Resgatando a Proposta Espírita: Análise crítica dos ditados do espírito Ramatis e demais questões controversas no Movimento Espírita
11 julho 2009
Espiritismo sim, Kardecismo não
Dentre as confusões mais frequentes disseminadas por redutos seitistas e de tendência sincrética e comumente repetidas por pessoas desconhecedoras do Espiritismo encontra-se o uso incorreto de termos ou palavras para designar a Doutrina Espírita. Um deles é o termo "kardecismo", dando a idéia de que há vários "Espiritismos", enquanto, na verdade, o Espiritismo é um só, aquele que surgiu em 1857 com a publicação de "O Livro dos Espíritos". Aliás, foi Allan Kardec que criou a palavra "Espiritismo" justamente no intuito de diferenciá-la de tudo que existia e do Espiritualismo em geral.
O próprio espírito Ramatis e os ramatisistas estão entre aqueles que gostam de se utilizar dos termos "kardecista" e "kardecismo" até mesmo de uma forma algumas vezes pejorativa com o intuito de passarem a idéia de que são espíritas, porém não "kardecistas", e sim "universalistas", criando pois uma pretensa ramificação no seio da Doutrina, algo que Allan Kardec sempre desaconselhou e desestimulou, como já vimos aqui em outros artigos.
Luiz Antonio Milleco, bem a propósito, escreveu um interessante artigo sobre a questão, intitulado "Espiritismo ou Kardecismo?":
"De um tempo para cá um estranho fenômeno ocorre em nosso meio: pessoas respeitáveis aceitam a Doutrina Espírita, entusiasmam-se com seus postulados e se beneficiam da consolação por Ela propiciada. No entanto, chegado o momento das definições, afirmam-se não espíritas, mas espiritualistas ou "kardecistas".
Quanto ao espiritualismo, a definição é incompleta, já que todas as crenças baseadas na existência da alma são espiritualistas.
E quanto ao "kardecismo"?
As origens históricas do termo, embora não possam situar-se no tempo, são perfeitamente caracterizadas quanto aos fatos. Ao chegarem ao Brasil, os escravos trouxeram consigo suas crenças, seus cultos, que ali se fundiram, com o crescimento das crenças indígenas e católicas. Esses grupos étnicos já praticavam a mediunidade. Ora, com o aparecimento entre nós da Doutrina Espírita, uma de cujas bases principais é exatamente o fenômeno mediúnico, foram inevitáveis as generalizações. Tudo quanto se referisse ao intercâmbio com o outro plano era considerado Espiritismo.
Tal equívoco ocasionou lamentáveis deturpações. Não queremos aqui discriminar os grupos afro. Há entre eles os que, embora divergindo da Doutrina Espírita quanto ao aspecto religioso e à prática mediúnica, lêem Allan Kardec, adotam seus postulados filosóficos e servem ao próximo com desprendimento e abnegação.
Não se pode negar, entretanto, as deturpações a que nos referimos acima. Eram comuns em certos setores da imprensa manchetes como: "Assassinato em um Centro Espírita", "Incorporado pelo Guia Fulano...". Além disso, não são raros os folhetos em que se lê: "Madame Fulana de tal. Vidente Espírita, soluciona todos os problemas, resolve caso de amor e dinheiro, prevê o futuro..." etc.
Resultado: para não se embarafustarem com toda esta confusão, alguns companheiros abrem mão do termo espírita e preferem a expressão "kardecista". Haverá, porém, algum fundamento para tal posição?
Em primeiro lugar, Allan Kardec sempre fez questão de assinalar que, ao contrário de todas as doutrinas anteriores, o Espiritismo não foi fundado por homens, mas é conseqüência das revelações trazidas pelo Plano Espiritual.
Em segundo lugar, não podemos descartar a gama de preconceitos que envolve a substituição dos termos espírita e Espiritismo pelos termos "kardecista" e "kardecismo".
Não querem, estes companheiros, que suas crenças sejam confundidas com aquelas que, para eles, são "inferiores". Não querem ser identificados como "feiticeiros" ou "macumbeiros". Tal confusão, no entanto, não advém deste ou daquele termo, mas da posição de cada um perante a vida e diante de si mesmo.
Ao invés de simplificarmos as coisas dando à Doutrina Espírita nomes que ela não possui, chamando-a "kardecismo", "mesa branca", "Espiritismo Científico", etc., arquemos com os incômodos das explicações; e, definindo-nos claramente como espíritas, esclareçamos simplesmente os que nos abordem sobre o que é, e o que não é Espiritismo".
(Revista Espírita Harmonia - nº 34 - agosto de 1997)
Mais artigos sobre o tema:
"Porque Não Sou Espirita Kardecista"
Espiritismo
"Religiões Afro e Espiritismo: uma Confusão Frequente"
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