13 outubro 2012

A Serviço da Desinformação


Em grande parte dos nossos artigos, temos tecido comentários de alerta acerca das confusões fomentadas pelos adversários velados do Espiritismo, sejam eles encarnados ou desencarnados, com o objetivo de jogar a prática espírita na vala comum das concepções fetichistas e da alienação místico-religiosa. Infelizmente, ainda contam poucos os que levam a sério tais advertências, considerando-as exageradas ou mesmo apelando para uma postura dita evangélica, em que procuram enxergar apenas um suposto lado "bom" das coisas, numa tentativa inglória de fecharem os olhos aos absurdos e imposturas que surgem de toda parte, em que se empresta à Doutrina Espírita uma postura que ela, de forma alguma, endossa em suas obras basilares, isto é, as da Codificação. Talvez por isso esses mesmos adversários velados insistam que estejam as obras de Allan Kardec "ultrapassadas", pois não conseguem alicerçar suas teorias e práticas naquilo que verdadeiramente ensina a Doutrina, apelando, assim, para a argumentação de que se faz necessário "inovar", "modernizar", mesmo que para isso se desfigure e contrarie frontalmente os mais básicos e elementares preceitos doutrinários e as mais rudimentares noções científicas, assim como a própria lógica e a razão.

Já tratamos do tema em nosso artigo “Nos Descaminhos da Fascinação”, onde evidenciamos o risco que corre aquele que cegamente aceita tudo que venha dos espíritos ou de indivíduos que se apresentam portadores ou medianeiros de verdades e revelações espirituais, sem o contributo do conhecimento que o Espiritismo proporciona - só verdadeiramente adquirido à custa de muito estudo e humildade,- e da necessidade de uma postura crítica diante de tudo aquilo que deparamos sob o rótulo de "espírita".

A estratégia mais empregada por esses adversários ocultos do Espiritismo tem sido a utilização de escritos psicografados para a mais fácil disseminação de suas excêntricas ideias. Não lhes interessa tanto, como no passado, causar problemas em pequenos núcleos e grupamentos espíritas - o que querem é alcançar o maior número possível de pessoas em um curto espaço de tempo. Como? Nada melhor do que encher as prateleiras das livrarias com seus ditados revestidos de belas palavras, mas que escondem a semente da tentativa de desmoralização do Espiritismo, na medida em que lhe ataca a unidade e a compromete perante a opinião pública. Alguns desses escritos, apressadamente convertidos em livros por editores famintos pelo lucro fácil e rápido, primam pela fantasia, pela linguagem trivial e sem profundidade, amparadas em historietas romanceadas repletas de chavões e ideias rasas, com superficial alusão ao Espiritismo e ao Evangelho para melhor enganar o leitor desavisado. O objetivo é passar a sensação de estarem em conformidade com a Doutrina Espírita e a mais pura moral evangélica. Outras obras, especialmente as publicadas nas décadas de 50 e 60, abordam certos temas sob uma abordagem esotérica e/ou cientificista, bem em moda naqueles tempos, da qual certos autores encarnados se aproveitaram para angariar notoriedade, sendo que muitas vezes, para melhor impressionar, afirmaram advir do mundo espiritual, como exemplificamos no artigo “Artigo Investigativo: Ramatis pode nem existir”.

É por essas e outras que Allan Kardec, o Codificador do Espiritismo, advertiu:

"Nunca será demais toda a circunspecção, quando se trate de publicar semelhantes escritos. As utopias e as excentricidades, que neles por vezes abundam e chocam o bom- senso, produzem lamentável impressão nas pessoas ainda noviças na Doutrina, dando-lhes uma ideia falsa do Espiritismo, sem mesmo se levar em conta que são armas de que se servem seus inimigos, para ridicularizá-lo. Entre tais publicações, algumas há que, sem serem más e sem provirem de uma obsessão, podem considerar-se imprudentes, intempestivas, ou desazadas."

Tempos atrás ficamos surpresos com o caso apresentado pelo programa "Linha Direta", da Rede Globo, que abordou o caso de dois homens encontrados mortos no alto de um morro em minha cidade natal, Niterói-RJ, no ano de 1966. Segundo o programa, esses dois indivíduos teriam morrido em consequência de sua aproximação com o Espiritismo e ao tentarem buscar contato com marcianos. Como o prezado leitor poderá constatar, é relatado que, inicialmente, os dois homens teriam recebido a orientação de um espírita para a feitura de “trabalhos espirituais” realizados com fogos de artifício (!), prática esta que, nem de longe, é endossada ou ensinada pela Doutrina Espírita. Já em relação à questão dos marcianos, a inspiração teria sido o livro “A Vida no Planeta Marte”, de Ramatis, inclusive mostrado na reportagem em sua terceira parte (vide ao fim do artigo). A citada obra é analisada por mim nos artigos “Ramatis e o planeta Marte” e “Férias em Fobos e Deimos”, onde demonstramos suas mais diversas cincadas científicas e doutrinárias, que, infelizmente, não foram percebidas pelos dois homens, que acabaram perecendo de maneira estranha. Fascinados pelas supostas revelações contidas no livro, não hesitaram em subir até o alto do morro em um dia de chuva intensa e sucessivos raios a fim de tentarem contato com supostos ETs, utilizando-se de máscaras de chumbo e consumindo estranhas cápsulas contendo alguma substância que não pôde ser detectada por falha de procedimento do Instituto Médico Legal. Conforme averiguamos, é possível que tenham frequentado ou recebido alguma orientação de um centro espiritualista de origem africanista chamado "Centro Espírita Cabana Pai José", fundado em 1935, e localizado exatamente na rua que dava acesso ao morro e que, coincidentemente ou não, dava espaço ao estudo e divulgação das obras ramatisianas.

No entanto, foram as ideias espíritas injustamente acusadas de terem influenciado a dupla a cometer a insanidade que acabou por lhes tirar a vida, devido à errônea associação que comumente se faz entre os livros e ideias da suposta entidade espiritual Ramatis e o Espiritismo, assim como das práticas fetichistas (conhecidas também como trabalhos espirituais) e a prática espírita que, na verdade, nada tem a ver com elas.

Faz-se necessário, cada dia mais, resgatar o Espiritismo através da divulgação e estudo das obras da Codificação. Enquanto o Movimento Espírita der espaço à publicação de obras mediúnicas de gosto duvidoso, que são confundidas como sendo autenticamente espíritas, teremos confusões como esta que, muitas vezes, levam a autênticas tragédias de amargas consequências, das quais se regojizam seus mal intencionados autores.