Resgatando a Proposta Espírita: Análise crítica dos ditados do espírito Ramatis e demais questões controversas no Movimento Espírita
28 janeiro 2011
Os Efeitos do Ecletismo e da Heterodoxia no Movimento Espírita Francês
Como bem sabemos, o Espiritismo surgiu na França em 1857, com a publicação de "O Livro dos Espíritos" pelo professor Hippolyte Léon Denizard Rivail, que utilizou-se do pseudônimo "Allan Kardec" para que ficasse bem marcada a distinção daquele seu trabalho com outros oriundos de sua profissão como respeitado pedagogo, discípulo de Pestalozzi.
Com o sucesso alcançado pela primeira obra da Codificação Espírita, base de todo o edifício doutrinário, Allan Kardec decidiu fundar, em Paris, a 1 de abril de 1858, a "Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas", cuja existência justificou da seguinte maneira:
"A extensão por assim dizer universal que tomam diariamente as crenças espíritas faziam desejar vivamente a criação de um centro regular de observações. Esta lacuna acaba de ser preenchida. A Sociedade cuja formação temos o prazer de anunciar, composta exclusivamente de pessoas sérias, isentas de prevenções e animadas do sincero desejo de esclarecimento, contou, desde o início, entre os seus associados, com homens eminentes por seu saber e por sua posição social. Estamos convictos de que ela está chamada a prestar incontestáveis serviços à constatação da verdade. Sua lei orgânica lhe assegura uma homogeneidade sem a qual não haverá vitalidade possível; está baseada na experiência dos homens e das coisas e no conhecimento das condições necessárias às observações que são o objeto de suas pesquisas. Vindo a Paris, os estranhos que se interessam pela doutrina espírita terão um centro ao qual poderão dirigir-se e comunicar suas próprias observações".
De acordo com o relatório de abril de 1862, publicado na Revista Espírita, a Sociedade experimentou considerável crescimento em seus primeiros anos de funcionamento, com 87 sócios efetivos pagantes, contando entre os membros: cientistas, literatos, artistas, médicos, engenheiros, advogados, magistrados, membros da nobreza, oficiais do exército e da marinha, funcionários civis, empresários, professores e artesãos. O número de visitantes chegava a quase 1500 pessoas por ano, considerável para a época.
Kardec, que desempenhava o cargo de presidente desde a criação da entidade, fatigado com o excesso de trabalho e aborrecido com as querelas administrativas, por várias vezes, externou o desejo de renunciar. Instado, porém, pelos Espíritos coordenadores do trabalho, continuou no exercício da presidência até a data de sua desencarnação.
Conforme se pode claramente notar em escritos, documentos e depoimentos da época, o Codificador era rigoroso no cumprimento das disposições estatutárias e na disciplina na condução das atividades aí realizadas. Exigia de todos os participantes extrema seriedade e isso contribuiu para dar muita credibilidade à instituição e aos seus pronunciamentos acerca dos assuntos tratados. Era extremamente prudente e austero nos pareceres exarados e nunca permitiu que a Sociedade se tornasse arena de controvérsias e debates estéreis, geralmente fomentados por indivíduos interessados em desviarem o Espiritismo dos rumos estabelecidos nas obras da Codificação.
Com o desencarne de Allan Kardec em 1869, vitimado por um aneurisma, um de seus colaboradores mais diretos, Pierre Gaëtan Leymarie, passou a exercer as funções de redator-chefe e diretor da "Revue Spirite" (1870 a 1901) e gerente da "Librairie Spirite" (1870 a 1897). No entanto, sem as mesmas credenciais do Codificador e por seu excessivo espírito de tolerância, não foi capaz de obstruir a ação de (pseudo)adeptos que desvirtuaram a finalidade da Revista, abrindo suas páginas à propaganda de filosofias espiritualistas, inclusive à de Roustaing, que diverge do Espiritismo. Houve, ao mesmo tempo, o desvirtuamento das finalidades da Revista Espírita, em que foi oferecido "terreno livre a lutadores de todas as correntes com a condição de que defendessem causas espiritualistas ou de ordem essencialmente humanitária e moral, expondo-se assim às críticas acirradas de uns, às acusações ou descontentamento de outros... ", conforme conta na obra "Processo dos Espíritas" (ed. FEB, 1977, págs. 22/23 da 2ª edição). Nesses "lutadores de todas as correntes" incluíam-se adeptos do Orientalismo, como teosofistas, budistas, ocultistas, esotéricos, etc., como consta da obra "Allan Kardec" (FEB, vol. III) de Zêus Wantuil e Francisco Thiesen.
Esta é, portanto, a causa do desaparecimento do Espiritismo na França. O sincretismo, a miscelânea do Espiritismo com outras correntes espiritualistas, desfigurando por completo a prática espírita, que até hoje é confundida, na França e em praticamente toda a Europa, com toda a sorte de superstições, como a astrologia, quiromancia, feitiçaria, bruxaria, etc.
No Brasil, na atualidade, o que podemos claramente verificar é que a história se repete, sendo que a tática dos inimigos velados do Espiritismo continua a mesma: a de propor e forçar a sorrateira entrada de questionáveis práticas e ideias no seio do movimento espírita brasileiro.
Por um lado, tivemos a adoção das obras de Roustaing pela Federação Espírita Brasileira, tendo seus membros apelidado-as de "Curso Superior de Espiritismo", "Quarta Revelação" e "Revelação da Revelação". Graças a isso, até hoje sentimos o reflexo dessa política febeana, na medida em que no movimento instaurou-se uma mentalidade piegas, subserviente e igrejeira, erroneamente confundida com postura caritativa e tolerante, devido a toda uma série de obras, mediúnicas ou não, que, embora não mencionassem Roustaing ou suas obras, conseguiram incutir, subrepticiamente, o ideário neo-docetista no seio do Movimento.
Por outro lado, e adotando ideias diferentes das do rustenismo, os simpatizantes do orientalismo insistem, com base principalmente nos ditados do espírito Ramatis ao médium espiritualista Hercílio Maes, em dar ao Espiritismo uma faceta mística calcada nas religiões orientalistas do passado e na Teosofia, julgadas capazes de enriquecer o Espiritismo. Para tanto, não se furtam em chamar Kardec (e, consequentemente, as obras da Codificação Espírita) de ultrapassado, e a Doutrina de carente de remendos, considerando como principal artífice dessa "missão" o próprio espírito Ramatis e seus confusos ditados, sob a fachada de "universalismo", termo geralmente utilizado para encobrir ideias sincretistas e práticas fetichistas. A lista de "inovações" propugnada por esses redutos seitistas é extensa: adoção da astrologia, da apometria, de rituais, de terminologias estranhas ao Espiritismo, crença em profecias de destruição do planeta, crença em extra e intraterrenos com missão de salvar o planeta, e toda sorte de divagações místicas sem o menor embasamento lógico ou factual, geralmente induzindo a uma alienação místico-religiosa que em nada fica a dever às religiões dogmáticas tradicionais, só que com um faceta diferente, de cunho essencialmente esotérico.
Portanto, enquanto encararmos tudo isso de braços cruzados, vitimados pela falsa ideia de que estaremos sendo intolerantes e antifraternos ao (nos) esclarecermos e não compactuarmos com essa tentativa de desvirtuamento do entendimento e da prática espírita dentro e fora dos centros espíritas e federações, tudo ficará como está, com tendência a piorar, tal qual aconteceu com o próprio Cristianismo, hoje uma autêntica colcha de retalhos devido aos mesmos fatores que hoje ameaçam o Espiritismo.
A articulista Vanda Simões, atenta à essa realidade, escreveu certa feita um interessante artigo intitulado "Nossos Espíritas Imperfeitos" que nós aqui transcrevemos e utilizamos para concluir nossas considerações:
"Allan Kardec afirmou certa vez, que os piores inimigos do Espiritismo estariam entre seus pares. Pode parecer declaração demasiadamente dura e radical, mas veio dele mesmo e ele sabia do que estava falando. Hoje, nesse mundo de tanta confusão, o Movimento Espírita se vê envolto em um emaranhado de parvoíces que deixam os espíritas sérios preocupados com o destino da doutrina no mundo. Custa-se a acreditar que uma filosofia tão racional e desbravadora possa ter gerado pessoas com visão tão estreita e engessada da vida.
De duas uma: ou a Doutrina Espírita é defeituosa ou os espíritas não compreenderam seu alcance moral. Sabendo-se da inverdade da primeira hipótese, resta-nos curvar à realidade da segunda. A prova disso está na forma como a Doutrina é praticada nos centros espíritas do país inteiro, com réplicas perfeitas no exterior (principalmente em Portugal e nos Estados Unidos), "formando" adeptos que de espíritas só têm o nome. São os espíritas imperfeitos, de que está cheio o movimento, como por exemplo, os que vêm a público afirmar que Kardec está ultrapassado e que precisa ser reinterpretado, quando ainda nem se conhece a fundo dez por cento do seu pensamento. Consideram-se doutos em Espiritismo por terem lido as obras básicas, e toda a literatura acessória, psicografada ou não. E ler é uma coisa. Estudar, entender e compreender é outra bem diferente. (...)
(...) Os espíritas "modernos" parecem desconhecer tal coisa. E, se conhecem, não dão a menor importância, pois defendem idéias esdrúxulas e contrárias aos fundamentos kardequianos, baseados em escritos ditados por Espíritos enganadores e pseudo-sábios. Essas idéias infiltram-se com facilidade em nosso meio, porque encontram o terreno fértil da ingenuidade e da falta do estudo que faz com que tudo se aceite sem exame, sem critério. É tempo de mudanças. O milênio termina e se inicia uma nova fase para o planeta. Os centros espíritas precisam se preparar para amparar o homem dentro de uma filosofia de vida melhor, mais justa e mais plena de compreensão das coisas divinas.
Para isso, necessita de espíritas sérios, que compreendam o verdadeiro sentido do Espiritismo, que possam trazer para dentro das casas espíritas uma nova ordem de práticas e metas, formando verdadeiramente homens de bem. Que possam retirar dos centros tudo o que não serve para a edificação do ser. Enfim, mostrar aos fariseus modernos a verdadeira face da Doutrina Espírita como agente modificador da humanidade e não como instrumento de gloríolas, de mera promoção pessoal e fábrica de fantasias".
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20 janeiro 2011
"Movimento Espírita e Capacidade Crítica", por Sérgio Aleixo
Prezados amigos leitores, leiam com atenção e reflitam acerca do conteúdo deste precioso artigo escrito pelo confrade Sérgio Aleixo, que consideramos muito pertinente ao estudos que nós aqui desenvolvemos e, principalmente, em total concordância com os critérios adotados por Allan Kardec, sob a supervisão do Espírito da Verdade.
"Em função de nossos posicionamentos críticos (do grego kritiké: análise, apreciação), somos frequentemente acusado de intolerância e prática excludente. Porém, nenhum de nossos pronunciamentos jamais é realizado sem o devido respeito à identidade conceitual do Espiritismo, sempre com superlativa importância dada à obra de Kardec, o qual fazemos questão de citar, em referendo a toda ideia que damos a lume.
Ante essas acusações, o que pensarmos? Que muitos espíritas não conhecem obra do mestre de Lyon e, assim, se equivocam em seus julgamentos; ou, então, que não fazem caso do que disseram ou deixaram de dizer o codificador e seus excelsos orientadores espirituais. Um erro dos mais lamentáveis é confundirmos o discurso viril de paz, amor e tolerância, próprio do corajoso exercício da verdadeira Boa Nova, com esse simplismo comprometedor, do qual Jesus, aliás, nunca foi partidário, que vive a dizer tão comodamente: “Vamos deixar de fofoquinhas, crianças! Vamos amar o próximo!”.
Não seremos nós os que se oporão à necessidade de amarmo-nos. Todavia, no que concerne a nossa atitude de repúdio ao roustainguismo, ao ramatisismo, ao laicismo e a outros focos de evidente mistificação, que grassam em nosso movimento espírita sob a complacência ingênua de uns e interesseira de outros, insistimos em que é a exemplo de Kardec que a tomamos, e em nome do próprio Espírito de Verdade, o qual disse também: “Instruí-vos!”.
Contudo, salientemos que nosso repúdio é às falsas doutrinas, não a seus profitentes, que consideramos nossos irmãos e a quem amamos, embora a recíproca nem sempre tenha sido verdadeira, o que prova a fonte malsã de tais proposituras. Citado nominalmente, já fomos tachado de irresponsável, antiético e mesmo agredido em nossa juventude, como se fosse desdouro não contar ainda, pelo menos, cinqüenta anos... Pobre de nós, que mal passamos dos trinta! São traços, não há dúvida, de um patriarcalismo completamente arcaico.
Seguro, entretanto, de nossa atitude, estamos, como dizíamos, ao lado do próprio codificador, que instruiu os verdadeiros adeptos do Espiritismo da seguinte forma:
'Falar dessas opiniões divergentes que, em definitivo, se reduzem a algumas individualidades, e não fazem corpo em nenhuma parte, não é, talvez dirão algumas pessoas, dar-lhes muita importância, amedrontar os adeptos em lhes fazendo crer em cisões mais profundas do que elas o são? Não é também fornecer armas aos inimigos do espiritismo? É precisamente para prevenir esses inconvenientes que delas falamos. Uma explicação clara e categórica, que reduz a questão ao seu justo valor, é muito mais própria para tranqüilizar do que para amedrontar os adeptos; eles sabem a que se prenderem, e nisto encontram ocasião dos argumentos para a réplica. Quanto aos adversários, eles muitas vezes exploram o fato, e é porque lhe exageram a importância, que é útil mostrar o que ele é'. (Revista Espírita. Abril de 1866. O espiritismo independente. Tomo IX. 1. ed. p. 116. Araras: IDE, 1997.)
A nossa postura é, então, a do próprio codificador do espiritismo; e nunca tão necessária foi, pois assumida numa época em que existe o agravante de essas opiniões divergentes da codificação não mais se reduzirem a algumas individualidades. Efetivamente, elas fazem corpo e ameaçam-nos a integridade conceitual, aumentando a distância entre o Espiritismo — a obra de Kardec e o que a essa obra de fato se possa articular — e aquilo que o movimento espírita vem professando em geral.
Estamos acuados por um institucionalismo igrejificante, muito centralizador, que cerceia o pleno exercício da capacidade crítica, elemento fundamental à proposta de uma fé realmente raciocinada. Por isso, muitos espíritas não chegam a desposar com a coragem que se esperaria os fundamentos doutrinais kardecianos. Apenas para não desagradarem a “a”, “b” ou “c”. Mas esquecem de que, para contemplarmos a Divindade, teremos de ser capazes de reconhecer sua dupla face: o Amor, sem dúvida; mas também, inapelavelmente, a Verdade.
Mestre e doutora em Educação pela USP, com dissertação e tese espíritas proclamadas em alto e bom som em pleno meio acadêmico — coragem que poucos têm! —, citemos aqui a ilustre confreira Prof.ª Dora Incontri, para que nos convençamos de que criticar não é fundamentalmente um vício, e sim uma virtude:
'A capacidade crítica é o preventivo contra a dominação mental de outras inteligências, encarnadas ou desencarnadas. É o discernimento justo para avaliarmos o bem e o mal e percebermos o que se esconde por trás das aparências. É a disposição de questionarmos pessoas e situações, sem medo de enxergarmos a verdade, pois por trás da descoberta e da justa avaliação de um problema, vem necessariamente o compromisso de nos engajarmos até o sacrifício para saná-lo. Assim, o espírito crítico, em relação a nós mesmos, a pessoas à nossa volta, a circunstâncias sociopolíticas, a respeito de formas de relacionamentos humanos ou de instituições e poderes constituídos é um desestabilizador do comodismo egoísta'. (A educação segundo o espiritismo. Cap. XVII. A educação intelectual. Potencialidades a serem desenvolvidas. O espírito crítico e a autonomia de pensamento. 4. ed. p. 171-172. São Paulo: Comenius, 2000.)"
Portanto, como pudemos apreender das justas explicações do amigo articulista, epistemologicamente falando, criticar é uma faculdade do ser humano em conjecturar, analisar, apreciar e exercer julgamento de uma determinada matéria ou assunto, emitindo posteriormente uma opinião pessoal sobre as impressões apuradas.
Em termos filosóficos, crítica é uma atitude que consiste em separar o que é verdadeiro do que é falso; o que é legítimo do que é ilegítimo; o que é certo do que é verossímil.
A crítica é comum a todas as pessoas, pois se trata de uma das mais fortes expressões da cognição humana. A partir do momento em que se vê, escuta ou sente-se algo, imediatamente o nosso senso de juízo delibera pareceres sobre o ocorrido a partir das reações psicológicas trazidas por essas sensações, o próximo estímulo é verbalizar e socializar essas idéias formadas.
E, finalmente, a partir de tais premissas, podemos verificar que a análise crítica se faz necessária em tudo, dentro e fora dos arraiais espíritas. Infelizmente, contudo, tem sido vista por boa parte do Movimento dito Espírita como um mal, confundindo-a com falta de caridade, intolerância, etc., conceitos esses que, em momento algum, encontram-se presente nas obras da Codificação Espírita, como aqui e alhures temos procurado demonstrar.
15 janeiro 2011
Um Apelo de Kardec
A 15 de janeiro de 1862, Kardec publicou a brochura intitulada “O Espiritismo na sua mais simples Expressão", e fez um apelo:
“Contamos com o zelo de todos os verdadeiros espíritas para ajudar na sua propagação.”
Já em "O Livro dos Médiuns", segundo livro da Codificação Espírita, verificamos a importância dada a questões que hoje têm sido ignoradas e relegadas por boa parte daqueles que se dizem espíritas nos dias de hoje, facilitando a ação nefasta de espíritos pseudossábios e/ou mistificadores, que não só poderão enganar a esses com suas falsas ideias como também a muitas outras pessoas, disseminando e rapidamente promovendo toda uma série de noções contrárias aos elevados propósitos do Espiritismo.
O resultado disso tem sido a desinteligência entre os espíritas e a consequente formação de redutos seitistas, com interpretações próprias e muitas das vezes demasiado exóticas e heterodoxas sobre a mais variada gama de questões que a Codificação, por sua vez, ensina com cristalina clareza, dispensando os adereços advindos das paixões e arroubos de imaginação de caráter puramente terreno e especulativo.
Leiamos alguns comentários a esse respeito proferidos por Allan Kardec constantes da Revista Espírita de janeiro de 1861:
"A primeira edição do Livro dos Médiuns, publicada no começo deste ano, esgotou-se em alguns meses, o que não é um dos traços menos característicos do progresso das ideias espíritas. Nós mesmo constatamos, em nossas excursões, a influência salutar que essa obra exerceu sobre a direção dos estudos espíritas práticos. Assim, as decepções e mistificações são muito menos numerosas do que outrora, porque ela ensinou os meios de descobrir as astúcias dos Espíritos enganadores. Esta segunda edição é muito mais completa que a precedente. Ela encerra numerosas instruções novas muito importantes e vários capítulos novos. Toda a parte que concerne mais especialmente aos médiuns, à identidade dos Espíritos, à obsessão, às questões que podem ser dirigidas aos Espíritos, às contradições, aos meios de discernir os bons e os maus Espíritos, à formação de reuniões espíritas, às fraudes em matéria de Espiritismo recebeu desenvolvimentos muito notáveis, frutos da experiência. No capítulo das dissertações espíritas adicionamos várias comunicações apócrifas acompanhadas de observações adequadas a dar os meios de descobrir a fraude dos Espíritos enganadores que se apresentam com falsos nomes.
Devemos acrescentar que os Espíritos reviram a obra inteiramente e trouxeram numerosas observações do mais alto interesse, de sorte que se pode dizer que é obra deles, tanto quanto nossa.
Recomendamos com instância esta nova edição, como o guia mais completo, quer para os médiuns, quer para os simples observadores. Podemos afirmar que seguindo-a pontualmente evitar-se-ão os escolhos tão numerosos contra os quais se vão chocar tantos neófitos inexperientes. Depois de a ter lido e meditado atentamente, os que forem enganados ou mistificados certamente não poderão queixar-se senão de si mesmos, porque tiveram todos os meios para se esclarecerem."
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