Resgatando a Proposta Espírita: Análise crítica dos ditados do espírito Ramatis e demais questões controversas no Movimento Espírita
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18 janeiro 2013
O destino dos animais e a questão do "cão intercessor"
O Espiritismo é uma doutrina espiritualista de caráter filosófico e, ao mesmo tempo, uma ciência experimental, segundo a definição de Allan Kardec. O objeto especial do Espiritismo é o conhecimento das leis do princípio espiritual, seguindo-se daí que o conhecimento acerca dos princípios da matéria, estudados pelas ciências ordinárias, lhe serve de complemento, uma vez que o conhecimento de um não pode estar completo sem o conhecimento do outro. Deste modo, Espiritismo e Ciência se completam reciprocamente.
Contrariamente a isso, certos simpatizantes da Doutrina Espírita preferem renegar os conhecimentos científicos e descambam para a tentativa de anexar ao conhecimento e práticas espíritas conceitos oriundos do Espiritualismo genérico, com o que intentam “enriquecer” o corpo doutrinário espírita. Desta forma, passam a disseminar, junto aos núcleos espíritas, ideias e conceitos que conflitam clara e diretamente com os mais básicos e elementares princípios espíritas, ocasionando, assim, grandes confusões entre os simpatizantes da Doutrina, conduzindo o Movimento, de maneira sub-reptícia, à perda de unidade e, consequentemente, provocando desinteligências entre os adeptos, o que facilita a formação e fortalecimento de redutos seitistas. Atuam, portanto, à feição de vírus perigosos, como já tratamos no artigo “Os Cavalos de Troia do Espiritismo”.
Uma dessas questões elementares a que nos referimos acima é aquela que trata do animal irracional e sua destinação após a morte, assim como o grau de evolução ao qual pertencem. Tal assunto é tratado de maneira clara na obra basilar da Doutrina Espírita, “O Livro dos Espíritos”. Da questão 592 até a de número 610, os Espíritos Superiores respondem às mais variadas perguntas formuladas pelo codificador Allan Kardec, onde chegamos às seguintes conclusões, que abaixo enumeramos:
1. Os animais possuem instinto, que é uma forma rudimentar de inteligência, e não são detentores de livre-arbítrio;
2. Os animais não podem analisar seus erros e acertos. Assim sendo, não podem sofrer penas nem gozos por não terem consciência de seus atos praticados no mundo físico. Não há neles senso moral, já que a inteligência não se encontra suficientemente desenvolvida para tal;
3. A alma dos animais, após a morte do corpo, é devolvida rapidamente ao mundo físico, seja em um planeta ou outro para que continuem sua evolução até chegarem ao estado hominal, donde daí para frente possuirão livre-arbítrio e sofrerão as penas e gozos do mundo espiritual.
Em “O Livro dos Médiuns”, cap. XXV, 283, itens 36 e 37, também podemos colher mais informações sobre a questão:
4. O princípio inteligente que anima o animal fica em estado latente após a morte, sendo que espíritos encarregados desse trabalho imediatamente o utilizam para animar outros seres. Não lhes sobra tempo disponível para se por em relação com outras criaturas. Sendo assim, não há espíritos errantes de animais, mas somente espíritos humanos.
5. Consequentemente, não há animais habitando o mundo espiritual, e nem é possível obter comunicações de animais por via mediúnica ou por quaisquer outros meios.
É isso, pois, resumidamente, o que ensina o Espiritismo sobre o destino da alma dos animais, assim como suas possibilidades e nível de adiantamento.
No entanto, volta e meia nos deparamos com declarações em evidente contraposição ao exposto acima sendo feitas em centros espíritas ou presentes em obras que dizem inspirar-se no Espiritismo. Decorrem, obviamente, de mera opinião pessoal de seus autores, mas que são consideradas, por certo número de desavisados, como autêntico ensinamento espírita. Isso ocorre mais comumente nos núcleos de orientação ramatisista, que se auto-intitulam “universalistas”, onde se pretende, a todo instante, “reformar” o Espiritismo a título de “modernidade” e “vanguardismo”. Porém, infelizmente, o que encontramos nesses redutos é um autêntico sincretismo, onde tudo se mistura, sem qualquer critério de aferição da Verdade. Opiniões individuais se mesclam a conceitos do orientalismo, cujas doutrinas jamais formaram um corpo uniforme, somadas a comunicações atribuídas a espíritos, que são logo cridas como autênticas e repositórios de verdades cristalinas, a título de contribuição ao corpo doutrinário espírita. Esquecem-se, contudo, que o critério espírita de aceitação das mensagens oriundas do mundo espiritual deve ser o da concordância universal, tendo como base a própria revelação espírita, toda ela consubstanciada nas obras da Codificação.
Um exemplo prático dessa triste realidade tem sido as mensagens atribuídas a um deus grego (!) pretensamente recebidas pelo “médium universalista” gaúcho Roger Bottini, que também diz psicografar Ramatis. Já realizamos uma abordagem crítica deste caso e assunto no artigo “Médium ‘universalista’ diz receber mensagens de deus grego”- o qual sugerimos a leitura para melhor entendimento do que agora escrevemos - , sendo que, recentemente, causou-nos enorme perplexidade o comentário feito pelo Sr. Bottini sobre um suposto “cão intercessor” chamado Fiel. Segundo o médium supracitado, seus leitores estariam livres para orar ao cão e “pedir auxílio para seus ‘pets’ que estejam doentes ou tenham desencarnado.” Segundo o sr. Bottini, “Fiel é um cão do reino astral muito especial” e “vive junto a Hermes”, o deus da mitologia grega, e “atenderá aos pedidos feitos a ele com muito amor e carinho”(...)
Desta feita, apelamos ao leitor que analise minimamente a declaração acima e compare com o que é ensinado pela Doutrina Espírita. Lembramos que o autor faz palestras em centros espíritas e se diz “espírita universalista” – uma maneira encontrada de não ter que divulgar fielmente os princípios espíritas e misturá-los a tudo que lhe venha na cabeça. O resultado disso é que, dentro em breve, certamente, teremos pessoas que se dizem “espíritas” declarando abertamente por aí que oram a um cão, que amorosamente atende aos seus pedidos. A impressão causada, com certeza, será a pior possível, passando o Espiritismo a alvo de chacota e desprestígio por parte daqueles com mínima capacidade de raciocínio e senso crítico.
Segundo as instruções dos Espíritos a Allan Kardec, principalmente as contidas na Introdução de “O Evangelho segundo o Espiritismo” e em “O Livro dos Médiuns”, faz-se necessário estarmos alerta a esses focos de grosseira mistificação e aplicarmos uma postura crítica que consiste em separar o verdadeiro do falso. É nosso dever submeter ao cadinho da razão e da lógica todas as comunicações, sobretudo aquelas que possuem um caráter exótico e exclusivista, geralmente advindas de indivíduos vaidosos que se auto-intitulam detentores de alguma missão especial ou conhecimento inacessível a maioria, que apresentam como verdades absolutas. Na mais das vezes, são vítimas de espíritos mistificadores ou pseudossábios, que se ornam com nomes pomposos para melhor enganar. O mal que tais entidades intentam causar é enorme, porque visam à desfiguração da mensagem espírita, expondo-a ao ridículo e ao vexame perante a opinião pública, enfraquecendo, assim, os magnos objetivos de esclarecimento e libertação da ignorância propostos pela Doutrina. A fim de atenuar a má impressão que causam, podem essas entidades espirituais até estimular seus medianeiros a erguerem alguma obra de caridade ou a desenvolverem alguma atividade de assistência social, intentando, assim, formar uma nuvem de fumaça em torno do médium e angariar a admiração dos incautos que lhes seguem os esdrúxulos ideários. Tais ideários, atualmente, estão geralmente ligados aos conceitos de salvação planetária, coletiva e/ou individual, onde se inserem “revelações” e previsões sobre futuras hecatombes apocalípticas, incutindo que seus seguidores serão salvos em função de suas crenças, preces ou ações determinadas pelo(s) líder(es) seitista(s). Tudo, obviamente, sugerindo muito amor, fraternidade e caridade em frases de efeito, que, na verdade, encobrem boas doses de presunção, e estímulo ao medo e ao misticismo.
O Espiritismo bem estudado e compreendido é seguramente o melhor antídoto contra tais ilusões e artimanhas, mas como cada vez mais se tem priorizado a leitura de obras romanceadas e as de abordagem superficial e simplista de pretenso caráter espírita, deixando-se de lado o estudo sério e metódico das obras kardecianas, tem crescido o número de adeptos que pouco ou nada sabem sobre a Doutrina, tornando-se, assim, presas fáceis dos espertalhões encarnados e desencarnados.
Já declarava Kardec em 1861, em “O Livro dos Médiuns”:
Os Espíritos são as almas dos homens, e como os homens não são perfeitos, há também Espíritos imperfeitos, cujo caráter se reflete nas comunicações. É incontestável que há Espíritos maus, astuciosos, profundamente hipócritas, contra os quais devemos nos prevenir.
Herculano Pires, em vista desses preciosos esclarecimentos, teceu comentários, tendo em mente o que vem ocorrendo no movimento espírita brasileiro:
“A malandragem dos Espíritos mistificadores ultrapassa às vezes tudo que se possa imaginar. A arte com que assestam as suas baterias e tramam os meios de persuadir seria digna de atenção, caso se limitassem a brincadeiras inocentes. Mas as mistificações podem ter consequências desagradáveis para os que não se previnam. Somos muito felizes por termos podido abrir os olhos a tempo a muitas pessoas que nos pediram conselhos, livrando-as de situações ridículas e comprometedoras.
(...) Devem também considerar desde logo suspeitas as predições com épocas marcadas e todas as indicações precisas referentes a interesses materiais.
Toda cautela com as providências prescritas ou aconselhadas pelos Espíritos, quando os fins não forem claramente razoáveis.
Jamais se deixar ofuscar pelos nomes usados pelos Espíritos para darem validade as suas palavras.
Desconfiar das teorias e sistemas científicos ousados. Enfim, desconfiar de tudo o que se afaste do objetivo moral das manifestações. Poderíamos escrever um volume dos mais curiosos com as estórias de todas as mistificações que têm chegado ao nosso conhecimento.
A falta de observação dessas instruções tem permitido a divulgação e aceitação de numerosas teorias pseudo-cientificas em nosso país e em todo o mundo, que contribuem para o descrédito do Espiritismo. A vaidade pessoal de médiuns, de estudiosos da doutrina e até mesmo de intelectuais de valor inegável, estes sempre dispostos a criticar e a superar Kardec, tem levado essas pessoas ao ridículo, inutilizando-as para o verdadeiro trabalho de divulgação e orientação. Essas instruções devem ser lidas e meditadas pelos que desejam realmente servir à causa espírita.”
Assim sendo, prezado leitor, se desejamos estar aptos a seguir a causa espírita, levemos em consideração tais instruções, precavendo-nos, assim, dos engodos que dão o ar da graça em nosso meio. Somente o estudo atento das obras kardecianas, somados ao desenvolvimento do senso crítico alicerçado na mais severa lógica, pode imunizar-nos desses vírus inoculados pelos inimigos secretos do Espiritismo e do bem geral. Amar ao próximo não é somente aliviar suas dores, mas preveni-las, e isso começa por libertá-lo de tudo que conduza ao erro e à ilusão, que, consequentemente, levará ao sofrimento. Na ignorância repousa a origem de todo o mal.
28 janeiro 2011
Os Efeitos do Ecletismo e da Heterodoxia no Movimento Espírita Francês
Como bem sabemos, o Espiritismo surgiu na França em 1857, com a publicação de "O Livro dos Espíritos" pelo professor Hippolyte Léon Denizard Rivail, que utilizou-se do pseudônimo "Allan Kardec" para que ficasse bem marcada a distinção daquele seu trabalho com outros oriundos de sua profissão como respeitado pedagogo, discípulo de Pestalozzi.
Com o sucesso alcançado pela primeira obra da Codificação Espírita, base de todo o edifício doutrinário, Allan Kardec decidiu fundar, em Paris, a 1 de abril de 1858, a "Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas", cuja existência justificou da seguinte maneira:
"A extensão por assim dizer universal que tomam diariamente as crenças espíritas faziam desejar vivamente a criação de um centro regular de observações. Esta lacuna acaba de ser preenchida. A Sociedade cuja formação temos o prazer de anunciar, composta exclusivamente de pessoas sérias, isentas de prevenções e animadas do sincero desejo de esclarecimento, contou, desde o início, entre os seus associados, com homens eminentes por seu saber e por sua posição social. Estamos convictos de que ela está chamada a prestar incontestáveis serviços à constatação da verdade. Sua lei orgânica lhe assegura uma homogeneidade sem a qual não haverá vitalidade possível; está baseada na experiência dos homens e das coisas e no conhecimento das condições necessárias às observações que são o objeto de suas pesquisas. Vindo a Paris, os estranhos que se interessam pela doutrina espírita terão um centro ao qual poderão dirigir-se e comunicar suas próprias observações".
De acordo com o relatório de abril de 1862, publicado na Revista Espírita, a Sociedade experimentou considerável crescimento em seus primeiros anos de funcionamento, com 87 sócios efetivos pagantes, contando entre os membros: cientistas, literatos, artistas, médicos, engenheiros, advogados, magistrados, membros da nobreza, oficiais do exército e da marinha, funcionários civis, empresários, professores e artesãos. O número de visitantes chegava a quase 1500 pessoas por ano, considerável para a época.
Kardec, que desempenhava o cargo de presidente desde a criação da entidade, fatigado com o excesso de trabalho e aborrecido com as querelas administrativas, por várias vezes, externou o desejo de renunciar. Instado, porém, pelos Espíritos coordenadores do trabalho, continuou no exercício da presidência até a data de sua desencarnação.
Conforme se pode claramente notar em escritos, documentos e depoimentos da época, o Codificador era rigoroso no cumprimento das disposições estatutárias e na disciplina na condução das atividades aí realizadas. Exigia de todos os participantes extrema seriedade e isso contribuiu para dar muita credibilidade à instituição e aos seus pronunciamentos acerca dos assuntos tratados. Era extremamente prudente e austero nos pareceres exarados e nunca permitiu que a Sociedade se tornasse arena de controvérsias e debates estéreis, geralmente fomentados por indivíduos interessados em desviarem o Espiritismo dos rumos estabelecidos nas obras da Codificação.
Com o desencarne de Allan Kardec em 1869, vitimado por um aneurisma, um de seus colaboradores mais diretos, Pierre Gaëtan Leymarie, passou a exercer as funções de redator-chefe e diretor da "Revue Spirite" (1870 a 1901) e gerente da "Librairie Spirite" (1870 a 1897). No entanto, sem as mesmas credenciais do Codificador e por seu excessivo espírito de tolerância, não foi capaz de obstruir a ação de (pseudo)adeptos que desvirtuaram a finalidade da Revista, abrindo suas páginas à propaganda de filosofias espiritualistas, inclusive à de Roustaing, que diverge do Espiritismo. Houve, ao mesmo tempo, o desvirtuamento das finalidades da Revista Espírita, em que foi oferecido "terreno livre a lutadores de todas as correntes com a condição de que defendessem causas espiritualistas ou de ordem essencialmente humanitária e moral, expondo-se assim às críticas acirradas de uns, às acusações ou descontentamento de outros... ", conforme conta na obra "Processo dos Espíritas" (ed. FEB, 1977, págs. 22/23 da 2ª edição). Nesses "lutadores de todas as correntes" incluíam-se adeptos do Orientalismo, como teosofistas, budistas, ocultistas, esotéricos, etc., como consta da obra "Allan Kardec" (FEB, vol. III) de Zêus Wantuil e Francisco Thiesen.
Esta é, portanto, a causa do desaparecimento do Espiritismo na França. O sincretismo, a miscelânea do Espiritismo com outras correntes espiritualistas, desfigurando por completo a prática espírita, que até hoje é confundida, na França e em praticamente toda a Europa, com toda a sorte de superstições, como a astrologia, quiromancia, feitiçaria, bruxaria, etc.
No Brasil, na atualidade, o que podemos claramente verificar é que a história se repete, sendo que a tática dos inimigos velados do Espiritismo continua a mesma: a de propor e forçar a sorrateira entrada de questionáveis práticas e ideias no seio do movimento espírita brasileiro.
Por um lado, tivemos a adoção das obras de Roustaing pela Federação Espírita Brasileira, tendo seus membros apelidado-as de "Curso Superior de Espiritismo", "Quarta Revelação" e "Revelação da Revelação". Graças a isso, até hoje sentimos o reflexo dessa política febeana, na medida em que no movimento instaurou-se uma mentalidade piegas, subserviente e igrejeira, erroneamente confundida com postura caritativa e tolerante, devido a toda uma série de obras, mediúnicas ou não, que, embora não mencionassem Roustaing ou suas obras, conseguiram incutir, subrepticiamente, o ideário neo-docetista no seio do Movimento.
Por outro lado, e adotando ideias diferentes das do rustenismo, os simpatizantes do orientalismo insistem, com base principalmente nos ditados do espírito Ramatis ao médium espiritualista Hercílio Maes, em dar ao Espiritismo uma faceta mística calcada nas religiões orientalistas do passado e na Teosofia, julgadas capazes de enriquecer o Espiritismo. Para tanto, não se furtam em chamar Kardec (e, consequentemente, as obras da Codificação Espírita) de ultrapassado, e a Doutrina de carente de remendos, considerando como principal artífice dessa "missão" o próprio espírito Ramatis e seus confusos ditados, sob a fachada de "universalismo", termo geralmente utilizado para encobrir ideias sincretistas e práticas fetichistas. A lista de "inovações" propugnada por esses redutos seitistas é extensa: adoção da astrologia, da apometria, de rituais, de terminologias estranhas ao Espiritismo, crença em profecias de destruição do planeta, crença em extra e intraterrenos com missão de salvar o planeta, e toda sorte de divagações místicas sem o menor embasamento lógico ou factual, geralmente induzindo a uma alienação místico-religiosa que em nada fica a dever às religiões dogmáticas tradicionais, só que com um faceta diferente, de cunho essencialmente esotérico.
Portanto, enquanto encararmos tudo isso de braços cruzados, vitimados pela falsa ideia de que estaremos sendo intolerantes e antifraternos ao (nos) esclarecermos e não compactuarmos com essa tentativa de desvirtuamento do entendimento e da prática espírita dentro e fora dos centros espíritas e federações, tudo ficará como está, com tendência a piorar, tal qual aconteceu com o próprio Cristianismo, hoje uma autêntica colcha de retalhos devido aos mesmos fatores que hoje ameaçam o Espiritismo.
A articulista Vanda Simões, atenta à essa realidade, escreveu certa feita um interessante artigo intitulado "Nossos Espíritas Imperfeitos" que nós aqui transcrevemos e utilizamos para concluir nossas considerações:
"Allan Kardec afirmou certa vez, que os piores inimigos do Espiritismo estariam entre seus pares. Pode parecer declaração demasiadamente dura e radical, mas veio dele mesmo e ele sabia do que estava falando. Hoje, nesse mundo de tanta confusão, o Movimento Espírita se vê envolto em um emaranhado de parvoíces que deixam os espíritas sérios preocupados com o destino da doutrina no mundo. Custa-se a acreditar que uma filosofia tão racional e desbravadora possa ter gerado pessoas com visão tão estreita e engessada da vida.
De duas uma: ou a Doutrina Espírita é defeituosa ou os espíritas não compreenderam seu alcance moral. Sabendo-se da inverdade da primeira hipótese, resta-nos curvar à realidade da segunda. A prova disso está na forma como a Doutrina é praticada nos centros espíritas do país inteiro, com réplicas perfeitas no exterior (principalmente em Portugal e nos Estados Unidos), "formando" adeptos que de espíritas só têm o nome. São os espíritas imperfeitos, de que está cheio o movimento, como por exemplo, os que vêm a público afirmar que Kardec está ultrapassado e que precisa ser reinterpretado, quando ainda nem se conhece a fundo dez por cento do seu pensamento. Consideram-se doutos em Espiritismo por terem lido as obras básicas, e toda a literatura acessória, psicografada ou não. E ler é uma coisa. Estudar, entender e compreender é outra bem diferente. (...)
(...) Os espíritas "modernos" parecem desconhecer tal coisa. E, se conhecem, não dão a menor importância, pois defendem idéias esdrúxulas e contrárias aos fundamentos kardequianos, baseados em escritos ditados por Espíritos enganadores e pseudo-sábios. Essas idéias infiltram-se com facilidade em nosso meio, porque encontram o terreno fértil da ingenuidade e da falta do estudo que faz com que tudo se aceite sem exame, sem critério. É tempo de mudanças. O milênio termina e se inicia uma nova fase para o planeta. Os centros espíritas precisam se preparar para amparar o homem dentro de uma filosofia de vida melhor, mais justa e mais plena de compreensão das coisas divinas.
Para isso, necessita de espíritas sérios, que compreendam o verdadeiro sentido do Espiritismo, que possam trazer para dentro das casas espíritas uma nova ordem de práticas e metas, formando verdadeiramente homens de bem. Que possam retirar dos centros tudo o que não serve para a edificação do ser. Enfim, mostrar aos fariseus modernos a verdadeira face da Doutrina Espírita como agente modificador da humanidade e não como instrumento de gloríolas, de mera promoção pessoal e fábrica de fantasias".
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14 junho 2009
Movimento Espírita: "Alvo das investidas das sombras organizadas"
O espírito Camilo, através da psicografia de José Raul Teixeira, fez um alerta muitíssimo pertinente intitulado "Uma Reflexão sobre o Movimento Espírita", constante da obra "Desafios da Educação"(Editora Fráter).
Como o prezado e atento leitor poderá notar, a citada entidade espiritual analisa detalhadamente a quantas anda o Movimento Espírita em vista da falta de estudo e conhecimento do Espiritismo, resultando na tentativa de enxertias e desvios de todo tipo, incentivadas pela espiritualidade inferior, interessada em promover o sincretismo e a confusão em nossa fileiras.
Leiamos com atenção e vejamos a estreita conexão com aquilo que analisamos aqui neste blog.
Inicialmente, a nobre entidade fala sobre a excelência da mensagem espírita e da grandiosa figura do Codificador Allan Kardec e sua preocupação com a UNIDADE doutrinária.
"A excelente Mensagem Espírita chega ao mundo como refrescante e iluminada aurora, anunciando um dia novo de bençãos para o planeta, atendendo as imensas carências da alma terrestre, que vivia a braços com as trevas ocasionadas pelo absolutismo materialista, que tem seus fundamentos balançados, em razão das Vozes altíssimas e claras que rasgaram o silêncio dos túmulos, para invadir os ouvidos da Humanidade inteira.
Como chuva bondosa, a Doutrina Espírita penetra o solo ressequido das almas, onde, a partir de então, as sementes nobres dos ensinamentos do Mundo Superior teriam toda a chance de germinar e medrar, estabelecendo ventura e progresso.
Eram novos tempos para a cultura e para a fé, que, agora, irisadas por luzes espirituais que se mostravam diante de todos, formulando convite ao espírito humano para um pensamento mais alto.
No centro das ocorrências, destaca-se a figura augusta do professor Rivail, universalmente conhecido como Allan Kardec, e na sua visão de espírito de escol, sabia e afirmava que seria ponto de honra para o desenvolvimento da Mensagem na Terra a manutenção da unidade. Seria indispensável que em toda parte, onde surgisse um núcleo de estudos do Espiritismo, se pudesse falar a mesma linguagem, sem que houvesse riscos de ser ele desfigurado, sem riscos de que viesse a sofrer enxertias, o que seria descabida ocorrência no bojo de uma doutrina de tamanha lucidez. A preocupação do Codificador, porém, dizia que tais dificuldades eram passiveis de ocorrer."
Prosseguindo, o espírito Camilo comenta sobre o crescimento do Movimento Espírita e faz um alerta:
"O tempo passa, as atividades em torno da Doutrina Espírita são desenvolvidas com rapidez. Da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, em 1858, aos dias atuais, podem-se contar por milhares as instituições levantadas no mundo em nome da Veneranda Doutrina. Do pequeno grupo de almas dispostas, que ladearam o Codificador, suportando toda agrestia e fereza dos primeiros preconceitos até hoje, quando se torna status importante dizer-se espírita, há quase um século e meio de modificações na mentalidade geral.
À semelhança do que ocorreu com a primitiva comunidade dos Apóstolos de Jesus, que foi perdendo em qualidade à medida que se foi expandindo, se popularizando e ganhando notoriedade através do prestígio político de Roma, as atividades ao redor do Espiritismo - o Movimento Espírita - foi tomando contornos preocupantes em todo lugar, na proporção do seu agigantamento acompanhado pelo desconhecimento declarado dos seus fundamentos."
Como pudemos perceber, Camilo aponta o desconhecimento decorrente da falta de estudo do Espiritismo como razão principal para a perda de qualidade que se nota em todo lugar no que tange à prática doutrinária, tal qual ocorreu com o Cristianismo, que em praticamente nada se assemelha àquilo que foi legado por Jesus.
"Allan Kardec, valendo-se do seu inesgotável bom senso, estabeleceu que o Espiritismo é uma doutrina de livre exame, significando que, não sendo impositiva, oferece ao indivíduo que vai ao seu encontro todas as possibilidades de discussão e de análises, até que tenha podido compreender suas bases, de modo a vivê-las com claridade mental e segurança. Tristemente, muitos pensaram que tal condição de Mensagem lhes permita adaptar os seus preceitos doutrinários aos próprios gostos e tendências, sem causarem problemáticas adulterações no trabalho de profunda coerência dos Numes Tutelares da Terra."
Realmente perfeita a colocação do espírito Camilo. Muitos acham que podem adaptar seus atavismos ao corpo doutrinário espírita, demonstrando, com isso, total incoerência. Se não encontram-se satisfeitos com o Espiritismo, e não sendo esta uma Doutrina exclusivista e impositiva, nada mais sensato que dedicarem-se aos seus movimentos religiosos, deixando a prática espírita livre de adulterações e enxertias descabidas.
"Referiu-se o Codificador à compreensão do Espiritismo dizendo que quem deseje tornar-se versado numa ciência tem que a estudar metodicamente, começando pelo princípio e acompanhando o encadeamento e o desenvolvimento das suas idéias (Kardec, A. O Livro dos Espíritos, introdução, parte VIII). Lamentavelmente, porém, muitos admitiram que poderiam falar e agir em seu nome, sem o mínimo de estudo de sua doutrina, na pressa inconsequente por obter fenômenos que bem podiam ser buscados fora dos arraiais espíritas, o que não vincularia a possível má qualidade ou a sua impostura ao respeitável estatuto espiritista.
Os abnegados Prepostos do Cristo ensinam na Codificação que o ensino dos espíritos tem que ser claro e sem equívocos, para que ninguém possa pretextar ignorância e para que todos o possam julgar e apreciar com a razão (O Livro dos Espíritos, questão 627). Desafortunadamente, indivíduos oriundos dos mais diversos territórios intelectuais, das mais variadas regiões morais, com as mais estranhas idiossincrasias, atiraram-se a propor alterações doutrinárias, a fazerem adaptações inconsistentes quão perigosas, introduzindo idéias e práticas francamente estranhas aos textos e contexto da Doutrina. São muitos os que, ignorantes, vão mantendo outras criaturas no seu mesmo nível, abominando estudos, detestando análises, impossibilitando a aeração dos movimentos do raciocínio. Um grande número não crê no que o Espiritismo expõe, mas se vale da atenção dos crédulos e ingênuos, sempre abundantes, para impor as suas próprias fantasias que trata de envolver com as cores da Veneranda Doutrina, porque sabe do desvalor do produto que oferece querendo adesões que lhe incense a vaidade.
Nenhum problema provocaria o indivíduo que criasse uma ordem de idéias, uma doutrina pessoal e que a defendesse com insistência, em seu nome mesmo, e a partir disso cobrasse atendimento, forjasse distintivos, premiações, imagens de "santos" encarnados, liturgias sacramentais e ordenações. Toda a sua prática seria buscada e seguida pelas almas que sintonizassem com isso, como deparamos no mundo dos intocáveis ismos , personalizados e personalistas, arrebanhando grupos imensos de fanatizados, que pagam bem caro para comprar um lugar no céu..., conforme a promessa dos seus líderes."
Camilo cita aquilo que também defendemos: sigam a quem quiserem e aquilo que bem entenderem, têm todos esse direito, mas aqueles que se dizem espíritas devam cuidar para que o Espiritismo mantenha-se livre de misturas, atavios e enxertias, permanecendo claro e límpido conforme nos foi legado pela Espiritualidade Superior.
"Quanto ao Espiritismo, porém, as coisas devem ser diferentes. Não havendo obrigação da pessoa ser espírita; inexistindo qualquer ameaça infernal para quem não aceite sua orientação; não se prometendo premiações celestiais a quem quer que seja e sendo uma escolha livre da criatura, em meio de tão diversificadas opções, torna-se imprescindível que quem queira ser espírita se despoje dessa terrível vaidade de que querer que as coisas sejam a seu gosto, ao invés de ajustar-se aos espirituais ensinamentos da Grande Luz. Imprescindível que o sincero espírita assuma, de fato, a disposição de melhorar-se com o conteúdo assimilado das lições do Infinito, pelejando para domar as suas inclinações inferiores."
No trecho a seguir, Camilo fala da estratégia da espiritualidade inferior para aniquilar o Movimento Espírita:
"Com tristeza, percebe-se hoje que o Movimento Espírita, que dispõe de tudo o que a Doutrina Espírita lhe brinda para ser amadurecido, pujante e avançado, tem sido alvo das investidas das Sombras organizadas e se encharcado com seus conteúdos peçonhentos e danosos. Daí, são núcleos criados para reverenciar personalidades vaidosas, que não abrem mão da relação de vassalagem; são instituições montadas somente para atender os corpos, sem qualquer compromisso com o espírito imortal que permanece vagueando nas trevas de si mesmo; são casas erguidas para desfigurar o pensamento espírita, em razão das mesclas implantadas com doutrinas, filosofias e práticas orientalistas ou africanistas que, mesmo merecendo respeito, têm propostas bem distintas das do Consolador."
Tais observações de Camilo não poderiam ser mais claras: a ênfase em trabalhos de cura de corpos em detrimento do estudo da Doutrina; a inserção de práticas orientalistas e africanistas; a idolatria a personalidades vaidosas e centralizadoras, encarnadas e desencarnadas, tidas como detentoras exclusivas da Verdade... Tudo isso com o velado objetivo de desfigurar o Espiritismo.
"Ainda em nosso Movimento Espírita, se há confundido o caráter universalista do Espiritismo com uma infausta tendência agregacionista, pois, ao invés de o pensamento espírita ajudar a ver o mundo dentro da óptica da Vida Superior, para que o indivíduo saia do nível das considerações meramente materiais, vê-se que tudo que é encontrado de "interessante" mundo afora, deseja-se agregar ao Espiritismo. Cânticos, terapias, experimentações psíquicas diversas, mantras, vestuário, jargões, festividades de gosto execrável e coisas outras ocupando variado espectro, têm despontado aqui e ali, em nome da Doutrina Espírita. E o que é mais contristador, é que tudo isto se dá diante da postura inerme dos que aceitaram responsabilidades diretivas das quais não dão conta. Tudo isto tem sido acompanhado com o consentimento dos que dirigem, coordenam, "orientam"..."
Exatamente como pensa a seita ramatisista: tudo crêem devam incorporar ao Espiritismo, em nome de um suposto "universalismo", que, na verdade, não passa de confusão sincrética oriunda de atavismos e falta de aprofundamento e entendimento da proposta doutrinária espírita. Disseminam aos quatro cantos que Kardec (entenda-se a Codificação) estaria ultrapassado, como se as verdades universais fossem mutáveis, ao mesmo tempo que desejam inserir no Espiritismo as crendices e superstições cujam origens remontam milhares de anos, quando a civilização achava-se em sua infância. E quando chamados a atenção, colocam-se na posição de vítimas, de perseguidos, raivosamente alegando "falta de caridade" daqueles que lutam pacificamente pela manutenção da unidade doutrinária. No entanto, como bem disse o espírito Camilo, falta de caridade é justamente nada fazer e tão-somente observar o crescimento dessas estranhas idéias em nosso meio.
Conclui Camilo, magistralmente:
"Afirmou o Celeste Guia que ninguém pode servir a dois senhores...
Estabeleceu o Excelso Mestre: Seja o vosso falar sim, sim, não, não...
Informa o Espírito da Verdade: Deus procede ao censo dos seus servidores fiéis e já marcou com o dedo aqueles cujo devotamento é apenas aparente.
Vale a pena refletir em todos esses brilhantes dizeres e nessas imagens tão expressivas dos mentores da Humanidade. A hora é, incontestavelmente, de testemunhos difíceis, e quem ainda não se sinta em condições de tomar do conteúdo da luminosa Revelação e dar-lhe impulso positivo, fazendo-a útil a si e aos irmãos do caminho, comece ou recomece o esforço íntimo para o fortalecimento da vontade de crescer, de despojamento do comodismo do homem velho, uma vez que Jesus Cristo confia nos empenhos das suas ovelhas, e conta que esses empenhos sejam verdadeiros, para que o seu devotamento não seja tão somente aparência, a fim de que se possa, então, construir um Movimento Espírita vívido e forte, capaz de representar as excelências do Espiritismo vivenciado e sofrido, se necessário, através das ações e convicções dos seus seguidores fiéis."
21 outubro 2008
Erasto, os falsos profetas e o critério espírita

Herculano Pires e Ramatis

Começaremos com J. Herculano Pires(1914-1979), jornalista, filósofo, poeta, tradutor e pensador espírita paulista.
É considerado o maior pensador espírita do Brasil e um dos maiores intérpretes do pensamento kardeciano.
Chamado de "O Guarda Noturno do Espiritismo", foi um dos grandes defensores do caráter cultural e filosófico do Espiritismo, tendo travado memoráveis polêmicas com detratores da Doutrina Espírita.
Fundador da União Social Espírita (atual USE), entusiasta da educação espírita, Herculano escreveu mais de 80 obras sobre inúmeros temas. Foi presidente do Sindicato Estadual dos Jornalistas de São Paulo.
Obras: O Reino; Espiritismo Dialético; O Mistério do Ser Ante a Dor e a Morte; O Espírito e o Tempo; Revisão do Cristianismo; Agonia das Religiões; O Centro Espírita; Curso Dinâmico de Espiritismo; Mediunidade; Ciência Espírita e suas Implicações Terapêuticas; Pesquisa Sobre o Amor.
Vamos, agora, aos seus comentários críticos sobre Ramatis e quejandos:
"Faz-se, em geral, muita confusão a propósito de Espiritismo. Há confusões intencionais, promovidas por elementos interessados em combater a propagação inevitável da Doutrina, e há confusões inocentes, feitas por pessoas de reduzido conhecimento doutrinário. As primeiras, as intencionais, não seriam funestas, porque facilmente identificáveis quanto ao seu objetivo, se não houvesse confusões inocentes, que preparam o terreno para aquelas explorações.
Os Centros Espíritas têm um grande papel a desempenhar na luta pelo esclarecimento do povo, devendo promover constantes programas de combate a todas as formas de confusão doutrinária. Por isso mesmo, devem ser dirigidos por pessoas que conheçam a Doutrina, que a estudem incessantemente e que não se deixem levar por sugestões estranhas. Quando os dirigentes de Centro não se sentirem bastante informados dos princípios doutrinários, devem revestir-se, pelo menos, da humildade suficiente para recorrerem aos conselhos de pessoas mais esclarecidas e à leitura de textos orientadores.
Há um pequeno livro de Kardec que muitos dirigentes desprezam, limitando-se a aconselhar a sua leitura aos leigos e principiantes: exatamente “O Principiante Espírita”. Esse livrinho é precioso orientador doutrinário, que os dirigentes devem ler sempre. Outro pequeno volume aconselhável é “O Que É o Espiritismo”, também de Kardec. Principalmente agora, nesta época de confusões que estamos atravessando, os dirigentes de Centros, Grupos Familiares e demais organizações doutrinárias, deviam ter esses livros como leitura diária, obrigatória.
Além das confusões habituais entre Umbanda e Espiritismo, Esoterismo, Teosofia, Ocultismo e Espiritismo, há outras formas de confusão que vêm sendo amplamente espalhadas no meio espírita. São as confusões de origem mediúnica, oriundas de comunicações de espíritos que se apresentam como grandes instrutores, dando sempre respostas e informações sobre todas as questões que lhes forem propostas. Um exemplo marcante é o de Ramatis, cujas mensagens vêm sendo fartamente distribuídas.
Qualquer estudioso da Doutrina percebe logo que se trata de um espírito pseudo-sábio, segundo a “escala espírita” de Kardec. Não obstante, suas mensagens estão assumindo o papel de sucedâneos das obras doutrinárias, levando até mesmo oradores espíritas a fazerem afirmações ridículas em suas palestras, com evidente prejuízo para o bom conceito do movimento espírita.
Não é de hoje que existem mensagens dessa espécie. Desde todos os tempos, espíritos mistificadores, os falsos profetas da erraticidade, como dizia Kardec, e espíritos pseudo-sábios, que se julgam grandes missionários, trabalham, consciente ou inconscientemente, na ingrata tarefa de ridicularizar o Espiritismo. Mas a responsabilidade dos que aceitam e divulgam essas mensagens não é menor do que a dos espíritos que as transmitem.
Por isso mesmo, é necessário que os confrades esclarecidos não cruzem os braços diante dessas ondas de perturbação, procurando abrir os olhos dos que facilmente se deixam levar por elas.
O Espiritismo é uma doutrina de bom senso, de equilíbrio, de esclarecimento positivo dos problemas espirituais, e não de hipóteses sem base ou de suposições imaginosas. As linhas seguras da Doutrina estão na Codificação Kardeciana.
Não devemos nos esquecer de que a Codificação representa o cumprimento da promessa evangélica do Consolador, que veio na hora precisa.
Deixar de lado a Codificação, para aceitar novidades confusas, é simples temeridade. Tanto mais quando essas novidades, como no caso de Ramatis, são mais velhas do que a própria Codificação."
Herculano e as bases para um pleno entendimento doutrinário
"O estudo e os debates devem cingir-se às obras da Codificação. Substituir as obras fundamentais por outras, psicografadas ou não, é um inconveniente que se deve evitar. Seria o mesmo que, num curso de especialização em Pedagogia, passar-se a ler e discutir assuntos de Mecânica, a pretexto de variar os temas. O aprendizado doutrinário requer unidade e seqüência, para que se possa alcançar uma visão global da Doutrina. Todas as obras de Kardec devem constar desses trabalhos, desde os livros iniciáticos, passando pela Codificação propriamente dita, até os volumes da Revista Espírita.
Precisamos nos convencer desta realidade que nem todos alcançam: Espiritismo é Kardec. Porque foi ele o estruturador da Doutrina, permanentemente assistido pelo Espírito da Verdade. Todos os demais livros espíritas, mediúnicos ou não, são subsidiários. Estudar, por exemplo uma obra de Emmanuel ou André Luiz sem relacioná-la com as obras de Kardec, a pretexto de que esses autores espirituais superam o Mestre (cujas obras ainda não conhecemos suficientemente) é demostrar falta de compreensão do sentido e da natureza da Doutrina. Esses e outros autores respeitáveis dão sua contribuição para a nossa maior compreensão de Kardec, não podem substituí-lo. É bom lembrar a regra do "consenso Universal", segundo o qual nenhum espírito ou criatura humana dispõem, sozinhos, por si mesmos, de recursos e conhecimentos para nos fazerem revelações pessoais. Esse tipo de revelações individuais pertence ao passado, aos tempos anteriores ao advento da Doutrina. Um novo ensinamento, a revelação de uma "verdade nova" depende das exigências doutrinárias de:
a) Concordância universal de manifestações a respeito;
b) Concordância da questão com os princípios básicos da Doutrina:
c) Concordância com os princípios culturais do estágio de conhecimento atingido pelo nosso mundo;
d) Concordância com os princípios racionais, lógicos e logísticos do nosso tempo.
Fora desse quadro de concordâncias necessárias, que constituem o "consenso Universal", nada pode ser aceito como válido. Opiniões pessoais, sejam de sábios terrenos ou do mundo espiritual, nada valem para a Doutrina. O mesmo ocorre nas Ciências e em todos os ramos do Conhecimento na Terra. Porque o Conhecimento é uma estrutura orgânica, derivada da estrutura exterior da realidade e nunca sujeita a caprichos individuais.
Por isso é temeridade aceitar-se e propagar-se princípios deste espírito ou daquele homem como se fossem elementos doutrinários. Quem se arrisca a isso revela falta de senso e falta absoluta de critério lógico, além de falta de convicção doutrinária. O Espiritismo não é uma doutrina fechada ou estática, mas aberta ao futuro. Não obstante, essa abertura está necessariamente condicionada as regras de equilíbrio e de ordem que sustentam a verdade e a eficácia da sua estrutura doutrinária.
Como a Química, a Física, a Biologia e as demais Ciências, o Espiritismo não é imutável, está sujeito às mudanças que devem ocorrer com o avanço do conhecimento espírita. Mas como em todas as Ciências, esse avanço está naturalmente subordinado às exigências do critério racional, da comprovação objetiva por métodos científicos e do respeito ao que podemos chamar de "natureza da doutrina".
Introduzir na doutrina práticas provenientes de correntes espiritualistas anteriores a ela seria o mesmo que introduzir na Química as superadas práticas da Alquimia. As Ciências são organismos conceptuais da cultura humana, caracterizados pela sua estrutura própria e pelas leis naturais do seu crescimento, como ocorre com os organismo biológicos.
Todos nós ainda trazemos a "herança empírica" do passado anterior ao desenvolvimento da cultura científica, e somos às vezes tentados a realizar façanhas cientificas para as quais não estamos aptos. E como todos somos naturalmente vaidosos, facilmente nos entusiasmamos com a suposta possibilidade de nos tornarmos renovadores doutrinários. Nascem daí as mistificações como a de Roustaing, tristemente ridícula, a que muitas pessoas se apegam emocionalmente, o que as torna fanáticas e incapazes de perceber os enormes absurdos nelas contidos. Até mesmo pessoas cultas, respeitáveis, deixam-se levar por essas mistificações, por falta de humildade intelectual e de critérios científicos. Espíritos opiniáticos ou sectários de religiões obscurantistas aproveitam-se disso para introduzir essas mistificações em organizações doutrinárias prestigiosas, com a finalidade de ridicularizar o Espiritismo e afastar dele as pessoas sensatas que sabem subordinar a emoção à razão e que muito poderiam contribuir para o verdadeiro desenvolvimento da doutrina.
Por tudo isso, as manifestações mediúnicas em sessões doutrinárias devem ser recebidas sempre com espírito crítico. Aceitá-las como verdades reveladas é abrir as portas à mistificação, à destruição da própria finalidade dessas sessões. Também por isso, o dirigente dessas sessões deve ser uma pessoa de espírito arejado, racional, objetivo, capaz de conduzir os trabalhos com segurança. Kardec é sempre a pedra de toque para verificação das supostas revelações que ocorrem. O pensamento espírita é sempre racional, avesso ao misticismo. Os espíritos comunicantes, em geral, são de nível cultural mais ou menos semelhantes ao das pessoas presentes. Não devem ser encarados como seres sobrenaturais pois não passam de criaturas humanas desencarnadas, na maioria apegadas aos seus preconceitos terrenos, a morte não promove ninguém a sábio nem confere aos espíritos autoridade alguma em matéria de doutrina. Por outro lado, os espíritos realmente superiores só se manifestam dentro das condições culturais do grupo, não tendo nenhum interesse em destacar-se como geniais antecipadores de descobertas cientificas que cabe aos encarnados e não a eles fazerem. A idéia do sobrenatural, nas relações mediúnicas, é a fonte principal das mistificações.
Homens e espíritos vaidosos se conjugam nas tentativas pretensiosas de superação doutrinária. Se não temos ainda, no mundo inteiro, instituições espíritas à altura da doutrina, isso se deve principalmente à vaidade e à invigilância dos homens e espíritos que se julgam mais do que são. Nesta hora de muitas novidades, é bom verificarmos que as maiores delas já foram antecipadas pelo Espiritismo. É ele, o Espiritismo, a maior novidade dos novos tempos. Se tomarmos consciência disso, evitaremos os absurdos que hoje infestam o meio doutrinário e facilitaremos o desenvolvimento real da doutrina em bases racionais."
Livros de Herculano Pires
Os Livros de Ramatis são confiáveis?

Nosso objetivo neste blog, como já dissemos alhures, é o de reunir todas as falhas e heresias de cunho científico e doutrinário do espírito Ramatis, cujos conceitos vêm contaminando o Movimento Espírita Brasileiro, de tal forma que muitos consideram esse espírito um verdadeiro reformador da Doutrina Espírita, um enviado, um missionário, o que absolutamente não é verdade.
Seus ditados, como vocês poderão ver, contém uma série de inexatidões que não podem ser deixadas de lado, como sugerem alguns, a título de caridade ou por ele não se dizer "espírita", como se isso o autorizasse a enganar ou ensinar falsos conceitos, e, o que é pior, para um público predominantemente espírita, causando uma confusão em nosso meio de proporções gigantescas.
“... Submetendo-se todas as comunicações a rigoroso exame, sondando e analisando suas idéias e expressões, como se faz ao julgar uma obra literária e rejeitando sem hesitação tudo o que for contrário à lógica e ao bom senso, tudo o que desmente o caráter do Espírito que se pensa estar manifestando, consegue-se desencorajar os Espíritos mistificadores que acabam por se afastar, desde que se convençam de que não podem nos enganar. Repetimos que este é o único meio, mas é infalível porque não existe comunicação má que resista a uma crítica rigorosa. Os Espíritos bons jamais se ofendem, pois eles mesmos nos aconselham a proceder assim e nada têm a temer do exame...”(item 266) O Livro dos Médiuns – Kardec – Lake – pg. 222 e 236
“O Sr. Allan Kardec propôs, como objeto de estudo, o exame aprofundado e detalhado de certos ditados, espontâneos ou outros, que se poderiam analisar e comentar, como se faz nas críticas literárias. Esse gênero de estudo, teria a dupla vantagem de exercer a apreciação do valor das comunicações Espíritas, e, em segundo lugar e por conseqüência mesmo dessa apreciação, desencorajar os Espíritos enganadores que, vendo todas as suas palavras criticadas, controladas pela razão, e finalmente rejeitadas desde que tenham um sinal suspeito, acabariam por compreender que perdem seu tempo. Quanto aos Espíritos sérios, poder-se-ia chamá-los para pedir-lhes explicações e desenvolvimentos sobre os pontos de suas comunicações que tivessem necessidade de serem elucidados. A Sociedade aprovou essa proposição.”
Revista Espírita – Allan Kardec – Maio/1860 – IDE – 1a edição – pg. 131
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