"...tudo converge para a Doutrina Espírita - Revelação da Revelação". (pág. 16)

O "templo" de Ismael é exaltado:

"Disciplinai-vos pelos bons costumes no Templo de Ismael..." (pág. 19)

Como se vê, num centro doutrinariamente roustainguista, a mensagem atribuída a Kardec não poderia ser de outra forma. Os espíritos, adeptos do Docetismo (que pregava o corpo aparente de Jesus), ressuscitado por Roustaing, a cuja falange pertence Ismael, forjaram um Kardec para atestar a suposta missão do "anjo" Ismael e a importância da "Revelação da Revelação". Um Kardec irreconhecível, que sai em defesa desesperada de Ismael e diz:

"Assim, quando os inimigos da Luz - quando o espírito da trevas julgava esfacelada a bandeira de Ismael, símbolo da Trindade Divina..." (pág. 14)

Vemos dois erros graves: a expressão "espírito das trevas", que Kardec jamais usou, por ser errada e inadequada (ver pergunta 361-A de O LE), e a defesa da trindade divina, inaceitável para o Espiritismo.

O Kardec da FEB é místico

Vejam só:

"Se fora possível, a todos os que estremecem diante desses quadros horrorosos, praticar o jejum de que falava Jesus aos seus apóstolos; se fora possível a cada um compreender o papel do verdadeiro sacerdote, de que se acha incumbido, quando procura repartir a hóstia sagrada, no altar de Jesus, com seus irmãos na Terra." (p.250)

O pseudo-Kardec da FEB enaltece a caridade sem discernimento:

"A caridade que exclui a razão, a prudência e o bom-senso - a verdadeira caridade - é instintiva!" (p.29)

E se contradiz mais adiante:

"Assim pois, o bem deve ser feito indistintamente, seja qual for o terreno em que houvermos de praticar. Mas, nem o próprio bem pode excluir a nossa razão, quando, tratando-se da justiça de Deus, pretendemos contrariá-la." (p.36)

Mais alguns detalhes

Emmanuel: "O Consolador", perg. 243, 277, 283 e 287, afirma, em defesa da evolução de Jesus em linha reta, isto é, sem reencarnar, exatamente como encontramos em Roustaing:

"Todas as entidades espirituais encarnadas no orbe terrestre são Espíritos que resgatam ou aprendem nas experiências humanas, após as quedas do passado, com exceção de Jesus-Cristo, fundamento de toda a verdade neste mundo, cuja evolução se verificou em linha reta para Deus, e em cujas mãos angélicas repousa o governo espiritual do planeta, desde os seus primórdios."

"O Eleito, porém, é aquele que se elevou para Deus em linha reta, sem as quedas que nos são comuns, sendo justo afirmar que o orbe terrestre só viu um eleito, que é Jesus-Cristo."

"Antes de tudo, precisamos compreender que Jesus não foi um filósofo e nem poderá ser classificado entre os valores propriamente humanos, tendo-se em conta os valores divinos de sua hierarquia espiritual, na direção das coletividades terrícolas."

"A dor material é um fenômeno como o dos fogos de artifício, em facedos legítimos valores espirituais."

"Homens do mundo, que morreram por uma idéia, muitas vezes não chegaram a experimentar a dor física, sentindo apenas a amargura da incompreensão do seu ideal."

"Imaginai, pois, o Cristo, que se sacrificou pela Humanidade inteira, e chegareis a contemplá-Lo na imensidão da sua dor espiritual, augusta e indelével para a nossa apreciação restrita e singela."

"De modo algum poderíamos fazer um estudo psicológico de Jesus,estabelecendo dados comparativos entre o Senhor e o homem."

"Examinados esses fatores, a dor material teria significação especial para que a obra cristã ficasse consagrada? A dor espiritual, grande demais para ser compreendida, não constitui o ponto essencial da sua perfeita renúncia pelos homens?"

Chico Xavier fala de Roustaing

"Aguardo, com justificado interesse, o teu trabalho sobre Kardec-Roustaing. Deve ter sido um esforço exaustivo, mas muito lindo, o de procurar notícias das relações de ambos, nas publicações do "Espiritismo jovem". Creio que esse trabalho, do qual te ocupas agora, é de profunda significação para o nosso movimento. Esperarei o "Reformador", de outubro próximo, ansiosamente." (Carta de Chico Xavier ao então presidente da FEB, Wantuil de Freitas, a 15 de setembro de 1946, a propósito de um estudo de autoria de Wantuil, publicado na edição de outubro do mesmo ano em "O Reformador")

"Sinto inveja da leitura que vens fazendo com o Ismael da "Revue Spirite". Deve ser um encanto entrar em contato com essas coleções antigas. Creio que estás fazendo esse trabalho com a inspiração de nossos Maiores. Creio, não - tenho a certeza disso. Que possamos recolher muitos frutos dessa tarefa abençoada é o meu desejo muito sincero. Aguardo tuas notícias novas sobre a revisão do "Roustaing". Não te excedas nesse serviço. Das 7 às 23 horas é demais. Resguarda teus órgãos visuais. Lembra-te de que a tua família espiritual hoje é enorme. " (Idem, com data de 25 de setembro de 1946, ainda sobre o mesmo assunto)

Chico comenta, ainda uma vez, em correspondência com data de 29 do mesmo mês, a nova edição da obra de Roustaing:"

(...) Aguardo com muito interesse a nova edição do "Roustaing". Constituirá um grande serviço à Causa da Verdade e do Bem, nos moldes de que me tens dado notícias.

Sobre o trecho de Roustaing em "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho":

"Não te incomodes com a declaração havida de que o trecho alusivo a Roustaing, em "Brasil", foi colocado pela Federação. Quando descobrirem que a Casa de Ismael seria incapaz disso, dirão que fui eu. De qualquer modo, eles falarão. O adversário tem sempre um bom trabalho - o de estimular e melhorar tudo, quando estamos voltados para o bem. "(Carta de Chico para Wantuil, de 25 de março de 1947)

O presidente da FEB dá-lhe algumas informações sobre o caso, também por correspondência. Chico agradece, em nova missiva, esta última de 15 de abril do mesmo ano:

"Agradeço as notícias que me deste, relativamente ao caso da acusação havida quanto ao livro "Brasil". Deus te proteja em teu ministério de supervisão espiritual."

Meses mais tarde, ambos retornam ao assunto, dessa vez falando sobre uma nova edição desta obra. Wantuil enviara a Chico um exemplar com pequenos ajustes de redação, mas estava especialmente preocupado com a polêmica surgida sobre o trecho referente a Roustaing, e avaliava a possibilidade de adiar-se um pouco a nova tiragem, ou mesmo de submeter o trecho à revisão do autor espiritual. Chico discorda, e apresenta sua ponderação, em correspondência de 24 de agosto de 1947:

"Nosso gesto poderia traduzir, para muitos, temor ou excessiva consideração para com o bloco que nos acusa de interpolar os textos mediúnicos, porque não tendo havido uma providência desta, em qualquer edição dos livros recebidos em Pedro Leopoldo, desde a publicação do "Parnaso", há quinze anos, a mudança seria extremamente chocante."...

Mas deixa a decisão final para o então presidente da "Casa de Ismael", assinalando:

"De uma coisa poderemos estar certos - é de que nunca estaremos livres da perseguição e da leviandade dos nossos adversários gratuitos. Mais vale recebê-los com paternal vigilância que dispensar-lhes excessiva consideração.(...)"

Santa ingenuidade...

Sobre a revisão geral do texto, de natureza linguística, Chico agradece a dedicação de Wantuil em nova carta, enviada apenas seis dias depois:

"Restituí-te o livro ontem com todas as corrigendas que fizeste e podes crer que esses reajustamentos e todos os outros que puderes fazer, no "Brasil, Coração do Mundo"e em todos os outros livros, representam motivo de imenso prazer e de indefinível conforto para mim. Deus te recompense."

Em outubro de 1947, Wantuil publica em "O Reformador" um artigo sobre a questão do corpo fluídico de Jesus, um dos pontos mais importantes da obra "Os Quatro Evangelhos". Chico elogia o trabalho feito em missiva de 13 de novembro...

"Considero muito valiosa a página "Corpo Fluídico?", do Reformador de outubro próximo passado. É de autoria de quem? Trata-se de um trabalho condensado de grande expressão educativa."... e ainda reforça o elogio em outra, de 22 do mesmo mês:

"Minhas felicitações pela encantadora e substanciosa página "Corpo Fluídico?". Creio que deves continuar a produzir trabalhos semelhantes para a nossa edificação geral."

1951, 15 de março. Os filhos de Wantuil seguem para a Europa. Vão a Bordéus (cidade de Roustaing) e Paris, em missão de pesquisa. Chico alegra-se com a notícia:

"Estou muito contente com a partida dos teus rapazes para a Europa. Será um grande serviço à nossa Causa a visita a Bordéus e Paris. Observador quanto é, Zêus pode trazer muito material informativo edificante para nós no Brasil, mormente no que se refere à obra de Roustaing. Também lastimo que o tempo dos dois estimados viajantes seja tão curto lá."

1952, 23 de outubro: "Minhas felicitações pelo teu belo trabalho com a obra de Roustaing. Está realizando um serviço de grande importância para o nosso ideal."

Em março de 53, Chico demonstra curiosidade sobre as vendas das obras de Kardec, Roustaing e dos grandes pioneiros de nossa doutrina - Léon Denis, Flammarion e Dellane - ressaltando seu valor doutrinário:

"Tendo em alta conta e profunda estima a obra de Kardec e de Roustaing e dos grandes pioneiros que foram Léon Denis, Flammarion e Delanne, ficaria muito contente e agradecido se me desses a conhecera estatística sobre a penetração dos livros que nos legaram, em nossa Pátria, caso tenhas essa estatística com facilidade. Considero essa penetração muito importante para o traalho de nossa Consoladora Doutrina, no Brasil."Wantui envia-lhe os dados requeridos. Chico agradece, a 27 de junho do mesmo ano:"Grato pelas notícias dos grandes pioneiros Roustaing, Denis, Flammarion e Dellane. Se a "Revue Spirite" algo publicar, esperarei tuas notícias."

Mensagem de Ismael sobre a Concepção da "Virgem" e a Natureza do Corpo de Jesus

Abaixo uma mensagem de Ismael sobre o corpo de Jesus, recebida por Frederico Pereira da Silva Junior:

"Meus filhos, bem pouco me cabe dizer sobre o vosso estudo de hoje. Soubestes guardar convosco a paz que os vossos guias vos trouxeram e, recebendo facilmente as suas inspirações, pudestes, com o vosso próprio espírito, tocar a verdade. É assim que firmastes opinião definitiva sobre a concepção da sempre Virgem e sobre o corpo aparentemente carnal de Nosso Senhor Jesus Cristo. Se a opinião isolada do vosso bom Mestre Allan Kardec pôde, de alguma sorte, influir no entendimento de alguns, fazendo-lhes crer que o Redentor do mundo viera revestir-se da matéria grosseira dos corpos comuns, para dar o exemplo das maiores virtudes, encaminhando a humanidade inteira para a terra da promissão, hoje, que todos os Espíritos bem iluminados afirmam que o nascimento de Jesus foi todo aparente, que o seu corpo apenas se constituíra de fluidos concentrados no seio da sempre Virgem Maria, não há razão de ser para duas opiniões a tal respeito. Maria foi sempre mãe de Jesus, como todas as mães são mães dos homens. Se o que se gera no ventre da mulher não é o Espírito, mas sim a massa que vai vestir o mesmo Espírito, incontestavelmente Maria foi mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo.

E, assim, bem o vêdes, realizaram-se todas as profecias; e, assim, veio ao mundo Aquele a quem devemos a Seara da abundância, os frutos da verdade. Insistamos: a opinião do homem, falível quase sempre, pôde como que inocular, no espírito de seus irmãos, a idéia de que Jesus, se não revestisse um corpo carnal, igual ao de todas as criaturas humanas, seus sofrimentos seriam nulos. Entretanto, como bem disseram entre vós, qual o maior sofrimento, o físico ou o sofrimento moral? Mas, mesmo com esse corpo de natureza celeste, com essa reunião de moléculas fluídicas, que ainda desconheceis, não seria possível o próprio sofrimento físico do Redentor? Quem sofre, é o Espírito ou a carne? Não é a lesão, o golpe sobre a matéria que, por intermédio do perispírito, faz chegar ao Espírito as sensações e a dor? Vêdes, portanto, que não pode prevalecer de modo algum a opinião isolada do vosso bom Mestre Allan Kardec. Meus filhos, continuemos a estudar os Evangelhos do Senhor em todos os seus mais pequeninos detalhes. Procurai conhecer o espírito de toda a letra, com humildade, porque a verdade há de fazer-se aos vossos olhos, como um testemunho do agrado do Senhor, que vos vê esquecidos das paixões do mundo, concentrados, estudando a vida do seu amado Filho. O único requisito que se vos pede é a humildade." Ismael