E eis que se passaram várias "datas-limites" e cá estamos novamente, alertando mais uma vez sobre a incessante e inglória tentativa de tornar o Espiritismo mais uma seita apocalíptica como tantas outras que passaram pelo mundo.
Em março de 2012, lançamos o artigo "O Espiritismo e os Vários Fins do Mundo", em que citamos as várias ocasiões em que fanáticos religiosos se arriscaram a fazer previsões sobre o chamado "fim do mundo" e, como sabemos, erraram flagorosamente. Alguns chegaram a arriscar estabelecer datas por diversas vezes, já que, após cada previsão, nada acontecera. As desculpas eram basicamente as mesmas: alguma possível falha na interpretação ou uma moratória qualquer, concedida por Deus ou algum alienígena ou divindade qualquer.
Por incrível que pareça, o Espiritismo, apesar de todo o grandioso trabalho de seu Codificador Allan Kardec e dos Espíritos Superiores no propósito de tornar a Doutrina nascente um farol de lucidez a iluminar as consciências, não passou incólume às tentativas das sombras organizadas de desviar o movimento espírita de seus mais nobres objetivos. Servindo-se de indivíduos meramente interessados em fama e popularidade, ou mesmo aproveitando-se da ingenuidade de alguns, entidades espirituais envolvidas nas teias da ignorância e da pseudosapiência incutem conceitos e ideias que não encontram o menor respaldo na magna Doutrina, procurando apequená-la e ridicularizá-la.
Tudo pareceu começar nos anos 50s, com as previsões do médium Hercílio Maes, adotando o pseudônimo Ramatis a fim de dar maior credibilidade às suas ideias. Segundo ele, a aproximação de um astro resultaria na elevação abrupta do eixo terrestre, ceifando, assim, a vida de um terço da população do planeta e deixando um rastro de completa destruição. A data-limite, naquela feita, era o ano 2000. Denunciamos a impostura no ano de 1997, com a publicação do livro "Ramatis, Sábio ou Pseudo-Sábio? pela Editora EME. Em 2008, escrevemos o artigo "Catastrofismo Aparvalhante: as Previsões Apocalípticas que não se Cumpriram", em que relembramos ao leitor a importância de se estar alerta a esse tipo de conteúdo.
Fora dos arraiais espíritas, mas se valendo de obras ditas mediúnicas de cunho duvidoso, foi a vez de Alziro Zarur, presidente da LBV, de propagar, em seus programas radiofônicos, o seu famoso "a 1000 chegará, mas de 2000 não passará". Zarur voltou ao mundo espiritual em 1979 e não presenciou, em vida, a passagem tranquila pelo ano 2000.
Até então, o movimento espírita permanecia fiel aos ditados dos Espiritos Superiores, que claramente advertiram que nada temos a temer, "nem um dilúvio, nem o abrasamento do planeta, nem outros fatos desse gênero, porquanto não se pode denominar cataclismos a perturbações locais que se têm produzido em todas as épocas. Apenas haverá um cataclismo de natureza moral, de que os homens serão os instrumentos."
No entanto, no ano de 2009 correu mundo a notícia de que os Maias teriam previsto o "fim do mundo" para 21 de dezembro de 2012. Mais que depressa, em 2011, é lançado o livro "Não Será em 2012", de autoria de Marlene Nobre e Geraldo Lemos Neto. Na citada obra, os autores afirmam ter ouvido da boca do médium Chico Xavier, em 1986, a previsão de que 2019 seria a data-limite para que os países aprendessem a conviver em harmonia, evitando a todo custo uma terceira Guerra Mundial. Caso contrário, uma nova idade das trevas abater-se-ia, podendo levar até mil anos para a humanidade se recompor.
Como bem sabemos, nem uma coisa, nem outra, ocorreu. A Terra permanece sofrendo as agruras comuns a um planeta de provas e expiações e nenhum cataclismo ocorreu, nem de ordem natural, nem causada pela ação humana.
Após muitas aparições na mídia e os holofotes direcionados aos autores de "Não Será em 2012", o ano de 2019 chegou ao seu fim e respiramos aliviados, não por que achássemos que algo realmente ocorreria, mas por considerar que os aproveitadores e oportunistas de plantão finalmente se calariam, amargurando a vergonha de terem levado apreensão a tantas pessoas e maculado o movimento espírita com suas afirmações inconsequentes e antidoutrinárias.
Chegou 2020 e, para nossa surpresa, em meio a uma pandemia pelo corona vírus, surge a notícia de que o ano fatídico é, na verdade, 2057 (!!!). Novamente, é o sr. Geraldo Lemos Neto, vulgo "Geraldinho", fundador da "Vinha de Luz Editora", quem revive sozinho a profecia, já que a sra. Marlene Nobre desencarnou em 2015. Reafirmando a todo momento ter convivido com Chico Xavier, o sr. Geraldo se faz valer da boa fama do médium mineiro para deflagrar novamente a sua campanha com a velha e surrada cantilena apocalíptica sem o menor embasamento doutrinário e factual. Para piorar, desta feita as previsões incorporam teses ufológicas e futuros contatos diretos com ETs e suas naves espaciais.
A alegação, desta feita, é que a humanidade conseguiu resistir à não-conflagração de uma guerra nuclear e que, assim, segundo o espírito Emmanuel, no livro “Plantão de Respostas: Pinga-Fogo II”, o mundo estaria regenerado em 2057, contrariando, inclusive, uma outra mensagem sua contida na obra "Encontros no Tempo" (IDE), de Hércio Marques C. Arantes, publicado na época em que Chico Xavier ainda estava vivo, onde consta o seguinte:
"Muitas realizações para o Terceiro Milênio, segundo Emmanuel, poderão talvez ocorrer depois de 2990. Imaginemos, pois, certos fenômenos de triagem para séculos não muito próximos. Os amigos desencarnados afirmam que na próxima galáxia, de cuja vida e grandeza compartilhamos, existem numerosos mundos de feição primitiva, aptos a nos receberem para estágios mais simples de progresso espiritual, caso não queiramos seguir o surto de elevação em que a nossa Terra está penetrando."
Vemos claramente uma imensa discordância sobre datas atribuídas ao mesmo espírito. Em qual deveríamos acreditar?
Segundo a Doutrina Espírita, o processo de transformação é atual, não sendo, portanto, algo a se iniciar no futuro: encontra-se em plena marcha. Em "A Gênese", de Allan Kardec (Cap. XVIII), aprendemos que, cada vez mais, menos espíritos inclinados ao mal reencarnam na Terra e mais espíritos propensos ao bem viriam em seus lugares. Tal processo, lento e gradual, consolida-se através de várias gerações, povoando o planeta de espíritos mais propensos ao bem.
“Tudo, pois, se processará exteriormente, como sói acontecer, com a única, mas capital diferença de que uma parte dos Espíritos que encarnavam na Terra aí não mais tornarão a encarnar. Em cada criança que nascer, em vez de um Espírito atrasado e inclinado ao mal, que antes nela encarnaria, virá um Espírito mais adiantado e propenso ao bem”. (Cap. XVIII, item 27)
P. — Disseram os Espíritos que os tempos são chegados em que tais coisas têm de acontecer: em que sentido se devem tomar essas palavras?
R. — Em se tratando de coisas de tanta gravidade, que são alguns anos a mais ou a menos? Elas nunca ocorrem bruscamente, como o chispar de um raio; são longamente preparadas por acontecimentos parciais que lhes servem como que de precursores, quais os rumores surdos que precedem a erupção de um vulcão. Pode-se, pois, dizer que os tempos são chegados, sem que isso signifique que as coisas sucederão amanhã. Significa unicamente que vos achais no período em que se verificarão.
A busca por fama e holofotes, apesar das previsões que nunca se cumprem, continua a todo vapor. O médium ramatisista Roger Bottini, na tentativa de salvar Ramatis, já cravou sua data-limite para 2036. Segundo ele, desta vez a hecatombe acontece...
Portanto, queridos amigos espíritas, não podemos mais assistir impassíveis essas absurdas tentativas de ridicularização do Espiritismo da parte de indivíduos irresponsáveis e inconsequentes que, em nome da Doutrina, intentam espalhar o terror e a apreensão, jogando o Espiritismo na vala comum das seitas apocalípticas. Esses só se calarão quando denunciarmos, a plenos pulmões, essas imposturas, conduzidas com o intuito de adquirir notoriedade e vendagem de livros, com os quais auferem elevados lucros e projeção social.
Caso deseje aprofundar-se nesta temática, acesse mais esses artigos de nossa autoria:
O Espiritismo e os Vários Fins do Mundo
Chico Xavier e as confusões apocalípticas
À Feição de Seita Apocalíptica
Ramatis dita ficção e não realidade, assim como Hollywood
Terremotos recentes e histerias apocalípticas
Se puderem, portanto, espalhem essa mensagem para que mais pessoas possam precaver-se e afastar-se definitivamente de todo esse exotismo irrefletido insuflado por mentes perversas, encarnadas e desencarnadas.