Mostrando postagens com marcador Herculano Pires. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Herculano Pires. Mostrar todas as postagens

13 fevereiro 2013

Hercílio Maes, médium ou escritor?



Em um dos nossos últimos artigos, intitulado "Artigo Investigativo: Ramatis pode nem existir", discorremos sobre as semelhanças entre alguns conceitos e textos teosóficos e os ditados do espírito Ramatis, e também acerca da consequente (e grande) possibilidade de Ramatis sequer ter existido ou existir. Desta feita, faremos um exame da biografia de Hercílio Maes, o primeiro médium a alegar ter recebido mensagens daquele espírito.

Em "Simplesmente Hercílio" (Editora do Conhecimento, 2010), o próprio filho de Hercílio, Mauro Maes, discorre sobre acontecimentos ocorridos durante a vida do pai, assim como alguns dos seus pensamentos e opiniões, sendo muitos deles bastante interessantes para a análise que estamos fazendo, em que buscamos, ao máximo, a isenção, para que cheguemos mais próximos da Verdade.

Resumamos algumas das informações constantes do livro que consideramos como as mais relevantes para o objeto de nossa pesquisa. Citaremos as páginas do livro para que o leitor possa aferir com mais facilidade o que declaramos.

1 - É informado que Hercílio Maes recebeu uma educação católica a contragosto, já que sua mãe era católica fervorosa. Para satisfazer o desejo da mãe, foi coroinha. Por conta disso, na juventude tornou-se ateu, opção que, segundo seu filho, conservou-se por muito tempo (pág. 12). Teria sido somente por ocasião de um atropelamento a um casal que Hercílio teria se aproximado do Espiritismo (pág. 15). No entanto, é dito alhures que ele teria tido contato com Ramatis já aos três anos de idade, o que faz com que haja aí um grande contrassenso no que concerne à sua posterior opção pelo ateísmo. É dito que Ramatis teria feito essa primeira aparição "completamente materializado", envergando um turbante com uma pedra verde e uma cruz dentro de um triângulo. Algo que, de tão impressionante, dificilmente teria sido deixado de lado por alguém.

2 - Aos 30 anos teria acontecido o segundo contato. Hercílio Maes alegava ser dotado de "mediunidade intuitiva" e teria usado dessa faculdade para escrever as obras atribuídas a Ramatis, embora fosse também médium psicógrafo (pág.18). Guardou as primeiras mensagens, todas escritas com utilização de uma máquina de escrever, até que um amigo militar chamado Levino Cornélio Wischral se interessou e, entusiasmado, o incentivou para que fossem publicadas, passando, então, a revisá-las. Percebe-se aí que não foi feito qualquer tipo de estudo analítico das obras antes de sua publicação, tendo as mensagens ficado restritas a um pequeno grupo de pessoas antes de irem direto para o prelo. Levino já havia incursionado por esse terreno movediço com a publicação de um folheto intitulado “O Sol”, onde um espírito chamado Henrique Voes teria descrito o Sol e seus habitantes (!) através de uma médium chamada Guilhermina Drischel. Parecia ter um gosto especial por obras de cunho duvidoso: foi ainda prefaciador do livro “Num Disco Voador Visitei Outro Planeta”. Trataremos mais detalhadamente sobre o opúsculo “O Sol” em outra oportunidade.

3 - Tempos depois, Hercílio passou a reunir pessoas em sua casa a fim de formular perguntas a Ramatis, sendo que o próprio espírito, segundo é relatado, sugeria algumas delas. Como isso acontecia não é esclarecido, já que Hercílio não recebia mensagens de Ramatis nem através da psicografia, nem pela psicofonia. Somente se pode contar com o relato do médium, e nenhuma prova cabal de contato mediúnico direto é demonstrada, uma vez que as supostas mensagens eram recebidas “intuitivamente”.

4 - Por conta disso, à página 20, é relatado que Hercílio sofreu críticas de grandes vultos do Movimento Espírita, tais como Herculano Pires, Jorge Rizzini e Henrique Rodrigues, logo após o surgimento da primeira obra, intitulada "A Vida no Planeta Marte e os Discos Voadores", lançada pela Editora da Boa Vontade, ligada à LBV de Alziro Zarur, que sempre defendera a tese do “de 1000 passará, mas a 2000 não chegará”, incessantemente repetida em seus programas de rádio. Acreditavam eles que as obras eram de origem anímica, algo que jamais ficou bem esclarecido para o público em geral. No entanto, com as pesquisas que recentemente envidamos, ficou evidenciado que tais ditados têm incrível semelhança com certos escritos anteriores de autores teosóficos, o que certamente foi verificado, à época, por Herculano Pires, estudioso da Teosofia antes de conhecer o Espiritismo.

Incomodado com as críticas bem fundamentadas, Hercílio Maes alegou não ser importante a autoria das mensagens, mas seu conteúdo:

"Mesmo que Ramatis não existisse, mesmo supondo-se a tese de Herculano Pires, o que importa é o conteúdo das mensagens. (...) Que importa que fossem inspiração minha? Eu também sou um espírito.(...)"

É realmente impressionante como a atitude do analista é vista como condenável no meio espírita. Isso demonstra desconhecimento da obra kardeciana. “Os médiuns geralmente assumem a condição de ofendidos, e aparecem aos olhos da sociedade como infelizes e injustiçados”, conforme pontua Wilson Garcia, no ótimo “Uma Janela para Kardec” (Editora EME). O autor também enfatiza que analisar a identidade e o pensamento dos espíritos não é apenas necessidade, mas verdadeira obrigação. Foi um espírito quem nos instrui sobre isso na Codificação: “É isto que exige um muito grande estudo da parte de espíritas esclarecidos e dos médiuns; em distinguir o verdadeiro do falso é que devemos dirigir toda nossa atenção”.

No que diz respeito diretamente à declaração de Hercílio transcrita acima, Kardec reconhece que a “identidade dos Espíritos é uma das mais discutidas, mesmo entre os adeptos do Espiritismo”, não deixando de ressaltar que “em muitos casos, a identidade absoluta é uma questão secundária e sem importância real.” É preciso convir, no entanto, que a identificação é absolutamente desnecessária apenas quando “se trata de instruções gerais”, o que não se aplica a mensagens assinadas por espíritos que se posicionam como superiores, como é o caso de Ramatis, por exemplo. Tanto é que consta de “O Livro dos Médiuns” a análise de três mensagens cujo autor espiritual teria sido São Francisco de Paula. A apreciação dessas mensagens demonstra que é preciso, às vezes, certa argúcia para que se perceba o engodo que o espírito engendra, algo que, infelizmente, não ocorre porque grande parte do contingente espírita não estuda as obras da Codificação, não lhe conhece os princípios, o método e sua real proposta.

5 - Mais adiante no livro, o autor tece comentários sobre a vida cotidiana de Hercílio Maes e família. Afirma que o pai fazia questão que os filhos compreendessem as bases da Doutrina Espírita e que elas fizessem parte da educação desde tenra idade. Além disso, é contado que fenômenos mediúnicos ocorriam vez ou outra, tendo os filhos conhecimento do trabalho do pai como autor de livros de origem mediúnica. Estranhamente, é informado, alguns capítulos adiante, que seus filhos converteram-se a religiões protestantes. "Yara frequentava a igreja dos Mórmons, Zeila a igreja presbiteriana e eu a igreja evangélica" (pág. 26). Nem é preciso lembrar ao leitor deste artigo que todas essas religiões condenam veementemente o Espiritismo, a prática mediúnica e os próprios espíritas, além de seus ensinamentos colidirem frontalmente com a Doutrina. Mauro Maes, o autor do livro em questão, houvera sido, inclusive, incumbido pelo pai, aos 12 anos de idade, de passar a limpo as páginas do livro "A Vida no Planeta Marte e os Discos Voadores", sua primeira obra. A meu ver, é bastante improvável que alguém, no caso todos os filhos, tendo tido um contato tão de perto com o Espiritismo desde tenra idade através do próprio pai que tanto diziam seguir e admirar, pudesse vir a seguir movimentos religiosos tão antagônicos. De duas, uma: ou esse contato com o Espiritismo não foi tão intenso assim, de modo que acabou por não convencer ninguém, ou havia uma dúvida no ar sobre a veracidade e/ou origem dos fenômenos dos quais o pai dizia ser intermediário.

6 - Consta do mesmo livro que Maes possuía uma compreensão integral e profunda da Doutrina Espírita. No entanto, são relatadas ocasiões onde fica evidenciada uma aproximação muito maior com a Umbanda que, embora respeitável, possui crenças, práticas e terminologia que lhe são próprias, nada tendo a ver com a Doutrina codificada por Kardec. Uma prova de que Maes passou a confundir as coisas, é que um homem chamado Júlio Simó Costa foi nomeado “cambono” nas reuniões mediúnicas realizadas no escritório de Hercílio Maes. É dito ainda que os móveis eram cobertos com panos brancos, algo que nada tem a ver com aquilo que é aprendido no Espiritismo. As entidades comunicantes eram, além de Ramatis, também ligadas àquele rito africanista.

7 - Como é muito comum no meio umbandista, Hercílio Maes fazia reclamações constantes em relação a não-aceitação de seu trabalho por parte da maioria do contingente espírita brasileiro. O tom da crítica que desferia contra os espíritas era ácido e de cunho pessoal, algo que jamais foi feito por aqueles que não aceitavam as obras de Ramatis, que focavam unicamente nas discrepâncias e exotismos presentes nos ditados daquele espírito, e nunca na figura de seu (suposto) médium. Maes costumava defender o conteúdo de seus livros dizendo que seus críticos não podiam compreendê-los, pois que estavam “na base do leite” (pág. 82), isto é, uma clara insinuação de que as obras elaboradas por Allan Kardec são uma espécie de be-a-bá infantil, amplamente superada pelas suas. Declarou ainda Hercílio Maes sobre os espíritas estudiosos contrários a Ramatis: “São limitados, com preconceitos e sempre achando que o Espiritismo é que irá salvar o mundo, quando antes de Buda o céu já era povoado de santos!” Um argumento fraco, evidentemente, já que nenhum deles jamais afirmou algo parecido.

8 - Defensor do “universalismo”, uma espécie de sincretismo disfarçado, Hercílio Maes se auto-proclamava, assim como os defensores desse sistema de ideias, como um espírito “consciente”, enquanto que quem não seguisse a mesma cartilha era “sectário” (pág.82).

Em carta enviada ao Sr. Antonio Plínio da Silva Alvim, presidente de conhecido núcleo ramatisista no Rio de Janeiro, demonstrou um evidente deslumbramento com as mensagens que recebia, e proferiu comentários que possuíam enorme semelhança, tanto na forma, quanto no fundo, com as críticas proferidas pelo “espírito” Ramatis em seus livros:

Sem dúvida, Antônio, comprovei que realmente existem duas hierarquias de espíritos na Terra: uma que foi exilada de três ou mais planetas, capaz de sentir e compreender a mensagem universalista de Ramatis, e outra que, desenvolvendo sua consciência exclusivamente no psiquismo global, ainda não está em condições de suportar conceitos que ultrapassem os limites de sua conscientização primária. Eles estão certos: a mensagem é demasiadamente além de sua capacidade receptiva intelecto-emotiva. (...) Mas, caro Antônio, apenas trocaram de etiqueta, pois sendo fanáticos, limitados, irônicos e reverendos do catolicismo, assim se mostram no protestantismo, e, finalmente, no espiritismo. São como raposas: trocam de pele, mas não mudam a manha... Antigos clérigos, desde o papado até o irmão leigo dos conventos, adquirem aquela postura secular e conventual de não entregarem o posto antes de morrer! Assim, eles grudam-se 20, 30 ou 40 anos na direção de um centro espírita ou federação, com unhas e dentes, jamais cedendo a vez a novos valores idealistas.

Talvez ainda não soubesse Hercílio Maes que aquele seu amigo permaneceria no cargo de presidente de um Centro ramatisista em um bairro da zona norte do Rio, ininterruptamente, por 39 anos, de 1964 até 2003, só deixando o cargo após seu desencarne!...

9 - Outras afirmações ousadas e errôneas estão presentes na biografia oficial do médium de Ramatis:

A obra de Ramatis é complementar à codificação feita por Allan Kardec.” (pág. 93)

Discordamos, já que algo que é complementar jamais seria discordante. Listamos algumas das inúmeras discordâncias em "Breve Resumo de Algumas Diferenças".

No livro ‘A Vida no Planeta Marte e os Discos Voadores’, Ramatis antecipou um detalhe, à época impensável: quando os marcianos se aproximam das portas de uma residência, elas se abrem e depois se fecham automaticamente.”

Na verdade, a porta automática já havia sido imaginada em 1899, no livro “When the Sleeper Wakes”, por H.G. Wells, e foi efetivamente inventada em 1954, um ano antes da publicação do livro escrito por Maes.

Quanto ao livro Mensagens do Astral, o derretimento das calotas polares, a verticalização do eixo imaginário da Terra já são realidades.”

A ciência informa que o nível dos mares vem subindo há mais de 20.000 anos, desde o fim da última era glacial. De lá para cá, já ganharam 120 metros. A maior aceleração do derretimento das calotas polares começou a ser verificada entre o final do século XIX até 1940, quando houve a maior parte do aumento de 0,3 a 0,6 grau Celsius na temperatura da Terra. Tal vem se dando devido ao efeito estufa. Nada tem a ver com a teoria ramatisiana, que afirma que a causa seria a aproximação de um astro (o famoso “planeta chupão”), que teria começado a provocar tais mudanças somente a partir de 1950. Ramatis afirma que o ápice desse processo, com catástrofes globais, se daria até 1999, sendo que nada aconteceu. Quanto à verticalização do eixo da Terra, nada de anormal foi verificado até hoje. O movimento ramatisista tenta até hoje arrumar alguma explicação para as previsões que não se cumpriram.

10 - A biografia de Maes conta também com a colaboração de pessoas que lhe foram próximas em vida. A astróloga Mariléia Castro, revisora do livro, se mostrou a mais deslumbrada, e revoltada na mesma intensidade. Chama os espíritas que não aceitam Ramatis de “ex-clérigos da época inquisitorial”. Para justificar a necessidade de aceitação das ideias orientalistas de Maes/Ramatis, alega que Allan Kardec fora um sacerdote druida, embora os druidas tenham vivido na Gália, uma antiga província do Império Romano, hoje território francês, muito distante, pois, do Oriente.

Conta, também, uma história difícil de acreditar e própria de quem alcançou níveis altíssimos de credulidade irrefletida. Diz ter ouvido de Hercílio Maes que este teria sofrido um acidente automobilístico provocado por “forças trevosas” incomodadas com os livros de Ramatis. Não obstante, Hercílio teria se desmaterializado no momento do acidente e se rematerializado instantes depois, já fora do carro. Acredite, caro leitor, se puder...

Seu fascínio pelo médium de Ramatis não para por aí. A Sra. Mariléia de Castro acreditava que Maes podia ir em espírito a Marte e retornar, sendo que, quando voltava, corroborava o que teria ouvido de Ramatis: sim, havia uma civilização hiper mega desenvolvida naquele planeta. Para comprovar tal tese, mostra fotos tiradas do solo marciano onde aparecem uma suposta terraplenagem, um duto e um rosto.

Comecemos pelo rosto: trata-se somente de uma ilusão. Em nova foto tirada do mesmo local tempos depois, a NASA comprovou que é apenas uma colina no imenso deserto marciano. Em comunicado, a agência espacial explicou a ilusão de ótica, dizendo que “a enorme formação rochosa, que lembra uma cabeça humana, é formada por sombras que dão a ilusão de olhos, nariz e boca”. Tal fenômeno é conhecido como pareidolia. Já o suposto “duto” não passa de uma conformação do caótico terreno de Marte. Se houvesse a propalada hiper desenvolvida civilização marciana, dutos certamente teriam uma aparência bem melhor, já que o que lá aparece é fincado no solo e totalmente irregular. O caso da terraplenagem se enquadra no mesmo caso, e na verdade se deve às marcas deixadas no solo de Marte pela correnteza de água há 3,8 bilhões de anos.

Não satisfeita, Mariléia de Castro procura defender a revelação ramatisiana sobre Marte com a citação de autores que a teriam posteriormente referendado. Cita, daí, um artigo que teria sido escrito pelo teosofista Charles Leadbeater em 1955, em que há uma descrição da civilização marciana, segundo ela própria admite, “em termos incrivelmente análogos aos de Ramatis”. O que a Sra. Mariléia não sabe é que Leadbeater desencarnou em 1934. Assim sendo, como já pudemos ver em “Artigo Investigativo: Ramatis pode nem existir”, há uma evidente “inspiração” na obra do teosofista inglês, já que a obra de Ramatis é de 1955, mesmo ano em que a revista “O Teosofista” publicou o tal artigo.

Mais adiante, à página 122, é reproduzida uma entrevista realizada com Hercílio Maes pela revista Panorama em 1969. Ao longo da entrevista, várias imprecisões científicas e doutrinárias são cometidas. Entre elas, o suposto médium de Ramatis afirma que os satélites de Marte são artificiais e que foram lançados pelos habitantes de Marte. Nada mais incorreto e fantasioso. Ocorre é que, em 1959, Walter Scott Houston publicara uma “pegadinha” de 1º de abril (Dia da Mentira) na edição da revista “Great Plains Observer”, anunciando que “o Dr. Arthur Hayall, da Universidade de Sierras, constatou que as luas de Marte são na verdade satélites artificiais”. Só que não havia nem Dr. Hayall, nem Universidade de Sierras, meramente fictícios. A mentira ganhou fama quando o anúncio de Houston foi repetido, aparentemente de maneira séria, pelo cientista soviético Iossif Shklovsky, citado por Hercílio Maes na entrevista.

11 - Ao longo de todo o livro “Simplesmente Hercílio”, depara-se o leitor com inúmeras revelações feitas por Hercílio Maes sobre as vivências pregressas de inúmeras personagens da história. Alegava ele que tinha acesso a tais informações. O interessante, tal como ocorre com outro “médium” de Ramatis, o Sr. Roger Bottini, conforme demonstramos em estudos interiores, é que eles foram sempre criaturas de elevada condição social e/ou espiritual que habitaram planetas adiantados, continentes perdidos, foram faraós, reis, rainhas, parentes próximos de expoentes da Bíblia e do próprio Allan Kardec, conheceram Jesus, enfim, estiveram sempre presentes entre a nata da nata. Só que a mosca azul da vaidade não pica a todos. É contado no livro supracitado que, certa feita, Hercílio teria encontrado a médium Yvonne Pereira no ano de 1969 em um evento, e afirmou que ela teria sido George Sand (pseudônimo de Amandine Dupin), famosa escritora e musa inspiradora de Chopin. Yvonne educadamente negou a tese.

O espírito Vianna de Carvalho comenta essa postura:

“Pseudo-médiuns ou medianeiros em desequilíbrio, assessorados por espíritos levianos, que se comprazem em mantê-los no ridículo, amiúde apresentam-se como reveladores, e o são inconsequentes, ludibriando a boa-fé dos incautos ou incensando os orgulhosos com bombásticas informações em torno do seu passado, com promessas mirabolantes sobre o seu futuro, ou ainda, como emissários de Embaixadores Celestes para evitarem calamidades, assumindo posturas de semi-deuses, que deslumbram os fascinados e se tornam condutores de grupos humanos.
Os Espíritos Nobres não têm qualquer interesse em revelações em torno de personalidades de ontem ou de hoje, evitando a abordagem em torno do que hajam sido, trabalhando em favor do presente, do qual se origina o futuro, que é a grande meta.
Não tem nenhum sentido a busca de informações em torno do passado espiritual, particularmente se se anela por haver sido rei ou príncipe, nobre ou burguês, sábio, guerreiro ilustre, papa ou outra qualquer personagem importante, que em algum momento esteve presente na história.”
Assim sendo, qualquer semelhança não é mera coincidência, querido leitor.

Conclusão

Não há dúvida que Hercílio Maes era um homem de bem. Segundo seu filho e amigos, era dedicado à família e disposto a colaborar com todos. Era também um homem de certa cultura e tinha o dom para a escrita. Venceu concursos literários, foi ex-acadêmico de Medicina e formou-se em Direito e Ciências Contábeis. Ao contrário de Chico Xavier, tinha condições intelectivas para escrever de próprio punho. É muitíssimo provável que isso tenha acontecido, já que as ideias que defendia não encontravam eco na Doutrina Espírita, a qual dizia seguir, mas ao mesmo tempo apresentava similitudes com a Teosofia, o ocultismo e quase toda sorte de crença esotérica. Assim sendo, nada melhor que receber um “espírito de oriental” para fazer valer as verdades que acreditava fazerem falta ao corpo doutrinário espírita.

Herculano Pires, ex-teosofista, foi o primeiro a corajosamente levantar essa tese através da coluna que possuía no jornal "Diário de São Paulo", não se importando com a apressada aceitação dos ditados de Ramatis por parte de numerosos neófitos da Doutrina. Anos depois, com a não confirmação das principais teorias dos ditados atribuídos ao tal “espírito oriental”, tal como a não existência da avançada civilização marciana, até mesmo seus discípulos aventaram a hipótese da influência anímica. Wagner Borges, por exemplo, que afirma receber mensagens de Ramatis, em seu livro “Viagem Espiritual” (1994) cogita essa possibilidade e declara que Ramatis nunca lhe disse coisa alguma sobre marcianos e catástrofes provocadas por um suposto astro intruso.
Hercílio não se apressou muito em publicar o que escrevia. Infelizmente, um amigo se empolgou mais do que deveria, e ignorando o cuidado que se deve ter antes de se publicar algo supostamente advindo do mundo espiritual, tratou de elevar aqueles ditados à conta de revelações indefectíveis, espécie de complemento do grandioso trabalho do Codificador Allan Kardec, embora as condições e qualidade de tais trabalhos em nada se assemelhassem. E como tais mensagens traziam novidades bem ao gosto das massas, repletas de previsões retumbantes, excursões interplanetárias e boa dose de misticismo oriental, as obras atribuídas a um espírito que ostentava um turbante logo começaram a vender como água.

Homens mais experimentados e conhecedores da Doutrina Espírita não se deixaram entusiasmar, exatamente como agiu Kardec ao se deparar muitas vezes com ditados que contrariavam o consenso universal. Herculano Pires, Deolindo Amorim, Jorge Rizzini, Ary Lex, Carlos Imbassahy (o pai), entre outros expoentes, direta ou indiretamente se manifestaram, provocando a ira e o antagonismo dos que aceitavam aquelas mensagens como autênticas revelações de um espírito sábio. Os defensores de Ramatis alegavam que seu médium era homem sem ambições de cunho material, esquecendo-se que nem sempre esta é a única marca de confiabilidade que se espera em um médium para aquilatar o valor das mensagens que recebe. Um médium pode muito bem se enganar em relação às luzes do espírito comunicante, sem contar a hipótese de animismo – ideias que são do médium, mas que são confundidas com as de um espírito.

Foi um eminente físico americano Richard Feynman quem disse: “Sou sábio o suficiente para saber que posso me enganar”. Os ramatisistas parecem não contar com esta possibilidade. Embora os carros-chefes da suposta entidade espiritual tenham se esboroado com o tempo em decorrência do avanço das ciências e da ampliação do conhecimento humano, insistem eles em defender o indefensável, com a criação incessante de teses esdrúxulas, geralmente de fundo conspiratório, como aquela que afirma que os marcianos utilizam hologramas para encobrir a real paisagem do planeta vermelho, já que ao invés dos mares, jardins floridos e marcianos alados descritos por Maes/Ramatis, as sondas não-tripuladas só encontraram um terreno desértico, caótico e desolador.

Assim sendo, é tempo do movimento espírita retomar o bom-senso kardeciano e definitivamente escoimar de seus círculos os movimentos cismáticos que se formaram ao seu redor, entre eles o ramatisismo, cujos adeptos bem poderiam formar seus próprios redutos e movimentos, sem se utilizarem da figura de Allan Kardec e da insígnia espírita para angariar a respeitabilidade que lhes falta. Seria bem mais honesto, coerente e sensato.

18 janeiro 2013

O destino dos animais e a questão do "cão intercessor"



O Espiritismo é uma doutrina espiritualista de caráter filosófico e, ao mesmo tempo, uma ciência experimental, segundo a definição de Allan Kardec. O objeto especial do Espiritismo é o conhecimento das leis do princípio espiritual, seguindo-se daí que o conhecimento acerca dos princípios da matéria, estudados pelas ciências ordinárias, lhe serve de complemento, uma vez que o conhecimento de um não pode estar completo sem o conhecimento do outro. Deste modo, Espiritismo e Ciência se completam reciprocamente.

Contrariamente a isso, certos simpatizantes da Doutrina Espírita preferem renegar os conhecimentos científicos e descambam para a tentativa de anexar ao conhecimento e práticas espíritas conceitos oriundos do Espiritualismo genérico, com o que intentam “enriquecer” o corpo doutrinário espírita. Desta forma, passam a disseminar, junto aos núcleos espíritas, ideias e conceitos que conflitam clara e diretamente com os mais básicos e elementares princípios espíritas, ocasionando, assim, grandes confusões entre os simpatizantes da Doutrina, conduzindo o Movimento, de maneira sub-reptícia, à perda de unidade e, consequentemente, provocando desinteligências entre os adeptos, o que facilita a formação e fortalecimento de redutos seitistas. Atuam, portanto, à feição de vírus perigosos, como já tratamos no artigo “Os Cavalos de Troia do Espiritismo”.

Uma dessas questões elementares a que nos referimos acima é aquela que trata do animal irracional e sua destinação após a morte, assim como o grau de evolução ao qual pertencem. Tal assunto é tratado de maneira clara na obra basilar da Doutrina Espírita, “O Livro dos Espíritos”. Da questão 592 até a de número 610, os Espíritos Superiores respondem às mais variadas perguntas formuladas pelo codificador Allan Kardec, onde chegamos às seguintes conclusões, que abaixo enumeramos:

1. Os animais possuem instinto, que é uma forma rudimentar de inteligência, e não são detentores de livre-arbítrio;

2. Os animais não podem analisar seus erros e acertos. Assim sendo, não podem sofrer penas nem gozos por não terem consciência de seus atos praticados no mundo físico. Não há neles senso moral, já que a inteligência não se encontra suficientemente desenvolvida para tal;

3. A alma dos animais, após a morte do corpo, é devolvida rapidamente ao mundo físico, seja em um planeta ou outro para que continuem sua evolução até chegarem ao estado hominal, donde daí para frente possuirão livre-arbítrio e sofrerão as penas e gozos do mundo espiritual.
Em “O Livro dos Médiuns”, cap. XXV, 283, itens 36 e 37, também podemos colher mais informações sobre a questão:

4. O princípio inteligente que anima o animal fica em estado latente após a morte, sendo que espíritos encarregados desse trabalho imediatamente o utilizam para animar outros seres. Não lhes sobra tempo disponível para se por em relação com outras criaturas. Sendo assim, não há espíritos errantes de animais, mas somente espíritos humanos.

5. Consequentemente, não há animais habitando o mundo espiritual, e nem é possível obter comunicações de animais por via mediúnica ou por quaisquer outros meios.

É isso, pois, resumidamente, o que ensina o Espiritismo sobre o destino da alma dos animais, assim como suas possibilidades e nível de adiantamento.

No entanto, volta e meia nos deparamos com declarações em evidente contraposição ao exposto acima sendo feitas em centros espíritas ou presentes em obras que dizem inspirar-se no Espiritismo. Decorrem, obviamente, de mera opinião pessoal de seus autores, mas que são consideradas, por certo número de desavisados, como autêntico ensinamento espírita. Isso ocorre mais comumente nos núcleos de orientação ramatisista, que se auto-intitulam “universalistas”, onde se pretende, a todo instante, “reformar” o Espiritismo a título de “modernidade” e “vanguardismo”. Porém, infelizmente, o que encontramos nesses redutos é um autêntico sincretismo, onde tudo se mistura, sem qualquer critério de aferição da Verdade. Opiniões individuais se mesclam a conceitos do orientalismo, cujas doutrinas jamais formaram um corpo uniforme, somadas a comunicações atribuídas a espíritos, que são logo cridas como autênticas e repositórios de verdades cristalinas, a título de contribuição ao corpo doutrinário espírita. Esquecem-se, contudo, que o critério espírita de aceitação das mensagens oriundas do mundo espiritual deve ser o da concordância universal, tendo como base a própria revelação espírita, toda ela consubstanciada nas obras da Codificação.

Um exemplo prático dessa triste realidade tem sido as mensagens atribuídas a um deus grego (!) pretensamente recebidas pelo “médium universalista” gaúcho Roger Bottini, que também diz psicografar Ramatis. Já realizamos uma abordagem crítica deste caso e assunto no artigo “Médium ‘universalista’ diz receber mensagens de deus grego”- o qual sugerimos a leitura para melhor entendimento do que agora escrevemos - , sendo que, recentemente, causou-nos enorme perplexidade o comentário feito pelo Sr. Bottini sobre um suposto “cão intercessor” chamado Fiel. Segundo o médium supracitado, seus leitores estariam livres para orar ao cão e “pedir auxílio para seus ‘pets’ que estejam doentes ou tenham desencarnado.” Segundo o sr. Bottini, “Fiel é um cão do reino astral muito especial” e “vive junto a Hermes”, o deus da mitologia grega, e “atenderá aos pedidos feitos a ele com muito amor e carinho”(...)

Desta feita, apelamos ao leitor que analise minimamente a declaração acima e compare com o que é ensinado pela Doutrina Espírita. Lembramos que o autor faz palestras em centros espíritas e se diz “espírita universalista” – uma maneira encontrada de não ter que divulgar fielmente os princípios espíritas e misturá-los a tudo que lhe venha na cabeça. O resultado disso é que, dentro em breve, certamente, teremos pessoas que se dizem “espíritas” declarando abertamente por aí que oram a um cão, que amorosamente atende aos seus pedidos. A impressão causada, com certeza, será a pior possível, passando o Espiritismo a alvo de chacota e desprestígio por parte daqueles com mínima capacidade de raciocínio e senso crítico.

Segundo as instruções dos Espíritos a Allan Kardec, principalmente as contidas na Introdução de “O Evangelho segundo o Espiritismo” e em “O Livro dos Médiuns”, faz-se necessário estarmos alerta a esses focos de grosseira mistificação e aplicarmos uma postura crítica que consiste em separar o verdadeiro do falso. É nosso dever submeter ao cadinho da razão e da lógica todas as comunicações, sobretudo aquelas que possuem um caráter exótico e exclusivista, geralmente advindas de indivíduos vaidosos que se auto-intitulam detentores de alguma missão especial ou conhecimento inacessível a maioria, que apresentam como verdades absolutas. Na mais das vezes, são vítimas de espíritos mistificadores ou pseudossábios, que se ornam com nomes pomposos para melhor enganar. O mal que tais entidades intentam causar é enorme, porque visam à desfiguração da mensagem espírita, expondo-a ao ridículo e ao vexame perante a opinião pública, enfraquecendo, assim, os magnos objetivos de esclarecimento e libertação da ignorância propostos pela Doutrina. A fim de atenuar a má impressão que causam, podem essas entidades espirituais até estimular seus medianeiros a erguerem alguma obra de caridade ou a desenvolverem alguma atividade de assistência social, intentando, assim, formar uma nuvem de fumaça em torno do médium e angariar a admiração dos incautos que lhes seguem os esdrúxulos ideários. Tais ideários, atualmente, estão geralmente ligados aos conceitos de salvação planetária, coletiva e/ou individual, onde se inserem “revelações” e previsões sobre futuras hecatombes apocalípticas, incutindo que seus seguidores serão salvos em função de suas crenças, preces ou ações determinadas pelo(s) líder(es) seitista(s). Tudo, obviamente, sugerindo muito amor, fraternidade e caridade em frases de efeito, que, na verdade, encobrem boas doses de presunção, e estímulo ao medo e ao misticismo.

O Espiritismo bem estudado e compreendido é seguramente o melhor antídoto contra tais ilusões e artimanhas, mas como cada vez mais se tem priorizado a leitura de obras romanceadas e as de abordagem superficial e simplista de pretenso caráter espírita, deixando-se de lado o estudo sério e metódico das obras kardecianas, tem crescido o número de adeptos que pouco ou nada sabem sobre a Doutrina, tornando-se, assim, presas fáceis dos espertalhões encarnados e desencarnados.

Já declarava Kardec em 1861, em “O Livro dos Médiuns”:

Os Espíritos são as almas dos homens, e como os homens não são perfeitos, há também Espíritos imperfeitos, cujo caráter se reflete nas comunicações. É incontestável que há Espíritos maus, astuciosos, profundamente hipócritas, contra os quais devemos nos prevenir.

Herculano Pires, em vista desses preciosos esclarecimentos, teceu comentários, tendo em mente o que vem ocorrendo no movimento espírita brasileiro:

A malandragem dos Espíritos mistificadores ultrapassa às vezes tudo que se possa imaginar. A arte com que assestam as suas baterias e tramam os meios de persuadir seria digna de atenção, caso se limitassem a brincadeiras inocentes. Mas as mistificações podem ter consequências desagradáveis para os que não se previnam. Somos muito felizes por termos podido abrir os olhos a tempo a muitas pessoas que nos pediram conselhos, livrando-as de situações ridículas e comprometedoras.
(...) Devem também considerar desde logo suspeitas as predições com épocas marcadas e todas as indicações precisas referentes a interesses materiais.
Toda cautela com as providências prescritas ou aconselhadas pelos Espíritos, quando os fins não forem claramente razoáveis.
Jamais se deixar ofuscar pelos nomes usados pelos Espíritos para darem validade as suas palavras.
Desconfiar das teorias e sistemas científicos ousados. Enfim, desconfiar de tudo o que se afaste do objetivo moral das manifestações. Poderíamos escrever um volume dos mais curiosos com as estórias de todas as mistificações que têm chegado ao nosso conhecimento.
A falta de observação dessas instruções tem permitido a divulgação e aceitação de numerosas teorias pseudo-cientificas em nosso país e em todo o mundo, que contribuem para o descrédito do Espiritismo. A vaidade pessoal de médiuns, de estudiosos da doutrina e até mesmo de intelectuais de valor inegável, estes sempre dispostos a criticar e a superar Kardec, tem levado essas pessoas ao ridículo, inutilizando-as para o verdadeiro trabalho de divulgação e orientação. Essas instruções devem ser lidas e meditadas pelos que desejam realmente servir à causa espírita
.”

Assim sendo, prezado leitor, se desejamos estar aptos a seguir a causa espírita, levemos em consideração tais instruções, precavendo-nos, assim, dos engodos que dão o ar da graça em nosso meio. Somente o estudo atento das obras kardecianas, somados ao desenvolvimento do senso crítico alicerçado na mais severa lógica, pode imunizar-nos desses vírus inoculados pelos inimigos secretos do Espiritismo e do bem geral. Amar ao próximo não é somente aliviar suas dores, mas preveni-las, e isso começa por libertá-lo de tudo que conduza ao erro e à ilusão, que, consequentemente, levará ao sofrimento. Na ignorância repousa a origem de todo o mal.



19 dezembro 2009

Emmanuel referenda Ramatis?

Emmanuel teria emitido opiniões contraditórias em suas mensagens
Tempos atrás tomamos conhecimento de um texto onde o espírito Emmanuel teria referendado os ditados ramatisianos. Já vínhamos verificando que, em praticamente todo assunto, a opinião do espírito Emmanuel vinha sendo indevidamente usada por boa parte de pessoas que se dizem espíritas para referendar determinada posição doutrinária, ou mesmo de cunho filosófico, científico e religioso. Porém, o que temos percebido ao longo do tempo é que a citada entidade espiritual, que só se comunicou através do médium Chico Xavier, teria adotado posicionamentos antagônicos e contraditórios, o que é, convenhamos, algo bastante estranho e digno de suspeição, o que fez com que viéssemos a pesquisar mais a fundo a questão.

Antes de listarmos essas posturas estranhas e suas fontes e origens, é bom que se cite a possibilidade de algum arranjo para "encaixar" Emmanuel ao lado de certos grupos, com o intuito de dar autoridade a certas opiniões. Embora eu particularmente tenha minhas dúvidas sobre isso, o que se sabe bem até hoje é que a Federação Espírita Brasileira (FEB) sempre teve a "preocupação" de destruir os originais das mensagens psicografadas, sendo que Chico Xavier anuía com o fato, dentro de sua postura altamente passiva e subserviente, principalmente em relação aos dirigentes febeanos, que eram tratados como indivíduos praticamente perfeitos e acima de quaisquer suspeitas pelo citado médium. Tal realidade pode ser facilmente verificada e constatada através da leitura do livro "Testemunhos de Chico Xavier" (1986), de autoria de Suely Caldas Schubert e editado pela própria FEB.

Assim sendo, não seria de admirar que tenha havido dois ou mais "Emmanuéis", adredemente usados para declararem o que os dirigentes febeanos quisessem, assim como toda sorte de místicos que se aproximavam de Chico Xavier à busca de um "OK" daquele médium, erroneamente elevado à categoria de autoridade doutrinária, a despeito de sua inegável competência mediúnica e honestidade moral.

Emmanuel e Roustaing

A mais evidente aliança feita pelo espírito Emmanuel foi com o roustainguismo, isso é inegável. Tudo começou com o prefácio feito à obra "Vida de Jesus", do autor declaradamente rustenista Antônio Lima, em que da primeira à última página, o autor defende os princípios rustenistas, como o corpo fluídico de Jesus e a queda angélica, entre outros disparates que colidem frontalmente com a Doutrina Espírita. Emmanuel chega a afirmar que o entendimento das questões abordadas no livro exigem uma espécie de entendimento superior, que ainda não está ao alcance de todos. Defendendo a diversidade no meio doutrinário, Emmanuel chega a declarar que “Cada qual, à maneira de Antônio Lima, poderá trazer o fruto de suas meditações e de seus estudos para a grande oficina da Fé”.

Mais tarde, Emmanuel reafirma suas convicções rustenistas, prefaciando, desta feita, a obra "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", uma obra que também, do inicio ao fim, faz propaganda ao rustenismo, mesmo de uma maneira velada e imperceptível a quem não conhece as idéias contidas em "Os Quatro Evangelhos", de J.B. Roustaing. O livro chega a citar Roustaing como coadjutor de Kardec, ao lado de León Dennis e Gabriel Delanne, além de fazer referência ao "anjo Ismael" como espírito guia do Brasil - lembrando que o chamado anjo Ismael sempre estimulou e defendeu o roustainguismo. Além disso, o livro contém capítulos de propaganda febeana, em que exalta a condição daquela instituição como entidade máxima e legítima do Movimento Espírita Brasileiro. E, pasmém os amigos, a obra também cita uma comunicação nitidamente apócrifa e mistificatória atribuída a Kardec-espírito, em que o Codificador exalta a FEB, o anjo Ismael e, consequentemente, o rustenismo, ao adotar também um linguajar místico-religioso. Trancreveremos aqui mais adiante para que os amigos identifiquem os absurdos, principalmente os que ainda não conhecem bem a questão.

Emmanuel e Pietro Ubaldi

O espírito Emmanuel, pela pena de F. C. Xavier, teria feito alguns comentários sobre a obra de Pietro Ubaldi:

- "Quando todos os valores da civilização ocidental desfalecem numa decadência dolorosa, é justo que saudemos uma luz como esta, que se desprende da grande voz silenciosa da 'Grande Síntese'."

- "A "Grande Síntese" é o Evangelho da Ciência, renovando todas as capacidades da religião e da filosofia, reunindo-as à revelação espiritual e restaurando o messianismo do Cristo em todos os institutos da evolução terrestre."

- "Enquanto o mundo velho se prepara para as grandes provações coletivas, sugere que meditemos sobre o campo infinito da Providência Divina, que enaltece a glória sublime e imperecível do Espírito imortal."

Vimos aí o apoio de Emmanuel à obra de Ubaldi, o que até se justifica pela similitude entre os princípios rustenistas e ubaldistas em certos pontos importantes, como o da queda angélica, por exemplo, que afronta um princípio básico e elementar da Doutrina Espírita, que é o da não-retrogradação.

Emmanuel, Herculano e Ubaldi

E dentro desta mesma tendência de apoiar tudo e todos, Emmanuel afirma ser Herculano Pires "o metro que melhor mediu Kardec". Mesmo reconhecendo que o espírito foi justo na sua consideração desta feita, mais uma vez vemos o pensamento contraditório de Emmanuel, já que Herculano foi um defensor da coerência doutrinária, e sempre alertou quanto aos perigos do Rustenismo, do Ubaldismo e do Ramatisismo.

Em relação a Pietro Ubaldi, Herculano responde a mensagem que Pietro Ubaldi enviou ao VI Congresso Espírita Pan-Americano, realizado no mês de outubro de 1963, em Buenos Aires, e que causou estranheza nos meios doutrinários. Depois de discorrer sobre a estagnação das religiões, o autor de "A Grande Síntese" chega às seguintes conclusões:

1 - "O Espiritismo estacionou na teoria da reencarnação e na prática mediúnica;
2 - Não possuindo “um sistema conceptual completo”, não pode ele ser levado a sério pela cultura atual;
3 - A filosofia espírita é limitada, não oferece uma visão completa do Todo e “não abrange todos os momentos da lei de Deus;
4 – O Espiritismo não construiu uma “teologia espírito-científica, que explique o que a católica não explica”;
5 - O Espiritismo “corre o perigo de ficar parado no nível Allan Kardec, como o catolicismo ficou no nível São Tomás e o protestantismo no nível Bíblia”.Diante dessa situação, propõe Ubaldi a adoção, pelo Espiritismo, dos livros de sua autoria, abrangendo a “série italiana” e a “série brasileira”.E explica: “Trata-se de um produto realizado de uma forma que permite que ele caiba dentro do Espiritismo, porque atingido por inspiração, que é por ele julgada a mais alta forma de mediunidade, aquela consciente, controlada pela razão”.

E logo mais afirma:

“Só assim o Espiritismo poderá avançar paralelo à ciência e exigir atenção de parte dos materialistas, porque usa a forma mental e os métodos racionais dele. Só assim o Espiritismo poderá sair do trilho dos costumeiros conceitos que se repetem nas sessões mediúnicas e colocar-se no nível do mais adiantado pensamento moderno, penetrando no terreno da filosofia e da ciência e situando-se na sua altura”.

Ao que Herculano responde:

"A redação e a tradução dessa mensagem de Ubaldi, como se vê, por estes pequenos trechos, estão muito abaixo do texto de suas obras mais inspiradas, que pertencem à “série italiana”. Por outro lado, verifica-se que faltou a Ubaldi a percepção necessária para captar o processo espírita em suas verdadeiras dimensões. O admirável médium de A Grande Síntese revela absoluta falta de acuidade e de compreensão da realidade espírita no mundo de hoje, onde o Espiritismo vem cumprindo serenamente a sua finalidade. A sua crítica ao Espiritismo, resumida nos cinco pontos acima, coincide com a dos adeptos menos instruídos na doutrina, e pode ser respondida, ponto por ponto, por qualquer adepto de inteligência e cultura medianas, que conheça a Doutrina Espírita. Por outro lado, o oferecimento de suas obras ao Espiritismo revela desconhecimento da natureza da nossa doutrina e das exigências metodológicas para a aceitação da proposta, que não cobre essas exigências. Ubaldi desenvolveu suas faculdades mediúnicas à margem do Espiritismo. Seu primeiro livro, A Grande Síntese, apresenta curioso paralelismo com o Espiritismo, o que lhe valeu a simpatia e a amizade dos espíritas brasileiros. Na Itália ou no Brasil, porém, Ubaldi recusou-se sempre a integrar-se no movimento espírita, filiando-se na península à corrente da Ultrafânia, do prof. Trespioli, que pretende haver superado a concepção espírita.
Em seu livro 'As Noúres', Ubaldi nos oferece a concepção ultrafâníca da mediunidade, na qual enquadra o seu caso pessoal. É uma pretensiosa concepção de mediunidade cósmica, fugindo à naturalidade e simplicidade das comunicações espirituais entre espíritos desencarnados e médiuns. As pretensões de Ubaldi o transformaram, de simples médium em autor messiânico, agora arvorado em reformador do Espiritismo.Respondemos aos itens da sua crítica da seguinte maneira:

1 - O Espiritismo é uma doutrina evolucionista, como o provam as suas obras fundamentais e o seu imenso desenvolvimento em apenas cem anos de existência;
2 - O sistema conceptual espírita é completo e sua síntese está em O Livro dos Espíritos;
3 - A filosofia espírita não pode abranger o Todo e muito menos “todos os momentos da lei de Deus”, porque isso não está ao alcance de nenhuma elaboração mental, no plano relativo da vida terrena;
4 - A teologia espírita é limitada às possibilidades atuais do conhecimento de Deus, segundo ensina Allan Kardec, e essas possibilidades não admitem ainda a criação na Terra de uma teologia científica, nem dentro nem fora do Espiritismo;
5 - O “nível Allan Kardec” não é o do Espiritismo, mas sim o “nível Espírito da Verdade”, de quem Kardec, segundo dizia, foi um “simples secretário”. Encontrando-se, pois, nesse plano de revelação constante e progressiva, que é o da manifestação do Espírito da Verdade, segundo o próprio Kardec adverte, o Espiritismo está livre dos perigos da estagnação dogmática. Se, pelo contrário, adotasse as obras de Ubaldi para completá-lo, o Espiritismo cairia imediatamente no dogmatismo. Para cumprir sua missão, em todos os campos da atividade humana, o Espiritismo tem de manter-se como Ciência do Espírito (que investiga o elemento inteligente do Universo, paralelamente com a Ciência da Matéria, que investiga o elemento material); como Filosofia Livre, “sem os prejuízos do espírito de sistema”, segundo a expressão feliz de Kardec; e como Religião em Espírito e Verdade, de acordo com o anúncio do Cristo à Mulher Samaritana."

Emmanuel e Ramatis

Embora Ramatis discorde de Roustaing na questão do corpo fluídico, possua teoria própria em relação à queda angélica, defenda Jesus como um espírito e o Cristo como outro, afirme, ao contrário de Emmanuel, que Jesus tenha estado e aprendido com os essênios, e defenda uma mescla com as religiões orientais, ao contrário da tese cristocêntrica apoiada pela FEB, anjo Ismael, Roustaing e Emmanuel, este último, seguindo um posicionamento deveras contraditório, comenta sobre o posicionamento de Ramatis em relação aos fim dos tempos catastrófico e quejandos.

Leiamos o relato ramatisista:

"Logo que apareceram as primeiras publicações da "Conexão de Profecias" (hoje com o título Mensagens do Astral), de Ramatis, fomos a Pedro Leopoldo, a fim de ouvir a palavra autorizada de Emmanuel, através daquele aparelho maravilhoso que é Francisco Cândido Xavier. Isto, porque o que era dito pelo espirito de Ramatis, parecia-nos perfeitamente lógico. Mas, como constituía novidade, não queríamos aceitar de pronto algo que não passasse pelo crivo de várias manifestações mediúnicas, através de diversos aparelhos.Desta forma, munidos do aparelho de gravação em fita, fomos atendidos gentilmente pelo médium, que respondeu às perguntas que fazíamos, repetindo as palavras da resposta, que eram ditadas por Emmanuel. A gravação foi feita no dia 5 de janeiro de 1954. Conservamos até hoje o rolo gravado em nosso poder. Passamos a estampar as perguntas e respectivas respostas:

Pergunta: - "Que pode o irmão dizer-nos a respeito do astro que se avizinha, segundo a predição de Ramatis?"

Chico Xavier: - "Afirma nosso Orientador espiritual que não podemos esquecer que a Terra, em sua constituição física, propriamente considerada, possui os seus grandes períodos de atividade e de repouso. Cada período de atividade e cada período de repouso da matéria planetária, que hoje representa o alicerce de nossa morada temporária, pode ser calculado, cada um, em duzentos e sessenta mil (260.000) anos. Atravessando o período de repouso da matéria terrestre, a vida se reorganiza, enxameando de novo, nos vários departamentos do Planeta, representando, assim, novos caminhos para a evolução das almas.Assim sendo, os grandes instrutores da Humanidade, nos planos superiores, consideram que, desses 260.000 anos de atividade, 60 a 64 mil anos são empregados na reorganização dos pródomos da vida organizada. Logo em seguida, surge o desenvolvimento das grandes raças que, como grandes quadros, enfeixam assuntos e serviços, que dizem respeito à evolução do espírito domiciliado na Terra. Assim, depois desses 60 a 64 mil anos de reorganização de nossa Casa Planetária, temos sempre grandes transformações, de 28 em 28 mil anos. Depois do período dos 64 mil anos, tivemos duas raças na Terra, cujos traços se perderam, por causa de seu primitivismo. Logo em seguida, podemos considerar a grande raça Lemuriana, como portadora de urna inteligência algo mais avançada, detentora de valores mais altos, nos domínios do espírito. Após a raça Lemuriana - em seguida aos 28.000 anos de trabalho lemuriano propriamente considerado - chegamos ao grande período da raça Atlântida, era outros 28.000 anos de grandes trabalhos, no qual a inteligência do mundo se elevou de maneira considerável.

Achamo-nos, agora, nos últimos períodos da grande raça Ariana. Podemos considerar essas raças, como grandes ciclos de serviços, em que somos chamados de mil modos diferentes, em cada ano de nossa permanência na crosta do planeta, ou fora dela, ao aperfeiçoamento espiritual, que é o objetivo de nossas lutas, de nossos problemas, de nossas grandes questões, na esfera de relações, uns para com os outros. Assim considerando, será mais significativo e mais acertado, para nós, venhamos a estudar a transformação atual da Terra sob um ponto de vida moral, para que o serviço espiritual, confiado às nossas mãos e aos nossos esforços, não se perca em considerações, que podem sofrer grandes alterações, grandes desvios; porque o serviço interpretativo da filosofia e da ciência está invariavelmente subordinado ao Pensamento Divino, cuja grandeza não podemos perscrutar. (Neste ponto, ele sutilmente discorda de Ramatis.)

Cabe-nos, então, sentir, e, mais ainda, reconhecer, que os fenômenos da vida moderna e as modificações que nosso "habitat" terreal vem apresentando nos indicam a vizinhança de atividades renovadoras, de considerável extensão. Daí esse afluxo de revelações da vida extra-terrestre, incluindo sobre as cogitações dos homens; esses apelos reiterados, do mundo dos espíritos; essa manifestação ostensiva, daqueles que, supostamente mortos na Terra, são vivos na eternidade, companheiros dos homens em outras faixas vibratórias do campo em que a humanidade evolui. Toda essa eclosão de notícias, de mensagens, de avisos da vida espiritual, devem significar para o homem, domiciliado na Terra do presente século, a urgência do aproveitamento das lições de JESUS. Elas devera ser apreciadas em si mesmas, e examinadas igualmente no exemplo e no ensinamento de todos aqueles que, em variados setores culturais, políticos e filosóficos do globo - lhe traduzem a vontade divina, que na essência é sempre a nossa jornada para o Supremo Bem.

Elogios rasgados e críticas veladas...


"Os termos da comunicação obtida em Curitiba (a "Conexão de Profecias", de Ramatis) são de admirável conteúdo para a nossa inteligência, de vez que, realmente, todos os fatos alusivos à evolução da Terra, e referentes a todos os eventos, que se relacionam com a nossa peregrinação para a vida mais alta, estão naturalmente planificados, por aqueles ministros de Nosso Senhor Jesus Cristo; os quais, de acordo com Ele, estabelecem programas de ação para a coletividade planetária, de modo a facilitar-lhe os vôos para a divina ascensão. Embora, porém, esta mensagem, por isso mesmo, seja digna de nosso melhor apreço, contudo, na experiência de companheiro mais velho, recomenda-nos nosso Orientador Espiritual (Emmanuel) um interesse mais efetivo, para a fixação de valores morais em nossa personalidade terrena, de conformidade com os padrões estabelecidos no Evangelho de nosso Divino Mestre. Porque, para nossa inteligência, os fenômenos renovadores da existência que nos cercam têm qualquer coisa de sensacional, de surpreendente, nosso coração de inclinar-se, humilde, diante da Majestade do Senhor, que nos concede tantas oportunidades de trabalho, em nós mesmos, a revelação dos grandes acontecimentos porvindouros; novo soerguimento íntimo, novo modo de ser, a fim de que estejamos realmente habilitados a enfrentar valorosamente as lutas que se avizinham de nós, e preparados para desfrutar a Nova Era que, qual bonança depois da tempestade, facilitará nossos círculos evolutivos. Será, todavia, muito importante encarecer, que não devemos reclamar, do terceiro milênio, uma transformação absolutamente radical, nos processos que caracterizam, por enquanto, a nossa vida terrestre. O prazo de 47 anos é diminuto, para sanar os desequilíbrios morais, de tantos séculos, em que o nosso campo coletivo e individual adquiriu tantos débitos, diante da sabedoria e diante do amor, que incessantemente apelam para nossa alma, no sentido de nos levantarmos, para uma clima mais aprimorado da existência."

Vimos, logo acima, uma flagrante discordância.

Chico Xavier/Emmanuel prosseguem:

"Não podemos esquecer, que grandes imensidades territoriais, na América, na África e na Ásia, nos desafiam a capacidade de trabalho. Não podemos olvidar, também, que a Europa, superalfabetizada, se encontra num Karma de débitos clamorosos, à frente da Lei, em doloroso expectação, para o reajuste moral, que Ihe é necessário.Aqui mesmo, no Brasil, numa nação com capacidade de asilar novecentos (900) milhões de habitantes, em quatrocentos e alguns anos de evolução, mal estamos -os espíritos, encarnados na Terra em que temos a bênção de aprender ou recapitular a lição do Evangelho - mal estamos passando das faixas litorâneas. Serviços imensos esperam por nossas almas no futuro próximo. E, se é verdade que devemos aguardar, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, condições mais favoráveis para a estabilização da saúde humana, para o acesso mais fácil às fontes da ciência; se nos compete a obrigação de esperar o melhor para o dia de amanhã cabe-nos, igualmente, o dever de não olvidar que, junto desses direitos, responsabilidades constringentes contam conosco, para que o Mundo possa, efetivamente, atender ao programa Divino, através, não somente da superestrutura do pensamento científico - que é hoje um teto brilhante para os serviços de inteligência do mundo - mas também, através de nossos corações, chamados a plasmar uma vida, que seja realmente digna de ser vivida por aqueles que nos sucederão nos tempos duros; entre os quais, naturalmente, milhões de nós os reencarnados de agora, formaremos, de novo, como trabalhadores que voltam para o prosseguimento da tarefa de auto acrisolamento, para a ascensão sublime, que o Senhor nos reserva.

Mais discordâncias, porém com elogios...

Pergunta: - "Foi, de fato, há 37.000 anos que submergiu a Atlântida?" (Ramatis afirma isso)

Chico Xavier: - "Diz nosso Amigo (Emmanuel) que o cálculo é, aproximadamente, certo, considerando-se que as últimas ilhas, que guardavam os remanescentes da civilização atlântida, submergiram, mais ou menos, 9 a 10 mil anos, antes da Grécia de Sócrates."

Pergunta: - Poderíamos ter alguns informes a respeito de Antúlio? (Para Ramatis, Antúlio foi uma das encarnações de Jesus)

Chico Xavier: - "Vejo, aqui, nosso diretor espiritual, Emmanuel, que nos diz que um estudo acerca da personalidade de Antúlio exigiria minudências relacionadas com a história, no espaço e no tempo, que, de imediato, não podemos realizar. De modo que, tão somente, pode afiançar-nos que se trata de uma entidade de elevada hierarquia, no plano espiritual; vamos dizer, um assessor, ou um daqueles assessores, que servem nos trabalhos de execução do plano divino, confiado ao Nosso Senhor Jesus Cristo, para a realização do progresso da Terra, em geral. Esclarece nosso amigo que Jesus Cristo, como governador de nosso mundo, no sistema solar, conta, naturalmente, com grandes instrutores, para a evolução física e para a evolução espiritual, na organização planetária. E, subordinados a esses ministros, para o progresso da matéria e do espirito, no plano que nós habitamos presentemente, conta Ele com uma assembléia de múltiplos instrutores, de variadas condições, que lhe obedecem as ordens e instruções, numa esfera, cuja elevação, de momento, escapa à nossa possibilidade de apreciação. Antúlio forma no quadro destes elevados servidores." (Visão cristocêntrica de Emmanuel x visão descentralizada de Ramatis)

Quem consegue entender?

Pergunta: - "Acha nosso irmão que a Mensagem de Ramatis deva ser divulgada com amplitude?"

Chico Xavier: - "Diz nosso Orientador que a Mensagem é de elevado teor... E todo trabalho organizado com o respeito, com o carinho e com a dignidade, dentro dos quais essa Mensagem se apresenta, merece a nossa mais ampla consideração, de vez que todos nós, em todos os setores, somos estudiosos, que devemos permutar as nossas experiências e as nossas conclusões para a assimilação do progresso, com mais facilidade em favor de nós mesmos."

Dentro dessa salada doutrinária de Emmanuel, temos elogios e considerações favoráveis a todos. Teses e idéias das mais antagônicas são apoiadas por Emmanuel, desde o orientalismo catastrofista de Ramatis até o religiosismo católico impregnado em Roustaing.

E a pergunta é: De que lado está/esteve Emmanuel?

ADENDOS

Conforme prometido, vamos analisar o que o Kardec-espírito da FEB teria ditado em sua mensagem através do médium rustenista Frederico Júnior e espertamente publicada no livreto "A Prece", como para referendar a "missão" do anjo Ismael, a da FEB como "casa-máter", a do Brasil como "coração do mundo, pátria do Evangelho" e do roustainguismo.

"Sendo assim, a esse pedaço de terra, a que chamais Brasil, foi dada também a Revelação da Revelação...", pág. 13

Nosso comentário: Revelação da Revelação é sub-título de "os Quatro Evangelhos".

"Ismael, o vosso guia, tomando a responsabilidade de vos conduzir ao grande templo do amor e da fraternidade humana, levantou a sua bandeira, tendo inscrito nela - Deus, Cristo e Caridade. Forte pela dedicação, animado pela misericórdia de Deus. que nunca falta aos trabalhadores, sua voz santa e evangélica ecoou em todos os corações, procurando atraí-los para um único agrupamento onde, unidos..., onde enlaçados num único sentimento - o do amor - pudessem adorar o Pai em Espírito e Verdade..."

Nosso comentário: A expressão "em espírito e verdade" é exaustivamente repetida nos livros de Roustaing, e na mensagem a puseram na boca de Kardec...

Mais referências do Kardec-espírito da FEB enaltecendo o anjo Ismael:

"...todos os espíritas tinham o dever sagrado de vir aqui se agruparem - ouvir a palavra sagrada do bom Guia Ismael - único que dirige a propaganda da Doutrina nesta parte do planeta e único que tem a responsabilidade de sua marcha e desenvolvimento." (págs. 14/15)

O pseudo-Kardec da FEB renuncia á sua condição de Codificador do Espiritismo ao declarar que a Doutrina Espírita está contida nos "Os Quatro Evangelhos" de Roustaing - A Revelação da Revelação:

"...tudo converge para a Doutrina Espírita - Revelação da Revelação". (pág. 16)

O "templo" de Ismael é exaltado:

"Disciplinai-vos pelos bons costumes no Templo de Ismael..." (pág. 19)

Como se vê, num centro doutrinariamente roustainguista, a mensagem atribuída a Kardec não poderia ser de outra forma. Os espíritos, adeptos do Docetismo (que pregava o corpo aparente de Jesus), ressuscitado por Roustaing, a cuja falange pertence Ismael, forjaram um Kardec para atestar a suposta missão do "anjo" Ismael e a importância da "Revelação da Revelação". Um Kardec irreconhecível, que sai em defesa desesperada de Ismael e diz:

"Assim, quando os inimigos da Luz - quando o espírito da trevas julgava esfacelada a bandeira de Ismael, símbolo da Trindade Divina..." (pág. 14)

Vemos dois erros graves: a expressão "espírito das trevas", que Kardec jamais usou, por ser errada e inadequada (ver pergunta 361-A de O LE), e a defesa da trindade divina, inaceitável para o Espiritismo.

O Kardec da FEB é místico

Vejam só:

"Se fora possível, a todos os que estremecem diante desses quadros horrorosos, praticar o jejum de que falava Jesus aos seus apóstolos; se fora possível a cada um compreender o papel do verdadeiro sacerdote, de que se acha incumbido, quando procura repartir a hóstia sagrada, no altar de Jesus, com seus irmãos na Terra." (p.250)

O pseudo-Kardec da FEB enaltece a caridade sem discernimento:

"A caridade que exclui a razão, a prudência e o bom-senso - a verdadeira caridade - é instintiva!" (p.29)

E se contradiz mais adiante:

"Assim pois, o bem deve ser feito indistintamente, seja qual for o terreno em que houvermos de praticar. Mas, nem o próprio bem pode excluir a nossa razão, quando, tratando-se da justiça de Deus, pretendemos contrariá-la." (p.36)

Mais alguns detalhes

Emmanuel: "O Consolador", perg. 243, 277, 283 e 287, afirma, em defesa da evolução de Jesus em linha reta, isto é, sem reencarnar, exatamente como encontramos em Roustaing:

"Todas as entidades espirituais encarnadas no orbe terrestre são Espíritos que resgatam ou aprendem nas experiências humanas, após as quedas do passado, com exceção de Jesus-Cristo, fundamento de toda a verdade neste mundo, cuja evolução se verificou em linha reta para Deus, e em cujas mãos angélicas repousa o governo espiritual do planeta, desde os seus primórdios."

"O Eleito, porém, é aquele que se elevou para Deus em linha reta, sem as quedas que nos são comuns, sendo justo afirmar que o orbe terrestre só viu um eleito, que é Jesus-Cristo."

"Antes de tudo, precisamos compreender que Jesus não foi um filósofo e nem poderá ser classificado entre os valores propriamente humanos, tendo-se em conta os valores divinos de sua hierarquia espiritual, na direção das coletividades terrícolas."

"A dor material é um fenômeno como o dos fogos de artifício, em facedos legítimos valores espirituais."

"Homens do mundo, que morreram por uma idéia, muitas vezes não chegaram a experimentar a dor física, sentindo apenas a amargura da incompreensão do seu ideal."

"Imaginai, pois, o Cristo, que se sacrificou pela Humanidade inteira, e chegareis a contemplá-Lo na imensidão da sua dor espiritual, augusta e indelével para a nossa apreciação restrita e singela."

"De modo algum poderíamos fazer um estudo psicológico de Jesus,estabelecendo dados comparativos entre o Senhor e o homem."

"Examinados esses fatores, a dor material teria significação especial para que a obra cristã ficasse consagrada? A dor espiritual, grande demais para ser compreendida, não constitui o ponto essencial da sua perfeita renúncia pelos homens?"

Chico Xavier fala de Roustaing

"Aguardo, com justificado interesse, o teu trabalho sobre Kardec-Roustaing. Deve ter sido um esforço exaustivo, mas muito lindo, o de procurar notícias das relações de ambos, nas publicações do "Espiritismo jovem". Creio que esse trabalho, do qual te ocupas agora, é de profunda significação para o nosso movimento. Esperarei o "Reformador", de outubro próximo, ansiosamente." (Carta de Chico Xavier ao então presidente da FEB, Wantuil de Freitas, a 15 de setembro de 1946, a propósito de um estudo de autoria de Wantuil, publicado na edição de outubro do mesmo ano em "O Reformador")

"Sinto inveja da leitura que vens fazendo com o Ismael da "Revue Spirite". Deve ser um encanto entrar em contato com essas coleções antigas. Creio que estás fazendo esse trabalho com a inspiração de nossos Maiores. Creio, não - tenho a certeza disso. Que possamos recolher muitos frutos dessa tarefa abençoada é o meu desejo muito sincero. Aguardo tuas notícias novas sobre a revisão do "Roustaing". Não te excedas nesse serviço. Das 7 às 23 horas é demais. Resguarda teus órgãos visuais. Lembra-te de que a tua família espiritual hoje é enorme. " (Idem, com data de 25 de setembro de 1946, ainda sobre o mesmo assunto)

Chico comenta, ainda uma vez, em correspondência com data de 29 do mesmo mês, a nova edição da obra de Roustaing:"

(...) Aguardo com muito interesse a nova edição do "Roustaing". Constituirá um grande serviço à Causa da Verdade e do Bem, nos moldes de que me tens dado notícias.

Sobre o trecho de Roustaing em "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho":

"Não te incomodes com a declaração havida de que o trecho alusivo a Roustaing, em "Brasil", foi colocado pela Federação. Quando descobrirem que a Casa de Ismael seria incapaz disso, dirão que fui eu. De qualquer modo, eles falarão. O adversário tem sempre um bom trabalho - o de estimular e melhorar tudo, quando estamos voltados para o bem. "(Carta de Chico para Wantuil, de 25 de março de 1947)

O presidente da FEB dá-lhe algumas informações sobre o caso, também por correspondência. Chico agradece, em nova missiva, esta última de 15 de abril do mesmo ano:

"Agradeço as notícias que me deste, relativamente ao caso da acusação havida quanto ao livro "Brasil". Deus te proteja em teu ministério de supervisão espiritual."

Meses mais tarde, ambos retornam ao assunto, dessa vez falando sobre uma nova edição desta obra. Wantuil enviara a Chico um exemplar com pequenos ajustes de redação, mas estava especialmente preocupado com a polêmica surgida sobre o trecho referente a Roustaing, e avaliava a possibilidade de adiar-se um pouco a nova tiragem, ou mesmo de submeter o trecho à revisão do autor espiritual. Chico discorda, e apresenta sua ponderação, em correspondência de 24 de agosto de 1947:

"Nosso gesto poderia traduzir, para muitos, temor ou excessiva consideração para com o bloco que nos acusa de interpolar os textos mediúnicos, porque não tendo havido uma providência desta, em qualquer edição dos livros recebidos em Pedro Leopoldo, desde a publicação do "Parnaso", há quinze anos, a mudança seria extremamente chocante."...

Mas deixa a decisão final para o então presidente da "Casa de Ismael", assinalando:

"De uma coisa poderemos estar certos - é de que nunca estaremos livres da perseguição e da leviandade dos nossos adversários gratuitos. Mais vale recebê-los com paternal vigilância que dispensar-lhes excessiva consideração.(...)"

Santa ingenuidade...

Sobre a revisão geral do texto, de natureza linguística, Chico agradece a dedicação de Wantuil em nova carta, enviada apenas seis dias depois:

"Restituí-te o livro ontem com todas as corrigendas que fizeste e podes crer que esses reajustamentos e todos os outros que puderes fazer, no "Brasil, Coração do Mundo"e em todos os outros livros, representam motivo de imenso prazer e de indefinível conforto para mim. Deus te recompense."

Em outubro de 1947, Wantuil publica em "O Reformador" um artigo sobre a questão do corpo fluídico de Jesus, um dos pontos mais importantes da obra "Os Quatro Evangelhos". Chico elogia o trabalho feito em missiva de 13 de novembro...

"Considero muito valiosa a página "Corpo Fluídico?", do Reformador de outubro próximo passado. É de autoria de quem? Trata-se de um trabalho condensado de grande expressão educativa."... e ainda reforça o elogio em outra, de 22 do mesmo mês:

"Minhas felicitações pela encantadora e substanciosa página "Corpo Fluídico?". Creio que deves continuar a produzir trabalhos semelhantes para a nossa edificação geral."

1951, 15 de março. Os filhos de Wantuil seguem para a Europa. Vão a Bordéus (cidade de Roustaing) e Paris, em missão de pesquisa. Chico alegra-se com a notícia:

"Estou muito contente com a partida dos teus rapazes para a Europa. Será um grande serviço à nossa Causa a visita a Bordéus e Paris. Observador quanto é, Zêus pode trazer muito material informativo edificante para nós no Brasil, mormente no que se refere à obra de Roustaing. Também lastimo que o tempo dos dois estimados viajantes seja tão curto lá."

1952, 23 de outubro: "Minhas felicitações pelo teu belo trabalho com a obra de Roustaing. Está realizando um serviço de grande importância para o nosso ideal."

Em março de 53, Chico demonstra curiosidade sobre as vendas das obras de Kardec, Roustaing e dos grandes pioneiros de nossa doutrina - Léon Denis, Flammarion e Dellane - ressaltando seu valor doutrinário:

"Tendo em alta conta e profunda estima a obra de Kardec e de Roustaing e dos grandes pioneiros que foram Léon Denis, Flammarion e Delanne, ficaria muito contente e agradecido se me desses a conhecera estatística sobre a penetração dos livros que nos legaram, em nossa Pátria, caso tenhas essa estatística com facilidade. Considero essa penetração muito importante para o traalho de nossa Consoladora Doutrina, no Brasil."Wantui envia-lhe os dados requeridos. Chico agradece, a 27 de junho do mesmo ano:"Grato pelas notícias dos grandes pioneiros Roustaing, Denis, Flammarion e Dellane. Se a "Revue Spirite" algo publicar, esperarei tuas notícias."

Mensagem de Ismael sobre a Concepção da "Virgem" e a Natureza do Corpo de Jesus

Abaixo uma mensagem de Ismael sobre o corpo de Jesus, recebida por Frederico Pereira da Silva Junior:

"Meus filhos, bem pouco me cabe dizer sobre o vosso estudo de hoje. Soubestes guardar convosco a paz que os vossos guias vos trouxeram e, recebendo facilmente as suas inspirações, pudestes, com o vosso próprio espírito, tocar a verdade. É assim que firmastes opinião definitiva sobre a concepção da sempre Virgem e sobre o corpo aparentemente carnal de Nosso Senhor Jesus Cristo. Se a opinião isolada do vosso bom Mestre Allan Kardec pôde, de alguma sorte, influir no entendimento de alguns, fazendo-lhes crer que o Redentor do mundo viera revestir-se da matéria grosseira dos corpos comuns, para dar o exemplo das maiores virtudes, encaminhando a humanidade inteira para a terra da promissão, hoje, que todos os Espíritos bem iluminados afirmam que o nascimento de Jesus foi todo aparente, que o seu corpo apenas se constituíra de fluidos concentrados no seio da sempre Virgem Maria, não há razão de ser para duas opiniões a tal respeito. Maria foi sempre mãe de Jesus, como todas as mães são mães dos homens. Se o que se gera no ventre da mulher não é o Espírito, mas sim a massa que vai vestir o mesmo Espírito, incontestavelmente Maria foi mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo.

E, assim, bem o vêdes, realizaram-se todas as profecias; e, assim, veio ao mundo Aquele a quem devemos a Seara da abundância, os frutos da verdade. Insistamos: a opinião do homem, falível quase sempre, pôde como que inocular, no espírito de seus irmãos, a idéia de que Jesus, se não revestisse um corpo carnal, igual ao de todas as criaturas humanas, seus sofrimentos seriam nulos. Entretanto, como bem disseram entre vós, qual o maior sofrimento, o físico ou o sofrimento moral? Mas, mesmo com esse corpo de natureza celeste, com essa reunião de moléculas fluídicas, que ainda desconheceis, não seria possível o próprio sofrimento físico do Redentor? Quem sofre, é o Espírito ou a carne? Não é a lesão, o golpe sobre a matéria que, por intermédio do perispírito, faz chegar ao Espírito as sensações e a dor? Vêdes, portanto, que não pode prevalecer de modo algum a opinião isolada do vosso bom Mestre Allan Kardec. Meus filhos, continuemos a estudar os Evangelhos do Senhor em todos os seus mais pequeninos detalhes. Procurai conhecer o espírito de toda a letra, com humildade, porque a verdade há de fazer-se aos vossos olhos, como um testemunho do agrado do Senhor, que vos vê esquecidos das paixões do mundo, concentrados, estudando a vida do seu amado Filho. O único requisito que se vos pede é a humildade." Ismael

30 maio 2009

O Espiritismo e a questão vegetariana

A vaca é sagrada na Índia
A questão da alimentação sempre foi motivo de discussão. A abstenção desse ou daquele alimento sempre foi discutida e recomendada, e teve variadas finalidades de acordo com o povo, a época, a cultura e a região.

Conhecedor de tal realidade, Kardec perguntou aos Espíritos:

"A abstenção de certos alimentos, prescrita entre diversos povos, funda-se na razão?"

“Tudo aquilo de que o homem se possa alimentar, sem prejuízo para a sua saúde, é permitido. Mas os legisladores puderam interditar alguns alimentos com uma finalidade útil. E para dar maior crédito às suas leis apresentaram-nas como provindas de Deus”. (O Livro dos Espíritos, questão nº721 )

Hoje, no meio espírita, tem crescido a idéia da carne como sendo um alimento impuro, que poderia interferir inclusive no potencial mediúnico dos médiuns e até no destino espiritual das criaturas. Um dos responsáveis por tais idéias: o polêmico espírito Ramatis.

O livro "Fisiologia da Alma", psicografado pelo espiritualista e vegetariano radical Hercílio Maes, aborda o vegetarianismo muito mais em consonância ao pensamento hinduísta, radicalizando a questão e abordando-o sob um suposto prisma "espiritual". Daí, foi um pulo para que certos "espíritas", na verdade simpatizantes de Ramatis, passassem a dizer que não se podia ser verdadeiro espírita aquele que consumisse carne. O radicalismo de Ramatis no citado livro é tanto que, recentemente, um dos seus médiuns chegou a escrever em seu site: "Não acredito em vegetarianismo radical e não sou vegetariano", comentando sobre algumas idéias polêmicas contidas nos livros de seu antecessor, o paranaense Hercílio Maes.

A postura de gigantes no entendimento doutrinário em relação ao modismo vegetariano foi firme. A difusão no movimento espírita da “idéia” de que comer carne vermelha é proibido aos médiuns foi tida por Herculano Pires como típica do “misticismo igrejeiro”, ou resultante da contaminação por idéias do orientalismo mágico, constituindo-se, assim, em um flagrante engano, do ponto de vista científico-doutrinário.

Observemos que o tema não escapou a Kardec e aos Espíritos Superiores:

"A alimentação animal, para o homem, é contrária à lei natural?"

“Na vossa constituição física, a carne nutre a carne, pois do contrário o homem perece. A lei de conservação impõe ao homem o dever de conservar as suas energias e a sua saúde para poder cumprir a lei do trabalho. Ele deve alimentar-se, portanto, segundo o exige a sua organização”. (Em "O Livro dos Espíritos, questão 722)

"A abstenção de alimentos animais ou outros, como expiação é meritória?"

“Sim, se o homem se priva em favor dos outros, pois Deus não pode ver mortificação quando não há privação séria e útil. Eis porque dizemos que os que só se privam em aparência são hipócritas”.(Ver item 720.) (O Livro dos Espíritos, questão nº724)

"As privações voluntárias, com vistas a uma expiação igualmente voluntária, têm algum mérito aos olhos de Deus?"

“Fazei o bem aos outros e tereis maior mérito”. (idem, questão nº 720)

Referindo-se justamente às crenças hinduístas, em que até mesmo animais perigosos à saúde humana, como baratas e ratos, não podem ser mortos, Kardec indagou:

"Os povos que levam ao excesso o escrúpulo no tocante à destruição dos animais têm mérito especial?"

“É um excesso, num sentimento que em si mesmo é louvável, mas que se torna abusivo e cujo mérito acaba neutralizado por abusos de toda espécie. Eles têm mais temor supersticioso do que verdadeira bondade”.(grifo nosso) (O Livro dos Espíritos, questão nº 736)

Vejamos ainda o que consta de "O Evangelho Segundo o Espiritismo":

"... Amai, pois, a vossa alma, mas cuidai também do corpo, instrumento da alma; desconhecer as necessidades que lhe são peculiares por força da própria natureza, é desconhecer as leis de Deus. Não o castigueis pelas faltas que o vosso livre arbítrio o fez cometer, e pelas quais ele é tão responsável como o cavalo mal dirigido o é, pelos acidentes que causa. Sereis por acaso mais perfeitos, se, martirizando o corpo, não vos tornardes menos egoístas, menos orgulhosos e mais caridosos? Não, a perfeição não está nisso, mas inteiramente nas reformas a que submeterdes o vosso Espírito. Dobrai-o, subjugai-o, humilhai-o, mortificai-o: é esse o meio de o tornar mais dócil à vontade de Deus, e o único que conduz à perfeição."

Tal ensino está em perfeita conformidade com o do Cristo, exarado nas seguintes passagens:

"E chamando a si as turbas, lhes disse: Ouvi e entendei. Não é o que entra pela boca o que faz imundo o homem, mas o que sai da boca, isso é o que faz imundo o homem”. (Mateus, XV:11).

"E respondendo Pedro, lhe disse: Explica-nos essa parábola. E respondeu Jesus: Também vós outros estais ainda sem inteligência? Não compreendeis que tudo o que entra pela boca desce ao ventre, e se lança depois num lugar escuso? Mas as coisas que saem da boca vêm do coração, e estas são as que fazem o homem imundo; porque do coração é que saem os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios, as fornicações, os furtos, os falsos testemunhos, as blasfêmias. Estas coisas são as que fazem imundo o homem. O comer, porém, com as mãos por lavar, isso não faz imundo o homem. (Mateus, XV: 16-20).

O comentário ao ensinamento de Jesus, contido n'O Evangelho Segundo o Espiritismo, é incisivo:

"...Como era mais fácil observar a prática dos atos exteriores, do que se reformar moralmente, de lavar as mãos do que limpar o coração, os homens se iludiam a si mesmos, acreditando-se quites com a justiça de Deus, porque se habituavam a essas práticas e continuavam como eram, sem se modificarem."

O respeitado médium José Raul Teixeira, certa feita, comentou a respeito, no que tange à relação entre consumo de carne e prática mediúnica:

Pergunta: "A alimentação vegetariana será mais aconselhável para os médiuns em geral?"

Raul Teixeira: "A questão da dieta alimentar é fundamentalmente de foro íntimo ou acatará a alguma necessidade de saúde, devidamente prescrita.
Afora isto, para o médium verdadeiro não há a chamada alimentação ideal, embora recomende o bom senso que se utilize uma alimentação que lhe não sobrecarregue o organismo, principalmente nos dias de reunião mediúnica, a fim de que não seja perturbado por qualquer processo de conturbada digestão que, com certeza, lhe traria diversos inconvenientes. A alimentação não define, por si só, o potencial mediúnico dos médiuns que deverão dar muito maior validade à sua vida moral do que à comida obviamente. Algumas pessoas recomendam que não se comam carnes, nos dias de tarefa mediúnica, enquanto outras recomendam que não se deve tomar café ou chocolate, alegando problemas das toxinas, da cafeína, etc., esquecendo-se que deveremos manter uma alimentação mais frugal, a partir do período em que já não tenha tempo o organismo para uma digestão eficiente. É mais compreensível, e me parece mais lógico, que a pessoa coma no almoço o seu bife, se for o caso, ou tome seu cafezinho pela manhã, do que passar todo o dia atormentada pela vontade desses alimentos, sem conseguir retirar da cabeça o seu uso, deixando de concentrar-se na tarefa, em razão da ansiedade para chegar em casa, após a reunião, e comer ou beber aquilo de que tem vontade. Por outro lado, a resposta dos espíritos à questão 723 de O Livro dos Espíritos é bastante nítida a esse respeito, deixando o espírita bem à vontade para a necessária compreensão, até porque a alimentação vegetariana não indica nada sobre o caráter do vegetariano. Lembremo-nos que o “médium” Hitler era vegetariano e que o médium Francisco Cândido Xavier se alimenta com carne”. (em "Diretrizes de Segurança")

Para os hinduístas, assim como para Ramatis, espírito que ainda traz impregnado certos atavios religiosos e culturais, dos quais não conseguiu despir-se, o ato de fazer abstinências, mortificações ou de cumprir rituais é mais fácil do que perdoar, vencer o orgulho, o ódio e o egoísmo. Muito fácil realmente, para os hipócritas, apegarem-se a fórmulas simplistas e idéias de ordenanças sagradas, pois lhes dão uma ilusória sensação de pureza.

Preocupado com o radicalismo da argumentação ramatisiana, o médium Wagner Borges, que afirma psicografar o citado espírito oriental, arrumou a seguinte justificativa, contida em seu livro "Viagem Espiritual":

"O conteúdo das idéias expostas no livro "Fisiologia da Alma" é de sua autoria, mas o radicalismo das opiniões é de Hercílio Maes, que era fanático por vegetarianismo (...)"

De qualquer forma, falta ao movimento ramatisista reconhecer tal interferência anímica e providenciar uma completa correção nos livros de Ramatis, não é mesmo?

Herculano Pires também comentou acerca da alimentação carnívora x vegetariana:

"Muitos espíritas se surpreendem ao saber que o Livro dos Espíritos não condena a alimentação carnívora e se deslumbram com livros onde ela é condenada. O exemplo da Índia seria suficiente para mostrar-lhes a razão da posição doutrinária. A subnutrição das populações indianas decorre em grande parte da zoolatria, da adoração de animais sagrados. O Espiritismo evita sacrificar o homem ao animal e ao mesmo tempo desviar os que o aceitam de um plano escorregadio de superstições. Nada é mais contrário ao racionalismo da doutrina e mais prejudicial à exata compreensão dos seus princípios do que o sentimentalismo extremado. O sacrifício brutal e brutalizante de animais em nosso mundo é realmente repulsivo. Mas estamos num mundo inferior em que as suas próprias condições naturais levam a isso”. (Mediunidade – Herculano Pires – Edicel – 4ª edição – pág. 100)

Assim sendo, para finalizarmos, pensamos que cada um tem o direito de seguir a dieta que bem entender, sem a pretensão de impor suas preferências às outras pessoas, sob qualquer pretexto. Todos somos do ponto-de-vista que os excessos são prejudiciais, e não é isso que está em questão. Alimentar-se com parcimônia é saudável e constitui-se em prática ideal para todo aquele que deseja ter saúde.

26 novembro 2008

As propostas de atualização doutrinária com tendências sincréticas


Uma das mais comuns alegações dos simpatizantes do espírito Ramatis diz respeito a uma suposta necessidade de atualização da Doutrina Espírita, ao mesmo tempo que consideram que deva o Espiritismo aceitar influências e enxertias oriundas de doutrinas da Antiguidade.

Nada melhor do que consultarmos o próprio Codificador sobre essa questão, já que suas palavras são habilmente manipuladas para referendar essa defesa de um Espiritismo eclético e sincretista, pronto a aceitar toda e qualquer "colaboração", seja advindas de religiões e doutrinas do passado, como de indivíduos encarnados ou desencarnados, de forma isolada.

"O Espiritismo, caminhando com o progresso, não será jamais ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrarem que está em erro sobre um ponto, ele se modificará sobre esse ponto; se uma nova verdade se revelar, ele a aceitará."

Verificamos aí que Kardec admite mudanças, desde que amparadas por novas descobertas, obviamente conduzidas pela Ciência.

E prossegue:

"Por sua natureza, a revelação espírita tem um duplo caráter: consiste ao mesmo tempo da revelação divina e da revelação científica.
O primeiro, porque seu advento é providencial, e não o resultado da iniciativa ou de um propósito premeditado pelo homem; porque os pontos fundamentais da doutrina são de fato o ensinamento dado pelos Espíritos encarregados por Deus de esclarecer os homens sobre as coisas que ignoram, que não poderiam aprender por si mesmos, e que lhes importa conhecer, hoje que já estão maduros para os compreender.
O segundo, porque este ensinamento não é o privilégio de nenhum indivíduo, mas é dado a todos da mesma forma; porque aqueles que o transmitem e os recebem não são absolutamente seres passivos, dispensados do trabalho de observação e de pesquisa; porque não devem abnegar de seu julgamento e de seu livre arbítrio; porque o controle não lhes está interdito mas, ao contrário, recomendado; enfim, porque a doutrina não foi de forma alguma ditada integralmente, nem impõe a crença cega; porque ela é deduzida pelo trabalho do homem, pela observação dos fatos que os Espíritos colocaram sob seus olhos, e pelas instruções que lhes deram.
Essas instruções ele estuda, comenta, compara, tirando então, por si mesmo, suas conseqüências e aplicações. Em uma palavra, o que caracteriza a revelação espírita, é que a fonte é divina, a iniciativa pertence aos Espíritos, e sua elaboração vem do trabalho do homem."

Vemos, pois, que o Espiritismo possui certas características da ciência: ele aplica o método experimental, vai às causas e às leis que regem os fenômenos, encoraja a objetividade, o espírito crítico e o desinteresse.

Herculano Pires se manifestou também a esse respeito:

“Acontece, porém, que o Espiritismo é doutrina do futuro e não do passado ou do presente. Como os Evangelhos, que depois de dois mil anos continuam a nos empurrar para a frente, a Codificação está muito longe de ter sido superada. Pelo contrário, somente agora as Ciências estão dando os primeiros sinais de se aproximarem do Espiritismo. Dessa maneira, os confrades aflitos, que se esfalfam na dura tarefa de “atualizar o Espiritismo”, estão apenas equivocados”.

“Todo o esquema da Doutrina Espírita apresenta-se harmonioso, perfeitamente conjugado em seus diferentes aspectos, antecedendo as conquistas em marcha nos vários setores do conhecimento. É por isso que não se pode falar em atualização do Espiritismo sem demonstrar ignorância doutrinária. Atualiza-se o que caducou, o que foi superado pela evolução, o que pertence ao passado. A própria linguagem da Codificação não comporta modificações pretensamente renovadoras. Se assim não fosse, teríamos de considerar como fracassados os Espíritos superiores que a revelaram e que, desde o princípio, indicam a sua função de plataforma do futuro.” ("Na Hora do Testemunho" – Herculano Pires – Paidéia – 1a edição – pg. 58)

Sugerimos, por fim, a leitura do editorial abaixo, importante para conscientização da situação que hoje enfrentamos no Movimento Espírita:

NÃO HÁ COMO CONTEMPORIZAR COM SISTEMAS DIVERGENTES NO MEIO ESPÍRITA

21 outubro 2008

Ramatis e o planeta Marte

Fotos recentes do solo marciano
Nesta parte do nosso estudo trataremos da questão da Vida no Planeta Marte, conforme descreveu Ramatis no livro do mesmo nome, que anteriormente chegou a se chamar "A Vida no Planeta Marte e os Discos Voadores". Não se sabe bem porque a mudança no nome, mas a parte que falava nos discos voadores foi retirada das edições mais recentes.

Quando os seguidores de Ramatis são confrontados com os erros contidos na obra supracitada, vêm com dois argumentos diferentes:

1- Que Ramatis teria descrito vida espiritual, e não material;
2- Que foi animismo do médium Hercilio Maes.

Vamos procurar mostrar que não foi nem uma coisa, nem outra, neste nosso estudo, a começar com a tese de que ele teria descrito vida espiritual, e não vida material, em Marte.

As Gafes

Numa época em que a questão da vida em outros planetas e OVNIs habitava o imaginário das pessoas, Ramatis aproveita o o embalo para descrever, no citado livro, várias paisagens que de maneira alguma correspondem à realidade daquele planeta, fotografada e documentada pelas sondas que lá já pousaram.

Vamos analisar algumas dessas gafes:

1- Sobre a superfície e o degelo do pólos

Pergunta: "Há o degelo que a nossa Ciência constata através dos seus telescópios?"

Ramatis: "Sim, e às vezes algo violento, principalmente porque a superfície marciana é quase plana, com raras elevações."

Erro nº 1 - Não há degelo dos pólos em Marte e muito menos água na sua superfície. O gelo em Marte é formado de dióxido de carbono congelado. Assim sendo, não passa para o estado liquido, e sim sublima-se (passa do estado sólido para o gasoso)

Erro nº 2 - A superfície de Marte está longe de ser predominantemente plana. O terreno é caótico, sendo que há muitas crateras e elevações gigantescas, como o Olympus Mons, um vulcão extinto que excede os 20.000 metros de altura.

Algumas fontes importantes para pesquisa e maiores informações:

http://www.solarviews.com/portug/mars.htm

http://marsrovers.nasa.gov/home/index.html

http://sse.jpl.nasa.gov/news/display.cfm?News_ID=18255

http://www.if.ufrj.br/teaching/astron/mars.html


A "água" do gelo de Marte, segundo Ramatis


Vejam o que ele diz:

Pergunta: "A água de Marte é igual à nossa?"

Ramatis: "É algo semelhante, embora muitíssimo mais leve. Cremos que os vossos astrônomos, em recente análise espectral, devem ter verificado que as neves e as nuvens, em Marte, são compostas quimicamente de H20, variando, no entanto, quanto à especificidade e peso. Sob reações científicas, pode ser igualada à da Terra; porém o marciano prefere para o seu uso um tipo de "água pesada", grandemente radioativa e que melhor lhe nutre o sistema "organo-magnético".

E ele continua, se colocando acima da Ciência:

Pergunta: "A composição das calotas polares é, realmente, produto do degelo acumulado, à semelhança de nossos pólos."

Ramatis: "Nisso a ciência terrena não se equivocou, inclusive na anotação das nuvens azuladas, que registrou em suas observações. O que por vezes nos surpreende, é que a mesma ciência, negando oxigênio suficiente em Marte, anota calotas polares e nuvens azuladas que resultam sempre de hidrogênio e oxigênio, na fórmula comum."

Erro nº 3 - As neves são compostas de dióxido de carbono congelado, e não de água congelada na sua fórmula comum;

Erro nº 4 - As nuvens são formadas por dióxido de carbono evaporado, que se sublimou.

Erro nº 5 - Não há dois tipos de água em Marte, uma mais leve e outra mais pesada, como afirma o espírito.

Quanto à temperatura no planeta Marte, Ramatis ousadamente assevera:

Pergunta:"Qual a temperatura de Marte, baseando-nos em nossas convenções termométricas?

Ramatis: "Nas regiões equatoriais, a temperatura oscila de 25 a 30 graus, a qual é agradabilíssima ao sistema biológico marciano. Chove raramente; e, devido às quedas bruscas, à noite são comuns as geadas." (pág. 37)

Já a verdade científica assevera que Marte é um planeta frio, com temperatura média de 63 graus Celsius negativos, com uma temperatura máxima no verão de -5° C e mínima nas calotas polares de -87° C.

A variação de temperatura chega a ser de 20 graus Celsius por minuto, durante o amanhecer. Soubemos também que ocorre variação da temperatura conforme a altitude. A sonda Mars Pathfinder revelou que se uma pessoa estivesse em pé ao lado da sonda, notaria um diferença de 15 graus Celsius entre os pés e o tórax. Essa intensa variação da temperatura em Marte, provoca ventos fortes, gerando as grandes tempestades de poeira vistas na superfície marciana.

Percebemos, portanto, a pobreza da descrição ramatisiana, assim como a grande imprecisão se comparada à realidade constatada pelas sondas que lá estiveram no passado e mais recentemente. Ele não contava que, anos mais tarde, a astronáutica se desenvolveria a tal ponto que sondas seriam enviadas ao planeta e seriam capazes de tirar fotos e mapear toda a sua superfície.

Transcreveremos agora mais um trecho surpreendente da mencionada literatura, que, em nossa avaliação, prima pela incorreção e pelo desconhecimento total da realidade geológica e topográfica daquele planeta.

Pergunta: "Há muitos oceanos iguais aos nossos e existem zonas desertas?"

Ramatis: "A superfície líquida é muito menor do que a sólida, e suas águas se infiltram bastante no solo. Os mares são pouco profundos e os continentes muito recortados, existindo enseadas e golfos em quantidade. Quanto às áreas desertas, existem algumas, de areia fulva, nas outras zonas existem campos de cultura, os bosques e exuberante vegetação que se estendem à margem dos canais suplementares ou artificiais. E os imensos cinturões que observais, da Terra, quais bordados de verdura forrando as zonas ribeirinhas dos canais, são constituídos de ubérrima vegetação sob controle científico." (pág. 38)

Para quem se dispor a pesquisar o assunto na internet, por exemplo, por nada mais que 5 minutos, vai verificar que a descrição das condições geológicas e topográficas de Marte em nada se assemelham com a realidade.

No entanto, alguns simpatizantes de Ramatis inadvertidamente passaram a divulgar, quando da constatação da realidade marciana pela ciência, que Ramatis estava a descrever a paisagem espiritual do planeta. Ora, em vários momentos ao longo da obra "A Vida no Planeta Marte...", a citada entidade espiritual descreve vida material, tanto que chega a dizer, na parte transcrita por nós acima: "...E os imensos cinturões que observais, da Terra..." Se ele, pois, fala em "observação" da nossa parte, é claro que ele nos fala de matéria visível aos nossos olhos, isto está bem claro.

Certa feita, Herculano Pires chegou a comentar diretamente sobre esse assunto:

(...)"Têm saído no meio espírita alguns livros que apresentam Marte como superior à Terra. Ora, esses livros são muito fantasiosos. Basta essa fantasia para mostrar que não podemos depositar neles nenhuma confiança. Quando os espíritos chegam às minúcias a que descamam estes livros, minúcias sobre todo processo da vida em Marte, por exemplo, nós precisamos desconfiar dos mesmos. Porque não é essa a função dos espíritos. Que os espíritos tenham dado a Kardec uma espécie de idéia de como seria o nosso sistema solar no tocante à variedade de mundos, apresentando esses dois extremos, a gente entende, até mesmo como sendo uma espécie de maneira didática de transmitir o ensinamento sobre a posição dos mundos no espaço. E foi o que Kardec falou mesmo e ele achou muito interessante nesse sentido. Dá sempre uma idéia mais concreta do que é a vida no espaço.

A respeito de Júpiter, através das referências trazidas por Mozart e Palissy, chegou-se mesmo a transmitir, na sociedade parisiense dos espíritas, alguns desenhos, muito interessantes, sobre as casas em Júpiter, sobre as construções, como eram feitas; sobre a condição dos animais. Eles apresentaram os animais jupiterianos como animais evoluídos, animais que já estão se aproximando da condição humana, que são capazes de se incumbir de todos os trabalhos mais pesados do homem para a construção de uma casa, essas coisas todas.

Esses desenhos foram publicados em Paris. Ainda existem alguns deles que sobreviveram, porque muitos outros foram destruídos pelo tempo. E particularmente destruídos numa guerra entre 29 e 35, quando os alemães invadiram a França, invadiram Paris e ocuparam a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. Deram praticamente fim a toda a Sociedade, que retinha todo o arquivo de Kardec.

Mas, apesar disso, os desenhos são muito interessantes. Eu mesmo tenho em casa um quadro com um destes desenhos. É um quadro que foi desenhado por aquele famoso teatrólogo francês, Victor Ian Sardur. Ele era um médium que trabalhava com Kardec na sociedade parisiense. Acontece que Victor Ian Sardur não era desenhista. E nem era médium desenhista. Existiam na sociedade parisiense alguns médiuns, quase todos psicógrafos. E alguns eram desenhistas. Então, quando Mozart disse que ele e Palissy iam fazer alguns desenhos sobre Júpiter, todo mundo ficou esperando que um daqueles médiuns desenhistas os recebesse. Para surpresa de todos, quem recebeu foi o Victor Ian Sardur, que nunca fora desenhista e que era um teatrólogo. Esse desenho que eu tenho aí, por exemplo, foi tirado do próprio desenho publicado na revista espírita. O desenho, não digo original, mas o que foi publicado por Kardec, ele levou nove horas para fazer. Ele era tão minucioso, que exigia muito tempo para fazer.

Isso tem a finalidade de nos dar uma idéia de como seriam os mundos. Qual é a diferença de um mundo para outro? Por que os mundos adiantados têm certas posições, por assim dizer, que para nós são incompreensíveis? Por que um mundo como Júpiter é um mundo de matéria tão rarefeita? Porque é um mundo que está se aproximando da espiritualidade, um mundo que vai se aproximando dos mundos felizes, dos mundos celestes. E os espíritos chamavam de mundos celestes aqueles que, para nós, seriam completamente invisíveis. São mundos de uma vida espírita muito superior, muito elevada. Então, essa escala dos mundos nos apresenta todas essas formas e os mundos mais primários, desde o mundo da lua, completamente material, completamente denso em matéria, desprovido, inclusive, de princípios de vida na atmosfera, até um mundo como Júpiter, em que nós encontramos essa solidez e essa beleza.

Mas quando nós falamos do problema de Marte, nós temos de lembrar que há, no espiritismo brasileiro, um problema a respeito disso. Existe o livro de Ramatis, que é muito conhecido: A vida no planeta Marte. Ramatis já é muito nosso conhecido, pois quando estudamos o espiritismo, e, estudamos a obra de Ramatis, vemos que se não trata de um espírito sábio, um espírito que está dando informações das mais absurdas sobre todas as coisas, como qualquer indivíduo pseudo-sábio na terra, que fala sobre qualquer coisa com a maior facilidade. Expõe teorias, defende princípios e, às vezes, os mais contraditórios, sem perceber que vai cair em contradição. Ramatis, então, é um espírito que não oferece nenhuma garantia para nós. As informações dele são puramente imaginárias, ilusórias. Não têm valor".(Palestra proferida por José Herculano Pires. O texto acima é uma transcrição de fita de vídeo gravada por ocasião da palestra. )

Depois de tais constatações científicas sobre a realidade do planeta Marte, em contraposição a tudo que Ramatis descrevera, até mesmo uns dos mais famosos médiuns de Ramatis se pronunciou a respeito, só que defendendo o espírito e responsabilizando o médium Hercílio Maes. Vejamos o que escreveu o médium ramatisista Wagner Borges, em seu livro "Viagem Espiritual":

"Quanto ao livro 'A Vida no Planeta Marte', esse talvez tenha sido o maior equívoco mediúnico de Hercílio Maes. Todas as informações sobre a vida extraterrestre ali descrita são verdadeiras. (Como é que ele sabe? Esteve lá pra conferir?) No entanto, há um detalhe muito importante que precisa se considerado: as informações são reais, mas aquele planeta não é Marte!"

(...)"Se ali houvesse realmente uma civilização evoluída, como Ramatis descreve, haveria indícios claros disso no planeta."

Outro médium de Ramatis, Dalton Roque, recentemente em sua homepage, chegou a declarar:

"Não concordo com o livro sobre o planeta Marte. Não o li e nem o lerei."

Vemos, portanto, que até mesmo ramatisistas respeitados em seu meio não mais conseguem sustentar os absurdos contidos no livro "A Vida no Planeta Marte e os Discos Voadores", assinado por Ramatis e propagandeado em todo canto como sendo um livro espírita e de alta credibilidade.

Portanto, qual a verdadeira posição da Doutrina Espírita acerca desse tipo de relato sobre vida em outros mundos?

Kardec é bastante claro:

"Não temos sobre os outros mundos senão notícias HIPOTÉTICAS."

Em 1862, Kardec pede explicações ao espírito Georges sobre suas mensagens a respeito de planetas, como Vênus, e o questionou sobre alguns pontos. Ao final, conclui:

"Essa descrição de Vênus, sem dúvida, não tem nenhum dos caracteres de uma autenticidade absoluta, e também não a damos senão a título condicional."

Em "O Livro dos Médiuns", consta ainda o seguinte:

296. Perguntas sobre os outros mundos

32ª Que confiança se pode depositar nas descrições que os Espíritos fazem dos diferentes mundos?

"Depende do grau de adiantamento real dos Espíritos que dão essas descrições, pois bem deveis compreender que Espíritos vulgares são tão incapazes de vos informarem a esse respeito, quanto o é, entre vós, um ignorante, de descrever todos os países da Terra.

Formulais muitas vezes, sobre esses mundos, questões científicas que tais Espíritos não podem resolver.

Se eles estiverem de boa-fé falarão disso de acordo com suas idéias pessoais; se forem Espíritos levianos divertir-se-ão em dar-vos descrições estranhas e fantásticas, tanto mais facilmente quanto esses Espíritos, que na erraticidade não são menos providos de imaginação do que na Terra, tiram dessa faculdade a narração de muitas coisas que nada têm de real.

Entretanto, não julgueis absolutamente impossível obterdes, sobre os outros mundos, alguns esclarecimentos. Os bons Espíritos se comprazem mesmo em descrever-vos os que eles habitam, como ensino tendente a vos melhorar, induzindo-vos a seguir o caminho que vos conduzirá a esses mundos. É um meio de vos fixarem as idéias sobre o futuro e não vos deixarem na incerteza."

a) Como se pode verificar a exatidão dessas descrições?

"A MELHOR VERIFICAÇÃO RESIDE NA CONCORDÂNCIA que haja entre elas.

Porém, lembrai-vos de que semelhantes descrições têm por fim o vosso melhoramento moral e que, por conseguinte, é sobre o estado moral dos habitantes dos Outros mundos que podeis ser mais bem informados e não sobre o estado físico ou geológico de tais esferas.

Com os vossos conhecimentos atuais, não poderíeis mesmo compreendê-lo; semelhante estudo de nada serviria para o vosso progresso na Terra e toda a possibilidade tereis de fazê-lo, quando nelas estiverdes."

NOTA: As questões sobre a constituição física e os elementos astronômicos dos mundos se compreendem no campo das pesquisas científicas, para cuja efetivação não devem os Espíritos poupar-nos os trabalhos que demandam.

Se não fosse assim, muito cômodo se tornaria para um astrônomo pedir aos Espíritos que lhe fizessem os cálculos, o que, no entanto, depois, sem dúvida, esconderia.
Se os Espíritos pudessem, por meio da revelação, evitar o trabalho de uma descoberta, é provável que o fizessem para um sábio que, por bastante modesto, não hesitaria em proclamar abertamente o meio pelo qual o alcançara e não para os orgulhosos que os renegam e a cujo amor-próprio, ao contrário, eles muitas vezes poupam decepções.

O Livro dos Médiuns - Capítulo XXVI - Das Perguntas que se Podem Fazer aos Espíritos/Perguntas sobre os outros mundos

O grande escritor e divulgador espírita, Carlos Imbassahy, já desencarnado, certa feita foi perguntado sobre o espírito Ramatis e o planeta Marte, tendo respondido o seguinte, conforme consta do livro "As Melhores Respostas do Imbassahy":

"Remete-me o confrade P. - que não deseja ver publicado seu nome - uma longa mensagem onde se descreve a vida em Marte, e me pergunta o que eu acho. Mas que posso eu achar num planeta a tal distância? Ainda se fosse ali em Cascadura... A coisa única que me ocorre dizer-lhe é que estas histórias de Marte são de morte! (implicitamente, a vida em Marte sugere a obra de Ramatis; sem querer citá-la, Dr. Imbassahy limita-se a passar por alto pelo assunto..."

Jorge Rizzini também fez comentários interessantíssimos sobre esses relatos de Marte e Ramatis:

"A NAVE DE RAMATIS – QUE ESTÁ SEMPRE LOTADA DE ANALFABETOS ESPÍRITAS"

"O Espírito Ramatis sabe jogar com rara habilidade com fantasias e verdades. E, por não desprezar a verdade conseguiu ludibriar até mesmo alguns que se julgavam conhecedores da Doutrina Espírita. Mas não é exatamente mau. O problema é que ele convulsiona o Movimento Espírita com suas fantasias, através de um estilo austero, professoral, às vezes dramático.

Sua palavra é a última sobre qualquer assunto. Não há pergunta que o deixe embaraçado, seja sobre química ou física nuclear, botânica ou astronomia, pintura ou medicina, etc. Mas, entre os temas de sua predileção um há que o deixa enternecido e sobre o qual chegou a escrever um livro com mais de quatrocentas páginas e que tem o sugestivo título de “A Vida no Planeta Marte” (e os discos voadores). A obra foi publicada em 1956, mas é atualíssima, pois os cientistas da Terra estão pesquisando aquele planeta.

Enquanto Ramatis, com seu estilo doutoral, com sua imaginação indomável, nos diz a respeito de Marte que:

◘ Já tem, aproximadamente, um bilhão e meio de habitantes;
◘ O Espírito reencarnante marciano vive no casulo materno sob condições análogas às terrenas;
◘ Estamos em relação aos marcianos, com relação a eletrônica, quatrocentos anos atrasados;
◘ Moralmente, um milênio;
◘ Todos os sistemas religiosos do planeta são reencarnacionistas e entram em contato com os Espíritos desencarnados.

Estas e outras informações são de Ramatis, autor que fascinou os leitores e os fez sonhar com o planeta Marte. Sua capacidade de narrar é singular, e sua imaginação ardente, se não supera pelo menos se iguala a dos fantásticos criadores de estórias em quadrinhos. Impossível não realçar essas qualidades, que lhe granjearam, logo ao ser publicado o seu primeiro livro, os aplausos do público em geral e, particularmente, de milhares de espiritistas incautos, que nele viram uma sumidade do Além.

Ramatis é um Espírito enfermo, trata-se, evidentemente, de um caso de megalomania, enfermidade mental. E não de maldade deliberada, já que suas mistificações, por estranho que pareça, sempre visam enlevar o público. Que a enfermidade atingiu o mais alto grau, não há dúvida, pois Ramatis se comove quando fala do Evangelho, como quando fala da “civilização marciana”. Ele mistura verdade e mentira na mesma emoção. Ao invés de recriminações, Ramatis merece compreensão e preces.
Os que merecem mesmo cuidados especiais são os “espíritas” que ainda estão radiantes com a leitura de livros de Ramatis. Esses sim são detentores de um potencial capaz de deturpar o Movimento Espírita."
Jorge Rizzini. (“Jornal Espírita”, São Paulo-SP, Fevereiro de 1977).

Aproveitamos para agradecer à ADE-SE - Associação dos Divulgadores do Espiritismo do Estado do Sergipe pela divulgação deste nosso artigo em sua página. Eis o link:

http://www.ade-sergipe.com.br/sistema/upload_dir/RAMATIS-_E_SEUS_INFORMES!.doc