Não é de hoje que muitos que acompanharam e ainda acompanham os ditados atribuídos a um espírito conhecido como "Ramatis" cogitam da hipótese do mesmo sequer ter existido. Tal possibilidade, inicialmente, não nos pareceu digna de análise, mas como temos a obrigação de investigar em constante busca pela verdade, fomos atrás dos possíveis sinais que indicassem ser esta uma hipótese provável.
Surpreendentemente, na medida que fomos avançando em nossa pesquisa, verificamos que há muitas evidências que indicam ser Ramatis e seus ditados, especialmente aqueles constantes das obras do "médium" Hercílio Maes, um reflexo, uma cópia das ideias abraçadas pelo citado médium.
Vejamos alguns pontos importantes a serem analisados:
1 - Hercílio Maes, o primeiro indivíduo a afirmar receber mensagens desse "espírito oriental"(?), veio a se dizer "espírita" somente após a publicação dos livros atribuídos a Ramatis, em cujas fichas catalográficas constam como sendo "espíritas". Antes disso, o mesmo afirmava que era adepto da Teosofia, doutrina que, mais adiante, verificaremos que possuirá todos os seus principais postulados defendidos nas obras atribuídas ao espírito Ramatis.
2 - Hercílio Maes adotou, enquanto esteve encarnado, uma postura perante as religiões e doutrinas idêntica àquela propugnada por Ramatis: além de Teosofista, como dissemos, também era Rosacruciano, depois tornando-se "espírita", promovendo uma miscelânea idêntica a que Ramatis incentiva em seus livros a título de "universalismo".
3 - Hercílio Maes era um vegetariano radical, daqueles que considerava grave delito espiritual o consumo de carne. Tal noção foi igualmente repetida à exaustão em seus livros "psicodatilografados", o que não verificamos nas obras de outros médiuns que afirmam ser intermediários de Ramatis. Leadbeater, um dos autores teosóficos mais mencionados por ele nos rodapés de seus livros, era igualmente radical defensor do vegetarianismo.
4 - Tal qual informamos acima, Hercílio Maes dizia receber as mensagens de Ramatis através da inspiração, sendo que não se utilizava de lápis e papel, e sim de uma máquina datilográfica, para transcrever tais mensagens advindas, segundo ele, de sua mediunidade inspirativa.
No entanto, segundo "O Livro dos Médiuns" (cap. XV, item 182), "médium inspirado é toda pessoa que recebe, seja no estado normal, seja no estado de êxtase, pelo pensamento, comunicações estranhas a suas ideias pré-concebidas. Ora, assim sendo, falta em Hercílio Maes justamente esta característica fundamental da mediunidade inspirada, modalidade de mediunidade intuitiva, que é a desconexão entre as ideias do médium e as do espírito comunicante. Não é possível distinguir, como verificaremos mais adiante, o pensamento de um e de outro, porque o segundo repete ipsis literis as opiniões e ideologias do primeiro, o médium. Os ditados atribuídos a Ramatis, ao contrário do que se prevê e espera na mediunidade inspirada, não estavam fora dos limites dos conhecimentos e capacidades do médium. (Ver LM, Cap. XV, item 180)
5 - Outro fator digno de estranheza é o histórico atribuído às pregressas encarnações de Ramatis. Afirmava Hercílio Maes que Ramatis teria sido um instrutor em um santuário iniciático na Indochina do século X d.C, falecendo ainda cedo. Em vida no século IV teria participado dos acontecimentos narrados no poema hindu Ramaiana, o que não parece fazer sentido uma vez que esses contos épicos hindus são puramente alegóricos, não se ocupando nem de fatos, nem de personagens reais. Além disso, não há qualquer registro histórico ou tradição que sequer mencione a existência do suposto grupo iniciático fundado por um instrutor chamado Rama-tys. Este, portanto, ao que parece, nada mais seria do que o alterego (do latim alter=outro, egus= eu) de Hercílio Maes, que para dar credibilidade e anonimato à autoria de seus escritos, em dado momento, propositalmente ou não, "cria" uma entidade espiritual ao qual delega sua representação.
Notemos, agora, as notáveis semelhanças entre o que afirma Ramatis e os conceitos da Teosofia, doutrina abraçada pelo médium Hercilio Maes.
1 - A tese da elevação do eixo da Terra
Um dos carros-chefe dos livros de Hercílio Maes/Ramatis, que praticamente nem é abordado em livros de outros médiuns daquele espírito, é a tese de que a Terra sofreria uma elevação de seu eixo, causando uma série de calamidades e transformações nas condições de vida na Terra. Tal teoria não é nova. A obra intitulada "A Doutrina Secreta" (1888), de Helena Blavatsky, co-fundadora da Sociedade Teosófica, já a defendia e atribuía sua origem a "ensinamentos antigos". Tal qual Ramatis reproduziria em seus livros, Blavatsky relata que acontecimentos igualmente assombrosos no passado teriam dado fim às mitológicas Atlântida e Lemúria, berços de sociedades hiper evoluídas.
2 - Jesus e Cristo como entidades distintas
A afirmação de Ramatis, inteiramente contrária ao que ensina a Doutrina Espírita, de que Jesus fora um médium de Cristo, não é nova. Novamente verificamos que é no Teosofismo que originalmente encontramos a defesa dessa tese. O Teosofismo afirma que Jesus e Cristo são pessoas distintas e que Cristo usou o corpo de Jesus quando este abandonou o seu corpo. Infelizmente, como boa parte dos "espíritas" não conhece a Codificação, a "revelação" de Ramatis pareceu, nos idos dos anos 50, inteiramente crível e doutrinariamente correta.
3 - Vocábulos utilizados na Teosofia
Todos os termos consagrados pela Teosofia estão presentes nas obras de Ramatis, em detrimento dos termos espíritas, comprovando aí a intrínseca relação do médium com a Teosofia, e não com o Espiritismo. Alguns desses termos são: "chakra", "karma", "corpo astral", "plano astral", "miasmas astralinos", etc. O mesmo ocorre com relação a algumas concepções relativas à Criação, como o "Manvantara" (período de tempo do ciclo de existência dos planetas em que ocorre atividade que dura, segundo o cômputo dos Brâmanes, 4.320.000.000 de anos), e o "Ciclo de Brahma", mencionados e descritos no livro "Mensagens do Astral" e em outras obras atribuídas a Ramatis escritas por Hercílio Maes. Uma repetição sistemática daquilo que se estuda na Teosofia.
4 - Bibliografia indicada
É comum verificarmos nos rodapés dos livros de Hercílio Maes/Ramatis menções e estímulo à leitura de livros teosóficos, como os de C.W. Leadbeater e Annie Besant. Vemos daí, mais uma vez confirmada, a ligação entre o médium e as ideias teosóficas, reproduzidas em suas obras e atribuídas a um espírito de nome Ramatis.
5 - Superioridade Oriental
Também está presente nas obras de Hercílio/Ramatis uma constante alusão à uma pretensa superioridade das doutrinas orientais e de seus adeptos e representantes, tal qual nas obras teosóficas. Ramatis, da mesma maneira, chega a afirmar que o Espiritismo desaparecerá caso não sorva os inesgotáveis ensinamentos dos movimentos orientalistas.
6 - A Vida no Planeta Marte
Mais um carro-chefe das obras de Ramatis em que verificamos enorme semelhança com obras teosóficas. Mais uma vez, a suposta dupla Hercílio-Ramatis expõe uma posição teosófica e a apresenta como uma verdade espírita e/ou científica. Hercílio-Ramatis novamente retira das obras do teósofo Leadbeater o conteúdo para seus escritos psicodatilografados, e, o que é pior, apresentando-as como suas e confundindo o meio espírita, principalmente os que não aprofundaram conhecimentos na Codificação. A descrição de Marte feita por Hercílio/Ramatis é idêntica àquela dada anos antes por Leadbeater no livro "Vida em Marte segundo a Teosofia". Confiramos:
1 - Marte não seria um planeta inóspito; tão pouco seria desabitado. Menor que a Terra, Marte seria mais avançado em termos "astrofísicos" (vemos que até a terminologia utilizada é a mesma);
2 - Seu solo seria fértil e teria exuberante vegetação. A população atual, pouco numerosa, ocuparia as regiões equatoriais, onde a temperatura seria mais elevada e ainda existem reservas de água. O grande sistema de canais que pode ser observado pelos astrônomos da Terra seriam muito antigos, estaria desativado e teria sido construído, por gerações passadas, a fim de aproveitar o degelo anual das camadas de gelo que ocorria na antiguidade marciana. Os canais ativos, segundo Leadbeater e Hercílio-Ramatis, atualmente, não são visíveis para os telescópios terrenos. Eventualmente, um cinturão verde poderia ser visto ao longo da área habitada, na estação em que a água flui pelos dutos. A vida em Marte dependeria dessa estação tal como o Egito dependeu, no passado e ainda hoje, das enchentes do Nilo. Esta parte do planeta possuiria florestas e campos cultivados que somente podem ser debilmente visualizados pelos terráqueos quando a posição de Marte se torna relativamente mais próxima da Terra. Leadbeater afirma, ainda, que em Marte o Sol parece ter a metade do tamanho que tem quando visto da Terra. Apesar disso, na porção habitada do planeta o clima seria agradável com temperaturas diurnas em torno de 70 graus Fahrenheit (33º Centígrados) e noites frias. Nos céus de Marte, quase nunca há nuvens. Também seriam raríssimas as chuvas ou precipitação de neve. As variações climáticas praticamente não existiriam. Tudo isso é repetido quase que ipsis literis na obra de Hercílio Maes;
3 - Hercílio-Ramatis simplesmente repetem as "informações" de Leadbeater na obra "A Vida no Planeta Marte e os Discos Voadores", e afirmam que a aparência dos marcianos não seria muito diferente da nossa a não ser pela estatura. Os mais altos chegariam a 1,65m de altura e teriam a caixa torácica muito desenvolvida. Toda a população marciana seria constituída de uma só raça sem grandes diferenças aparentes exceto, como entre nós, o fato de alguns serem louros e outros morenos. Alguns possuem a pele amarelada e os cabelos negros; a maioria, porém, tem cabelos louros e olhos de tonalidade azul ou violeta. Suas roupas seriam coloridas e brilhantes e ambos os sexos trajam vestimentas semelhantes, túnicas longas feitas de material leve. Geralmente, andam descalços mas, ocasionalmente, usam sandálias metálicas fixadas por tiras na altura dos tornozelos.
Tal qual lemos na obra de Leadbeater, Hercílio-Ramatis afirma que os marcianos apreciam as flores que existiriam em grande variedade no planeta; as cidades seriam planejadas nos moldes de um jardim. Suas casas, estruturadas em módulos padronizados, seriam cercadas de canteiros floridos e possuiriam paredes transparentes e coloridas, feitas de material semelhante ao vidro que permitiriam a visão das flores no exterior embora, do lado de fora não se possa ver o que acontece dentro das residências. As portas seriam feitas de metal. Uma única língua seria falada em todo o planeta.
Assim como Hercílio-Ramatis afirmam na obra "A Vida no Planeta Marte...", Leadbeater disse ter obtido suas informações com visitas ao local, feitas "espiritualmente". Em nosso ponto-de-vista, uma afirmação feita com o fito de passar credibilidade.
Conclusão
O prezado leitor tirará suas conclusões, sendo que apresentamos esse tese tendo em vista as enormes e evidentes semelhanças entre as ideias teosóficas, particularmente as contidas nas obras de Leadbeater, e os conceitos e informações contidas nas obras cuja autoria é atribuída ao espírito Ramatis. Cabe notar, também, que boa parte de tais ideias não são repetidas em livros psicografados por outros médiuns de Ramatis, que inclusive já fizeram análises atribuindo tais discrepâncias a uma suposta interferência anímica de Hercílio Maes.
Portanto, ao que parece, não é possível saber, ao certo, a quem pertence a autoria dos livros de Hercílio Maes: se ao médium, que teria passado para o papel, coincientemente ou não, opiniões suas advindas da leitura de obras teosóficas, ou se ao Espírito, que, de qualquer forma, teria feito o mesmo, atribuindo a si toda a autoria. Poderíamos, inclusive, chegar ao ponto de duvidar que realmente exista um espírito chamado Ramatis, já que não há qualquer traço indicativo ou registro histórico que aponte que o mesmo tenha alguma vez passado pela Terra.
Creio estar na hora de não perdermos mais tempo com suposições e teorias que em nada acrescentam ao Espiritismo. Pelo contrário, tais teorias meramente individuais e personalistas, advindas de certos espíritos e médiuns, que contrariam a Codificação Espírita e que não respeitam o princípio da concordância, só promovem a confusão e lançam o Espiritismo ao ridículo, tornando-o alvo fácil das investidas de seus inimigos ocultos e declarados.
Não fosse pelo esforço de alguns verdadeiros apóstolos do Espiritismo no passado a alertar para os perigos de se aceitar tudo que venha do mundo espiritual, com certeza teríamos um Movimento Espírita ainda mais afastado das suas bases e envolto em um emaranhado de distorções e desvios.
Trabalhemos, pois, para que o Espiritismo passe a ser melhor compreendido, começando de nós mesmos com a tarefa que temos de sermos divulgadores fiéis e responsáveis.
Resgatando a Proposta Espírita: Análise crítica dos ditados do espírito Ramatis e demais questões controversas no Movimento Espírita
12 outubro 2011
13 agosto 2011
Fraternidade sim, Sincretismo não
Vez por outra surge alguém ou algum grupo atacando a coerência espírita e defendendo certas ideias de fundo ecumenista dentro e fora do movimento espírita. Alegam eles que o Espiritismo - e consequentemente os espíritas - devam estar "abertos" a outras concepções e ensinos, sem o qual correm o risco de tornarem-se intolerantes e antifraternos, e, portanto, em dissonância com o que prega a Doutrina.
Nada mais falacioso.
Não devemos confundir fraternidade e tolerância com ecumenismo, ao qual os ramatisistas, aliás, deram erroneamente outro nome, o de "universalismo". O que chamam eles de "universalismo" não passa de sincretismo, fenômeno bastante presente e comum na cultura brasileira. A definição de sincretismo é de "uma fusão de doutrinas de diversas origens, seja na esfera das crenças religiosas, seja nas filosóficas", exatamente aquilo estimulado por Ramatis e seus simpatizantes.
No caso da Doutrina Espírita, obviamente reconhecemos alguns pontos em comum com outras correntes filosóficas e até mesmo com algumas crenças religiosas, porém analisando com mais profundidade tais similitudes, veremos que a visão espírita possui nuances próprias que as ligam a outros princípios não abraçados por essas outras filosofias e religiões. Evocar semelhanças sem considerar a Doutrina Espírita como um todo, mas em partes, certamente conduz a essas frustradas tentativas de comparação e adaptação.
Verifica-se daí que a confusão geralmente ocorre entre aqueles que ainda não compreenderam a Doutrina Espírita em profundidade, assim como não abarcaram em detalhes todos os seus princípios, confundindo-os com suas próprias concepções pessoais advindas de suas vivências em movimentos religiosos, geralmente no Catolicismo e na Umbanda.
A falta de leitura e estudo sistemático dos livros da Codificação Espírita, somado ao fato de que boa parte da população brasileira é constituída de analfabetos funcionais com grande dificuldade de interpretação de textos simples, só agravam a situação e dão armas àqueles que insistem que deva o Espiritismo assimilar ideias, práticas e conceitos estranhos ao seu corpo doutrinário.
Conscientes dessa realidade, espíritos pseudossábios e muitas das vezes mal intencionados, interessados na disseminação da confusão e do divisionismo, insistem nessa absurda proposta de desfiguração do Espiritismo, através de ditados repletos de sentimentalismo piegas e sem conteúdo, induzindo o leitor à ideia de que o espírita deva aceitar enxertias, à prática espírita, de ritualismos e cultos exteriores sem nenhuma fundamentação doutrinária e lógica, sob a alegação de que devamos estar "abertos" e dispostos a contribuir com o progresso e com uma suposta evolução do ideário espiritista. Mas, que evolução é essa que acaba por incentivar o retorno e/ou permanência das mentalidades em torno do pensamento mágico? "Pensamento mágico" significa interpretar dois eventos que ocorrem próximos como se um tivesse causado o outro, sem qualquer preocupação com o nexo causal. Por exemplo, se a pessoa acredita que cruzar os dedos trouxe boa sorte, ela associou o ato do cruzamento de dedos com o evento favorável subsequente e imputou um nexo causal entre os dois. Psicólogos já observaram que grande parte das pessoas é propensa ao pensamento mágico e, assim, o pensamento crítico fica frequentemente em desvantagem. O que se vê, mais comumente nas religiões cristãs dogmáticas tradicionais, são lideranças religiosas explorando essa tendência a fim de auferir vantagens, na medida em que estimulam os seus fiéis a procurarem resolver seus problemas por meio de promessas, ofertas em dinheiro, sacrifícios, etc. Já no espiritualismo esotérico e nas práticas feiticistas dos cultos afro-brasileiros, a solução da maioria dos problemas hodiernos estaria nas oferendas, no uso de talismãs, amuletos, realização de rituais, consagrações, etc. Embora, pois, se diferenciem quanto à forma, todas essas práticas são oriundas do pensamento mágico, ou, como diriam alguns, do misticismo.
Já asseverava Ary Lex que “no movimento espírita costuma haver uma certa condescendência para com as pequenas deturpações, condescendência essa rotulada como ‘tolerância cristã’. Estão errados. Tolerância deve haver para as falhas das pessoas, que devem ser esclarecidas e apoiadas, ajudando-as a saírem do ciclo erro-sofrimento. Tolerância com as pessoas, sim, com as deturpações, jamais”. E conclui: “É urgente e fundamental que todos aqueles que tiveram a ventura de entender o Espiritismo lutem, dia a dia, pela manutenção da pureza doutrinária.”
O alerta de Ary Lex nada mais representa do que uma tentativa de convidar os espiritistas a manterem o pensamento mágico distante das práticas espíritas dentro e fora dos Centros.
A questão 554 de “O Livro dos Espíritos” corrobora essa posição. Confiramos:
P.: “Que efeito podem produzir fórmulas e práticas mediante as quais pessoas há que pretendam dispor do concurso dos Espíritos?”
R.: “(...) Todas as fórmulas são mera charlatanaria. Não há palavra sacramental nenhuma, nenhum sinal cabalístico, nem talismã, que tenha qualquer ação sobre os Espíritos, porquanto estes são só atraídos pelo pensamento e não pelas coisas materiais”. E continua mais adiante: “Ora, muito raramente aquele que seja bastante simplório para acreditar na virtude de um talismã deixará de colimar um fim mais material do que moral. Qualquer, porém, que seja o caso, essa crença denuncia uma inferioridade e uma fraqueza de ideias que favorecem a ação dos espíritos imperfeitos e escarninhos”.
Em “O Livro dos Médiuns”, é perguntado aos Espíritos Superiores:
“Certos objetos, como medalhas e talismãs, têm a propriedade de atrair ou repelir os Espíritos conforme pretendem alguns?
R.: “Esta pergunta era escusada, porquanto bem sabes que a matéria nenhuma ação exerce sobre os Espíritos. Fica bem certo de que nunca um bom espírito aconselhará semelhantes absurdidades. A virtude dos talismãs, de qualquer natureza que sejam, jamais existiu, senão, na imaginação das pessoas crédulas”.
O Codificador Allan Kardec comentou, concluindo e reiterando a total desvinculação do Espiritismo com o pensamento mágico propalado pelas religiões e crenças fetichistas:
“Os Espíritos são atraídos ou repelidos pelo pensamento e não por objetos materiais (...). Em todos os tempos os Espíritos superiores condenaram o emprego de signos e de formas cabalísticas; e todo Espírito que lhes atribui uma virtude qualquer ou que pretende dar talismãs que denotam magia, por aí revela a própria inferioridade, quer quando age de boa-fé e por ignorância, (...) quer quando conscientemente (...). Os sinais cabalísticos, quando não são mera fantasia, são símbolos que lembram crenças supersticiosas na virtude de certas coisas, como os números, os planetas e sua correspondência com os metais, crenças nascidas no tempo da ignorância e que repousam sobre erros manifestos, aos quais a ciência fez justiça, mostrando o que há sobre os pretensos sete planetas, os sete metais, etc. A forma mística e ininteligível de tais emblemas tem o objetivo de os impor ao vulgo (...), aquilo que não compreende.”
A seu turno, verificamos nas obras de Ramatis uma proposta inversamente contrária, constantemente presente em seus ditados, como podemos notar abaixo e em inúmeras passagens dos livros psicografados pelo médium Hercílio Maes:
“Rituais, mantras, sincronizações entre adeptos ou despertamento da vontade; o comando nas quais podereis alcançar o Cristo Planetário!”
"Os amuletos e talismãs, quando realmente dinamizados por magos experientes, obedecem aos mesmos princípios dos minerais radioativos, mas a sua ação é mais vigorosa e específica no campo etéreo-astral invisível aos sentidos humanos."
"Há fundamento lógico e científico no preparo de amuletos e talismãs, quando isso é feito por meio de magos autênticos (...)"
"Há certos tipos de ervas cuja reação etérica é tão agressiva e incômoda,que torna o ambiente indesejável para certos espíritos, assim como os encarnados afastam-se dos lugares saturados de enxofre ou gás metano dos charcos."
"Só as pessoas rudes ou confusas podem considerar a defumação benfeitora uma superstição ou dogma."
"Os espíritos subversivos ou obsessores fogem espavoridos do ambiente onde atuam, quando a queima de pólvora é feita por médiuns ou magos experientes, pois alguns deles são bastante escarmentados em tais acontecimentos."
Em outras passagens, Ramatis procura rebaixar o Espiritismo frente às crenças orientalistas:
“Da mesma forma, reconhecemos que há, entre o neófito espírita, exclusivamente submerso na sua doutrina, e o espiritualista afeito ao conhecimento iniciático, um extenso abismo de compreensão.”
Abaixo, vemos claramente a intenção de incentivar o sincretismo:
“Sem dúvida, apesar de o Espiritismo ser doutrina corporificada para libertar os homens das superstições e dos tabus infantis, ele pode estacionar no tempo e no espaço, tal qual acontece com a Igreja Católica. É acontecimento fatal, caso seus adeptos ignorem deliberadamente o progresso e a experiência de outras seitas e doutrinas vinculadas à fonte original e inesgotável do Espiritualismo Oriental.”
Herculano Pires, à época, reagiu corajosamente a esse tipo de proposta:
"Só um setor do conhecimento, nesta hora de transição, não necessita renovações, e esse setor é precisamente o Espiritismo. O que ele exige de nós não é renovação doutrinária, mas apenas expurgo de infiltrações espúrias nos Centros, produzidas pela leviandade de praticantes que se desvairam da orientação doutrinária, adotando atitudes, fórmulas e práticas antiquadas. (...) O terror místico proveniente de um longo passado religioso de mistérios e ameaças não tem mais razão de ser. Não obstante, encontramos no meio espírita um pesado lastro desse terror em forma de traumatismos inconscientes que geram comportamentos antiespíritas".
Já dizia Bossuet: "O maior desregramento do espírito é crer nas coisas porque se quer que elas existam".
Por nossa vez, diríamos que a superstição e as crendices são exemplos desse desregramento, doenças da alma, autênticas amarras que prendem o espírito às trevas da ignorância, conduzindo-o aos descaminhos advindos da fuga da realidade. Se há uma maneira dos falsos profetas da erraticidade e espíritos pseudossábios atacarem o Espiritismo é justamente desfigurando-o através do estímulo ao culto exterior, do pensamento simplista, da crendice, todos representantes do caminho mais fácil, porém inócuo, que tanto atrai aqueles indivíduos desinteressados em promover em si aquilo que realmente interessa, que é a transformação moral, que advém justamente do esforço e do avanço da inteligência, conforme puderam claramente ensinar os Espíritos Superiores nas questões 192, 365, 780 e 780a de "O Livro dos Espíritos".
28 maio 2011
Textos publicados na Revista "O Consolador"
Tivemos a honra e a satisfação de termos artigos deste blog publicados na Revista Eletrônica "O Consolador", que merece de todos os espíritas sinceros apoio pelo extraordinário trabalho realizado de divulgação da Doutrina Espírita.
Abaixo seguem os links dos textos publicados:
http://www.oconsolador.com.br/ano4/197/especial.html
http://www.oconsolador.com.br/ano5/211/artur_ferreira.html
http://www.oconsolador.com.br/ano5/214/artur_ferreira.html
http://www.oconsolador.com.br/ano5/217/artur_felipe.html
http://www.oconsolador.com.br/ano5/220/artur_ferreira.html
http://www.oconsolador.com.br/ano5/237/artur_felipe.html
30 março 2011
Universalismo crístico ou Misticismo antiespirítico?
Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo. (1 João 4)
O Espiritismo, consubstanciado na Doutrina Espírita, teve e tem como principal missão reestabelecer a Verdade e revelar ainda outras tantas, só capazes de serem hoje compreendidas em conformidade com o progresso intelecto-moral alcançado pela humanidade após séculos de lutas contra as trevas da ignorância.
A História nos conta que a Igreja Católica lutou por muito tempo para que seus dogmas de fé não fossem atingidos pelas descobertas e avanços da Ciência, o que poderia comprometer o domínio sobre os fiéis e desmantelar sua influência e privilegiada posição econômica e política.
Com o Renascimento, período marcado por transformações em muitas áreas da vida humana, que assinalam o final da Idade Média e o início da Idade Moderna, houve ruptura com as estruturas medievais, marcando o que alguns acreditam ter sido avanços nas artes, na filosofia e nas ciências.
O pensamento iluminista, a seu turno, durante o século XVIII, teria marcado o fim do obscurantismo, inaugurando uma era supostamente iluminada pela razão e respeito à humanidade. As novas descobertas da ciência, a teoria da gravitação universal de Isaac Newton e o espírito de relativismo cultural fomentado pela exploração do mundo ainda não conhecido foram também importantes para a eclosão do Iluminismo.
Entre os precursores, destacaram-se os grandes racionalistas, como René Descartes e Spinoza, e os filósofos políticos Thomas Hobbes e John Locke. Na época, é igualmente marcante a fé no poder da razão humana. Chegou-se a declarar que, mediante o uso judicioso da razão, seria possível um progresso sem limites. Porém, mais que um conjunto de idéias estabelecidas, o Iluminismo representava uma atitude, uma maneira de pensar. De acordo com Immanuel Kant, o lema deveria ser "atrever-se a conhecer". Surge o desejo de reexaminar e pôr em questão as ideias e os valores recebidos, com enfoques bem diferentes, daí as incoerências e contradições entre os textos de seus pensadores. A doutrina da Igreja foi duramente atacada, embora a maioria dos pensadores não renunciassem totalmente à ela.
A França teve destacado desenvolvimento em tais ideias e, entre seus pensadores mais importantes, figuram Voltaire, Montesquieu, Diderot e Rousseau. Kant, na Alemanha, David Hume, na Escócia, Cesare Beccaria, na Itália, Benjamin Franklin e Thomas Jefferson, nas colônias britânicas, figuram entre os maiores expoentes.
Tempos depois, já com a Igreja Romana em pleno declínio na Europa e com a Inquisição dando seus últimos suspiros, surge Allan Kardec, descortinando o mundo espiritual, sem fantasias, sem mistérios, sem hermetismo, desvelando ao mundo a realidade de além-túmulo, e apresentando uma Doutrina eminentemente racional e lógica, filtrando todo e qualquer arroubo místico advindo da fé cega, seja de origem dogmática ou advinda de puras concepções humanas de cunho fantasista.
Não obstante os esforços da Espiritualidade Superior para que fossem atingidos tais elevados objetivos, muitos indivíduos, talvez confundindo a nova situação de liberdade do pensamento, partiram para a revivescência de mitos e crendices, em sua maioria advindos das priscas eras do paganismo, na tentativa de conduzir à ausência de dogmatismos ou estruturas religiosas padronizadas.
Alguns partidários dessas teorias, a qual podemos chamar de "neopagãos", nos tempos modernos, acreditam ter encontrado, surpreendentemente, no Espiritismo, a confirmação de suas crenças. Utilizando-se de alguns postulados espíritas, como a comunicabilidade dos espíritos e a reencarnação, passam tais indivíduos a transmitirem informações e a escreverem obras que acabam por cair no gosto de alguns "espíritas", obviamente ainda pouco versados na Doutrina, ou seja, que pouco ou nada estudaram (e entenderam) da Codificação.
O espírito Ramatis pode ser apontado como espírito mais citado pelos propagadores do neopaganismo no meio espírita. Defensor daquilo que chama de "universalismo crístico", o espírito Ramatis tem se utilizado de médiuns ideologicamente adeptos de concepções neopagãs que, bem intencionados ou não, se servem do Espiritismo e do movimento espírita para divulgarem suas ideias. Entre eles, podemos citar o médium Roger Bottini, que escreve obras romanceadas que versam sobre temáticas no mínimo exóticas, tais como: era de Peixes, civilização atlante, fim dos tempos, etc. Ao mesmo tempo, o médium diz receber revelações sobre personagens famosas da antiguidade, como faraós egípcios, legisladores hebreus do porte de Moisés, assim como outros em que não encontramos registros, já que teriam vivido na Atlântida, Lemúria ou alguma civilização lendária qualquer. Tudo isso entremeado por relatos de existência de dragões, magos negros, energias desconhecidas, seres interplanetários, e tudo que possa atiçar a imaginação do leitor. Como de costume, a fim de angariar confiança, o citado autor chega a declarar que foi filho de Allan Kardec em uma encarnação passada, como se tal informação, pura e simples, sem qualquer indício e confirmação, pudesse lhe conferir alguma autoridade extra. Confira o que afirma o citado "médium" em seu sítio na internet:
"Além de ter vivido na personalidade de Akhenaton, Allan Kardec foi, também, Atônis, o sacerdote do sol na Atlântida, e Andrey era seu filho. Logo, por mais incrível que isso possa parecer, Allan Kardec foi meu pai na extinta Atlântida e um inesquecível amigo no antigo Egito, durante seu reinado como o faraó filho do Sol."
E para dar peso à sua ousada afirmação, trata de creditar tais informações ao auxílio de um espírito, já que, para muitos desavisados, basta ser espírito para possuir toda a sabedoria e conhecimento universais:
"Logo, sei o que estou dizendo. Essas informações são obtidas através de um processo de regressão de memória conduzido por Hermes, que é o mentor espiritual de todos os nossos livros."
Em outro trecho do mesmo sítio, o sr. Bottini ainda "revela":
" (...)Como eu era o próprio Natanael, e vivi próximo a Moisés desde os tempos da Atlântida, quando ele viveu como Atlas, posso ter "defendido" de forma exagerada as suas atitudes nos eventos da libertação do povo judeu da escravidão no Egito."
O mais estarrecedor e surpreendente de tudo isso é que tais teorias são apresentadas como oriundas da evolução do pensamento espírita, embora colidam frontalmente com os métodos e objetivos da Doutrina e não tenham recebido, nem de perto, a confirmação proveniente do controle universal.
Frente a tudo isso, a advertência de Erasto, constante em "O Livro dos Médiuns", cresce em importância, já que, em matéria de Espiritismo, o benfeitor espiritual afirma que "é preferível rejeitar dez verdades a aceitar uma única mentira". Tal assertiva denota prudência e critério para a avaliação de qualquer conteúdo, mais notadamente os de origem mediúnica.
Como já tratamos em outras oportunidades, a fascinação de origem mediúnica é um problema recorrente, e decorre das próprias dificuldades do médium, tornando-o presa fácil de pseudossábios e mistificadores da erraticidade. Listemos algumas delas:
1) vaidade (desejo imoderado de atrair admiração dos homens);
2) orgulho (conceito elevado ou exagerado de si próprio);
3) narcisismo (amor excessivo a si mesmo);
4) egoísmo (exclusivismo que faz o indivíduo referir tudo a si próprio);
5) presunção (ato ou efeito de presumir; de vangloriar-se; de formar de si grande opinião);
6) arrogância (tomar como seu; atribuir a si);
7) ambição (desejo veemente de fortuna, de glória, de honrarias, de poder; cobiça.)
No que tange especificamente ao item 7, pudemos recentemente verificar que há médiuns (ou pseudomédiuns) inclusive organizando excursões pagas ao Egito e outros locais tidos como "especiais" e "místicos" com o fito de alcançarem vantagens pecuniárias, o que é certamente algo lamentável, sob todos os pontos-de-vista. O Espiritismo nada tem a ver com eles, que se valem da condição de médiuns para adquirirem fama, dinheiro e poder.
O papel do verdadeiro espírita é o de esclarecer, orientar e, inclusive, desmascarar toda e qualquer iniciativa que vise a iludir, a enganar ou mistificar, uma vez que tais atitudes são reprováveis e atrasam a marcha evolutiva, tanto de suas vítimas como de seus executores, assim como colaboram para o descrédito e ridicularização da própria Doutrina Espírita, utilizada por indivíduos inescrupulosos como pano de fundo para encobrir uma série de interesses espúrios.
Não só leiamos, mas acima de tudo estudemos a Doutrina Espírita, para que nosso discernimento se amplie e possamos nos imunizar dessas e outras tantas influências perniciosas que lutam, nas sombras, para a derrocada desse clarão de conhecimento e sabedoria que ressuma do Espiritismo.
Para concluirmos, assista ao documentário a seguir e verifique o perigo de certas teorias quando abraçadas por indivíduos intolerantes e orgulhosos.
28 março 2011
"Luz e Treva" - Castro Alves
I
Foi Jesus Cristo quem disse
Sob a inspiração de Deus:
“Vai, Allan Kardec, à Terra
E fala aos rebanhos meus.
Tira o povo da heresia!
A minha Doutrina amplia!
Cumpre a antiga profecia
Que fiz perante aos judeus!
Como na dura Judéia
Não temas tua missão:
O Espírito Verdade,
-Eis teu Anjo Guardião!
Aumenta as glórias no Céu!
Conquista mais um troféu!
Destrói na Terra esse véu,
Que esconde o Sol da Razão
E o Apóstolo dileto
Despediu-se de Jesus,
E como um condor fantástico
-Mais veloz que a própria luz-
Ao lado de outros heróis,
Como ele mesmo – faróis!
Passou por milhões de sóis,
- E em Lyon viu sua cruz!
Encarcerando na carne,
-Gigante dentro de um ovo!
Ei-lo que vai ressurgir
Na bela Gália de novo!
E mais tarde, com cautela,
O Além pesquisa, interpela,
E finalmente revela
A Doutrina para o povo!
É epopéico seu trabalho
Com o Espírito da Verdade;
Galileu desvendou mundos,
Mas Kardec – a Eternidade!...
Com a chave da Ciência
Provou a Sobrevivência!
Descobriu a existência
De outras Leis da Divindade!
E o sábio deixa este globo
E volve saudoso à Luz!
Depois dos Grandes Mentores
Quem vem saudá-lo? – Jesus!...
E viram todos então,
Na Terra o imenso clarão:
-Era a Codificação
Que a Deus o Homem conduz!
II
Mas a Treva, furiosa,
Disse consigo em surdina:
“Apaguemos essa luz,
Que há de ser nossa ruína!
Infiltremos o anarquismo
Nas obras do Espiritismo,
E há de rolar pelo abismo
Quem pratica essa Doutrina!
Fizemos do Cristianismo
Uma crendice que aterra!
Que resta de Jesus Cristo
Na Itália, França, Inglaterra?
Chega ao mundo nova aurora?
O Alto nos mete a espora?
Marchemos! Chegou a hora!
Estamos de novo em guerra!
E a Treva ataca na França...
Brada um líder fariseu:
“Roustaing! Arrasa Kardec
Com as bombas que o Umbral vos deu!...
Médiuns! Pegai a caneta!
Vede o Cristo... A silhueta!
Quer ditar para o planeta
Sua vida quando hebreu!”
Da Espanha que viu nascer
A nobre Amália Soler
-Amália, luz fulgurante!
Sol com forma de mulher!-
A Treva cruza a fronteira
E sopra ao clero: “Fogueira!
Da Obra do Além altaneira,
Não reste a cinza, sequer!”
E pela América, Europa,
A Treva deixa sinais...
Quantos médiuns arrastados
À sala dos tribunais!
Viram bem perto o chicote,
Leymarie, Slade, Ana Rothe,
Orando, - à luz de uma archote,
Na prisão – como animais!...
E a Pátria do Evangelho?
Não foge a tropa do Mal?
Ramatis – clarim das sombras!
Tombou já do pedestal?
E a Treva horrenda e devassa
Proclama em grande arruaça:
“Com discursos e trapaça
Venceremos, afinal!”
E a mente da Treva insana
Não dá trégua contra a Luz!
Recruta e põe nas tribunas
Muitas almas de capuz...
Mas descendo do Infinito
À Terra lanço meu grito:
-Está no Céu já escrito:
O TRIUNFO É DE JESUS.
Espírita, companheiro,
Não te alheie a batalha.
A verdade – é tua arma!
A prece – tua muralha.
Conserva pura a doutrina
Que reflete a Luz Divina!
E já – confiante – em surdina,
Com Jesus Cristo – trabalha!...
Castro Alves
Fonte: livro "Antologia do Mais Além". Espírito: Castro Alves. Médium: Jorge Rizzini. Ed. LAKE.
28 janeiro 2011
Os Efeitos do Ecletismo e da Heterodoxia no Movimento Espírita Francês
Como bem sabemos, o Espiritismo surgiu na França em 1857, com a publicação de "O Livro dos Espíritos" pelo professor Hippolyte Léon Denizard Rivail, que utilizou-se do pseudônimo "Allan Kardec" para que ficasse bem marcada a distinção daquele seu trabalho com outros oriundos de sua profissão como respeitado pedagogo, discípulo de Pestalozzi.
Com o sucesso alcançado pela primeira obra da Codificação Espírita, base de todo o edifício doutrinário, Allan Kardec decidiu fundar, em Paris, a 1 de abril de 1858, a "Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas", cuja existência justificou da seguinte maneira:
"A extensão por assim dizer universal que tomam diariamente as crenças espíritas faziam desejar vivamente a criação de um centro regular de observações. Esta lacuna acaba de ser preenchida. A Sociedade cuja formação temos o prazer de anunciar, composta exclusivamente de pessoas sérias, isentas de prevenções e animadas do sincero desejo de esclarecimento, contou, desde o início, entre os seus associados, com homens eminentes por seu saber e por sua posição social. Estamos convictos de que ela está chamada a prestar incontestáveis serviços à constatação da verdade. Sua lei orgânica lhe assegura uma homogeneidade sem a qual não haverá vitalidade possível; está baseada na experiência dos homens e das coisas e no conhecimento das condições necessárias às observações que são o objeto de suas pesquisas. Vindo a Paris, os estranhos que se interessam pela doutrina espírita terão um centro ao qual poderão dirigir-se e comunicar suas próprias observações".
De acordo com o relatório de abril de 1862, publicado na Revista Espírita, a Sociedade experimentou considerável crescimento em seus primeiros anos de funcionamento, com 87 sócios efetivos pagantes, contando entre os membros: cientistas, literatos, artistas, médicos, engenheiros, advogados, magistrados, membros da nobreza, oficiais do exército e da marinha, funcionários civis, empresários, professores e artesãos. O número de visitantes chegava a quase 1500 pessoas por ano, considerável para a época.
Kardec, que desempenhava o cargo de presidente desde a criação da entidade, fatigado com o excesso de trabalho e aborrecido com as querelas administrativas, por várias vezes, externou o desejo de renunciar. Instado, porém, pelos Espíritos coordenadores do trabalho, continuou no exercício da presidência até a data de sua desencarnação.
Conforme se pode claramente notar em escritos, documentos e depoimentos da época, o Codificador era rigoroso no cumprimento das disposições estatutárias e na disciplina na condução das atividades aí realizadas. Exigia de todos os participantes extrema seriedade e isso contribuiu para dar muita credibilidade à instituição e aos seus pronunciamentos acerca dos assuntos tratados. Era extremamente prudente e austero nos pareceres exarados e nunca permitiu que a Sociedade se tornasse arena de controvérsias e debates estéreis, geralmente fomentados por indivíduos interessados em desviarem o Espiritismo dos rumos estabelecidos nas obras da Codificação.
Com o desencarne de Allan Kardec em 1869, vitimado por um aneurisma, um de seus colaboradores mais diretos, Pierre Gaëtan Leymarie, passou a exercer as funções de redator-chefe e diretor da "Revue Spirite" (1870 a 1901) e gerente da "Librairie Spirite" (1870 a 1897). No entanto, sem as mesmas credenciais do Codificador e por seu excessivo espírito de tolerância, não foi capaz de obstruir a ação de (pseudo)adeptos que desvirtuaram a finalidade da Revista, abrindo suas páginas à propaganda de filosofias espiritualistas, inclusive à de Roustaing, que diverge do Espiritismo. Houve, ao mesmo tempo, o desvirtuamento das finalidades da Revista Espírita, em que foi oferecido "terreno livre a lutadores de todas as correntes com a condição de que defendessem causas espiritualistas ou de ordem essencialmente humanitária e moral, expondo-se assim às críticas acirradas de uns, às acusações ou descontentamento de outros... ", conforme conta na obra "Processo dos Espíritas" (ed. FEB, 1977, págs. 22/23 da 2ª edição). Nesses "lutadores de todas as correntes" incluíam-se adeptos do Orientalismo, como teosofistas, budistas, ocultistas, esotéricos, etc., como consta da obra "Allan Kardec" (FEB, vol. III) de Zêus Wantuil e Francisco Thiesen.
Esta é, portanto, a causa do desaparecimento do Espiritismo na França. O sincretismo, a miscelânea do Espiritismo com outras correntes espiritualistas, desfigurando por completo a prática espírita, que até hoje é confundida, na França e em praticamente toda a Europa, com toda a sorte de superstições, como a astrologia, quiromancia, feitiçaria, bruxaria, etc.
No Brasil, na atualidade, o que podemos claramente verificar é que a história se repete, sendo que a tática dos inimigos velados do Espiritismo continua a mesma: a de propor e forçar a sorrateira entrada de questionáveis práticas e ideias no seio do movimento espírita brasileiro.
Por um lado, tivemos a adoção das obras de Roustaing pela Federação Espírita Brasileira, tendo seus membros apelidado-as de "Curso Superior de Espiritismo", "Quarta Revelação" e "Revelação da Revelação". Graças a isso, até hoje sentimos o reflexo dessa política febeana, na medida em que no movimento instaurou-se uma mentalidade piegas, subserviente e igrejeira, erroneamente confundida com postura caritativa e tolerante, devido a toda uma série de obras, mediúnicas ou não, que, embora não mencionassem Roustaing ou suas obras, conseguiram incutir, subrepticiamente, o ideário neo-docetista no seio do Movimento.
Por outro lado, e adotando ideias diferentes das do rustenismo, os simpatizantes do orientalismo insistem, com base principalmente nos ditados do espírito Ramatis ao médium espiritualista Hercílio Maes, em dar ao Espiritismo uma faceta mística calcada nas religiões orientalistas do passado e na Teosofia, julgadas capazes de enriquecer o Espiritismo. Para tanto, não se furtam em chamar Kardec (e, consequentemente, as obras da Codificação Espírita) de ultrapassado, e a Doutrina de carente de remendos, considerando como principal artífice dessa "missão" o próprio espírito Ramatis e seus confusos ditados, sob a fachada de "universalismo", termo geralmente utilizado para encobrir ideias sincretistas e práticas fetichistas. A lista de "inovações" propugnada por esses redutos seitistas é extensa: adoção da astrologia, da apometria, de rituais, de terminologias estranhas ao Espiritismo, crença em profecias de destruição do planeta, crença em extra e intraterrenos com missão de salvar o planeta, e toda sorte de divagações místicas sem o menor embasamento lógico ou factual, geralmente induzindo a uma alienação místico-religiosa que em nada fica a dever às religiões dogmáticas tradicionais, só que com um faceta diferente, de cunho essencialmente esotérico.
Portanto, enquanto encararmos tudo isso de braços cruzados, vitimados pela falsa ideia de que estaremos sendo intolerantes e antifraternos ao (nos) esclarecermos e não compactuarmos com essa tentativa de desvirtuamento do entendimento e da prática espírita dentro e fora dos centros espíritas e federações, tudo ficará como está, com tendência a piorar, tal qual aconteceu com o próprio Cristianismo, hoje uma autêntica colcha de retalhos devido aos mesmos fatores que hoje ameaçam o Espiritismo.
A articulista Vanda Simões, atenta à essa realidade, escreveu certa feita um interessante artigo intitulado "Nossos Espíritas Imperfeitos" que nós aqui transcrevemos e utilizamos para concluir nossas considerações:
"Allan Kardec afirmou certa vez, que os piores inimigos do Espiritismo estariam entre seus pares. Pode parecer declaração demasiadamente dura e radical, mas veio dele mesmo e ele sabia do que estava falando. Hoje, nesse mundo de tanta confusão, o Movimento Espírita se vê envolto em um emaranhado de parvoíces que deixam os espíritas sérios preocupados com o destino da doutrina no mundo. Custa-se a acreditar que uma filosofia tão racional e desbravadora possa ter gerado pessoas com visão tão estreita e engessada da vida.
De duas uma: ou a Doutrina Espírita é defeituosa ou os espíritas não compreenderam seu alcance moral. Sabendo-se da inverdade da primeira hipótese, resta-nos curvar à realidade da segunda. A prova disso está na forma como a Doutrina é praticada nos centros espíritas do país inteiro, com réplicas perfeitas no exterior (principalmente em Portugal e nos Estados Unidos), "formando" adeptos que de espíritas só têm o nome. São os espíritas imperfeitos, de que está cheio o movimento, como por exemplo, os que vêm a público afirmar que Kardec está ultrapassado e que precisa ser reinterpretado, quando ainda nem se conhece a fundo dez por cento do seu pensamento. Consideram-se doutos em Espiritismo por terem lido as obras básicas, e toda a literatura acessória, psicografada ou não. E ler é uma coisa. Estudar, entender e compreender é outra bem diferente. (...)
(...) Os espíritas "modernos" parecem desconhecer tal coisa. E, se conhecem, não dão a menor importância, pois defendem idéias esdrúxulas e contrárias aos fundamentos kardequianos, baseados em escritos ditados por Espíritos enganadores e pseudo-sábios. Essas idéias infiltram-se com facilidade em nosso meio, porque encontram o terreno fértil da ingenuidade e da falta do estudo que faz com que tudo se aceite sem exame, sem critério. É tempo de mudanças. O milênio termina e se inicia uma nova fase para o planeta. Os centros espíritas precisam se preparar para amparar o homem dentro de uma filosofia de vida melhor, mais justa e mais plena de compreensão das coisas divinas.
Para isso, necessita de espíritas sérios, que compreendam o verdadeiro sentido do Espiritismo, que possam trazer para dentro das casas espíritas uma nova ordem de práticas e metas, formando verdadeiramente homens de bem. Que possam retirar dos centros tudo o que não serve para a edificação do ser. Enfim, mostrar aos fariseus modernos a verdadeira face da Doutrina Espírita como agente modificador da humanidade e não como instrumento de gloríolas, de mera promoção pessoal e fábrica de fantasias".
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20 janeiro 2011
"Movimento Espírita e Capacidade Crítica", por Sérgio Aleixo

Prezados amigos leitores, leiam com atenção e reflitam acerca do conteúdo deste precioso artigo escrito pelo confrade Sérgio Aleixo, que consideramos muito pertinente ao estudos que nós aqui desenvolvemos e, principalmente, em total concordância com os critérios adotados por Allan Kardec, sob a supervisão do Espírito da Verdade.
"Em função de nossos posicionamentos críticos (do grego kritiké: análise, apreciação), somos frequentemente acusado de intolerância e prática excludente. Porém, nenhum de nossos pronunciamentos jamais é realizado sem o devido respeito à identidade conceitual do Espiritismo, sempre com superlativa importância dada à obra de Kardec, o qual fazemos questão de citar, em referendo a toda ideia que damos a lume.
Ante essas acusações, o que pensarmos? Que muitos espíritas não conhecem obra do mestre de Lyon e, assim, se equivocam em seus julgamentos; ou, então, que não fazem caso do que disseram ou deixaram de dizer o codificador e seus excelsos orientadores espirituais. Um erro dos mais lamentáveis é confundirmos o discurso viril de paz, amor e tolerância, próprio do corajoso exercício da verdadeira Boa Nova, com esse simplismo comprometedor, do qual Jesus, aliás, nunca foi partidário, que vive a dizer tão comodamente: “Vamos deixar de fofoquinhas, crianças! Vamos amar o próximo!”.
Não seremos nós os que se oporão à necessidade de amarmo-nos. Todavia, no que concerne a nossa atitude de repúdio ao roustainguismo, ao ramatisismo, ao laicismo e a outros focos de evidente mistificação, que grassam em nosso movimento espírita sob a complacência ingênua de uns e interesseira de outros, insistimos em que é a exemplo de Kardec que a tomamos, e em nome do próprio Espírito de Verdade, o qual disse também: “Instruí-vos!”.
Contudo, salientemos que nosso repúdio é às falsas doutrinas, não a seus profitentes, que consideramos nossos irmãos e a quem amamos, embora a recíproca nem sempre tenha sido verdadeira, o que prova a fonte malsã de tais proposituras. Citado nominalmente, já fomos tachado de irresponsável, antiético e mesmo agredido em nossa juventude, como se fosse desdouro não contar ainda, pelo menos, cinqüenta anos... Pobre de nós, que mal passamos dos trinta! São traços, não há dúvida, de um patriarcalismo completamente arcaico.
Seguro, entretanto, de nossa atitude, estamos, como dizíamos, ao lado do próprio codificador, que instruiu os verdadeiros adeptos do Espiritismo da seguinte forma:
'Falar dessas opiniões divergentes que, em definitivo, se reduzem a algumas individualidades, e não fazem corpo em nenhuma parte, não é, talvez dirão algumas pessoas, dar-lhes muita importância, amedrontar os adeptos em lhes fazendo crer em cisões mais profundas do que elas o são? Não é também fornecer armas aos inimigos do espiritismo? É precisamente para prevenir esses inconvenientes que delas falamos. Uma explicação clara e categórica, que reduz a questão ao seu justo valor, é muito mais própria para tranqüilizar do que para amedrontar os adeptos; eles sabem a que se prenderem, e nisto encontram ocasião dos argumentos para a réplica. Quanto aos adversários, eles muitas vezes exploram o fato, e é porque lhe exageram a importância, que é útil mostrar o que ele é'. (Revista Espírita. Abril de 1866. O espiritismo independente. Tomo IX. 1. ed. p. 116. Araras: IDE, 1997.)
A nossa postura é, então, a do próprio codificador do espiritismo; e nunca tão necessária foi, pois assumida numa época em que existe o agravante de essas opiniões divergentes da codificação não mais se reduzirem a algumas individualidades. Efetivamente, elas fazem corpo e ameaçam-nos a integridade conceitual, aumentando a distância entre o Espiritismo — a obra de Kardec e o que a essa obra de fato se possa articular — e aquilo que o movimento espírita vem professando em geral.
Estamos acuados por um institucionalismo igrejificante, muito centralizador, que cerceia o pleno exercício da capacidade crítica, elemento fundamental à proposta de uma fé realmente raciocinada. Por isso, muitos espíritas não chegam a desposar com a coragem que se esperaria os fundamentos doutrinais kardecianos. Apenas para não desagradarem a “a”, “b” ou “c”. Mas esquecem de que, para contemplarmos a Divindade, teremos de ser capazes de reconhecer sua dupla face: o Amor, sem dúvida; mas também, inapelavelmente, a Verdade.
Mestre e doutora em Educação pela USP, com dissertação e tese espíritas proclamadas em alto e bom som em pleno meio acadêmico — coragem que poucos têm! —, citemos aqui a ilustre confreira Prof.ª Dora Incontri, para que nos convençamos de que criticar não é fundamentalmente um vício, e sim uma virtude:
'A capacidade crítica é o preventivo contra a dominação mental de outras inteligências, encarnadas ou desencarnadas. É o discernimento justo para avaliarmos o bem e o mal e percebermos o que se esconde por trás das aparências. É a disposição de questionarmos pessoas e situações, sem medo de enxergarmos a verdade, pois por trás da descoberta e da justa avaliação de um problema, vem necessariamente o compromisso de nos engajarmos até o sacrifício para saná-lo. Assim, o espírito crítico, em relação a nós mesmos, a pessoas à nossa volta, a circunstâncias sociopolíticas, a respeito de formas de relacionamentos humanos ou de instituições e poderes constituídos é um desestabilizador do comodismo egoísta'. (A educação segundo o espiritismo. Cap. XVII. A educação intelectual. Potencialidades a serem desenvolvidas. O espírito crítico e a autonomia de pensamento. 4. ed. p. 171-172. São Paulo: Comenius, 2000.)"
Portanto, como pudemos apreender das justas explicações do amigo articulista, epistemologicamente falando, criticar é uma faculdade do ser humano em conjecturar, analisar, apreciar e exercer julgamento de uma determinada matéria ou assunto, emitindo posteriormente uma opinião pessoal sobre as impressões apuradas.
Em termos filosóficos, crítica é uma atitude que consiste em separar o que é verdadeiro do que é falso; o que é legítimo do que é ilegítimo; o que é certo do que é verossímil.
A crítica é comum a todas as pessoas, pois se trata de uma das mais fortes expressões da cognição humana. A partir do momento em que se vê, escuta ou sente-se algo, imediatamente o nosso senso de juízo delibera pareceres sobre o ocorrido a partir das reações psicológicas trazidas por essas sensações, o próximo estímulo é verbalizar e socializar essas idéias formadas.
E, finalmente, a partir de tais premissas, podemos verificar que a análise crítica se faz necessária em tudo, dentro e fora dos arraiais espíritas. Infelizmente, contudo, tem sido vista por boa parte do Movimento dito Espírita como um mal, confundindo-a com falta de caridade, intolerância, etc., conceitos esses que, em momento algum, encontram-se presente nas obras da Codificação Espírita, como aqui e alhures temos procurado demonstrar.
15 janeiro 2011
Um Apelo de Kardec

A 15 de janeiro de 1862, Kardec publicou a brochura intitulada “O Espiritismo na sua mais simples Expressão", e fez um apelo:
“Contamos com o zelo de todos os verdadeiros espíritas para ajudar na sua propagação.”
Já em "O Livro dos Médiuns", segundo livro da Codificação Espírita, verificamos a importância dada a questões que hoje têm sido ignoradas e relegadas por boa parte daqueles que se dizem espíritas nos dias de hoje, facilitando a ação nefasta de espíritos pseudossábios e/ou mistificadores, que não só poderão enganar a esses com suas falsas ideias como também a muitas outras pessoas, disseminando e rapidamente promovendo toda uma série de noções contrárias aos elevados propósitos do Espiritismo.
O resultado disso tem sido a desinteligência entre os espíritas e a consequente formação de redutos seitistas, com interpretações próprias e muitas das vezes demasiado exóticas e heterodoxas sobre a mais variada gama de questões que a Codificação, por sua vez, ensina com cristalina clareza, dispensando os adereços advindos das paixões e arroubos de imaginação de caráter puramente terreno e especulativo.
Leiamos alguns comentários a esse respeito proferidos por Allan Kardec constantes da Revista Espírita de janeiro de 1861:
"A primeira edição do Livro dos Médiuns, publicada no começo deste ano, esgotou-se em alguns meses, o que não é um dos traços menos característicos do progresso das ideias espíritas. Nós mesmo constatamos, em nossas excursões, a influência salutar que essa obra exerceu sobre a direção dos estudos espíritas práticos. Assim, as decepções e mistificações são muito menos numerosas do que outrora, porque ela ensinou os meios de descobrir as astúcias dos Espíritos enganadores. Esta segunda edição é muito mais completa que a precedente. Ela encerra numerosas instruções novas muito importantes e vários capítulos novos. Toda a parte que concerne mais especialmente aos médiuns, à identidade dos Espíritos, à obsessão, às questões que podem ser dirigidas aos Espíritos, às contradições, aos meios de discernir os bons e os maus Espíritos, à formação de reuniões espíritas, às fraudes em matéria de Espiritismo recebeu desenvolvimentos muito notáveis, frutos da experiência. No capítulo das dissertações espíritas adicionamos várias comunicações apócrifas acompanhadas de observações adequadas a dar os meios de descobrir a fraude dos Espíritos enganadores que se apresentam com falsos nomes.
Devemos acrescentar que os Espíritos reviram a obra inteiramente e trouxeram numerosas observações do mais alto interesse, de sorte que se pode dizer que é obra deles, tanto quanto nossa.
Recomendamos com instância esta nova edição, como o guia mais completo, quer para os médiuns, quer para os simples observadores. Podemos afirmar que seguindo-a pontualmente evitar-se-ão os escolhos tão numerosos contra os quais se vão chocar tantos neófitos inexperientes. Depois de a ter lido e meditado atentamente, os que forem enganados ou mistificados certamente não poderão queixar-se senão de si mesmos, porque tiveram todos os meios para se esclarecerem."
28 julho 2010
Ramatis é autor não espírita, por Jávier Godinho

Foi publicado no jornal "Diário da Manhã", de Goiânia - GO, um interessante artigo sobre Ramatis, com menção à obra de nossa autoria "Ramatis, Sábio ou Pseudo-Sábio?". O brilhante texto tem a autoria do jornalista, palestrante e estudioso espírita Jávier Godinho, membro da Academia Goianiense de Letras e doutrinador da Federação Espírita de Goiás, além de redator da Revista Espírita Allan Kardec, e pode ser lido também através do site do próprio jornal no link http://site.dm.com.br/noticias/opiniao/ramatis-nao-e-autor-espirita?.
"Gentil leitor contou-nos um dia desses que aprecia muito as obras de Ramatis, pedindo-nos que escrevêssemos alguma coisa sobre 'esse autor espírita'. Respondêmo-lhe que Ramatis não era espírita (seguidor da doutrina espírita, codificada por Allan Kardec), mas espiritualista (adepto do espiritualismo, segundo o dicionário doutrina filosófica que tem por base a existência de Deus e da alma, o que é bem mais amplo e diferente em muitos aspectos).
Relata Eduardo Carvalho Monteiro, no seu livro 'Salas de visitas de Chico Xavier' (coedição Eldorado/Eme, Capivari, São Paulo) que, há pouco mais de meio século, ficou muito conhecido um médium chamado Hercílio Maes, totalmente desligado do movimento espírita. Ele começou com algumas mensagens, recebidas sempre sozinho em sua residência e atribuídas a um espírito oriental que se apresentava como Ramatis.
Um dos primeiros livros de Ramatis foi Magia de redenção, que já evidenciava a preocupação com os problemas da magia e com habitantes de outros astros. Nova publicação, A vida no planeta Marte, numa época quando o cinema e a imprensa abusavam do tema disco voador, recebeu a atenção e os aplausos de milhares de espiritualistas, que queriam saber se os marcianos tinham mãos, olhos, nariz e outras partes do corpo iguais às nossas. Além de tudo, a redação era clara, boa e atraente, dificultando distinguir se se tratava de realidade ou de ficção.
Os livros de Ramatis vendiam muito e lotaram as prateleiras de livrarias e bibliotecas de muitos centros e até de federações espíritas. Baseados neles, para alguns, Kardec estava superado, ultrapassado por um indiano realmente moderno e de muito maior visão do universo.
Herculano Pires, sociólogo e jornalista, que brindou seus leitores com numerosas obras sérias e de indiscutível valor científico, mantinha no Diário de São Paulo uma coluna com o pseudônimo de Irmão Saulo, muito lida e discutida por espíritas e não espíritas. Lá, reconhecendo o mérito intelectual de Ramatis, reconheceu igualmente a inconveniência de suas ideias exóticas. Palavras textuais de J. Herculano Pires: “Perigoso não é o expositor ou autor que só diz tolices, vazadas em linguagem obscura, pobre, cheia de erros gramaticais e idéias pueris. Perigoso, sim, é o que expõe certo número de noções exatas, que usa argumentação brilhante, mas introduz, de permeio, ideias erradas e perigosas. Assim, tais ideias têm grande probabilidade de aceitação. É o que acontece com Ramatis”.
O filósofo Voltaire, com outras palavras, já havia dito a mesma coisa: “Mais perigosa do que uma mentira pode ser uma meia verdade”.
Artur Felipe Ferreira, autor de Ramatis, sábio ou pseudo-sábio?, que analisou os conceitos de Ramatis sobre magia, a vida em Marte, ideias espiritualistas orientais, gênese planetária e mediunidade, não deixou por menos e o classificou de pseudossábio.
Vai daí que Ramatis lançou 'Os tempos são chegados', anunciando o fim do mundo para o apagar do século 20. Isto aconteceria porque um astro saneador, que os astrônomos não percebiam, já estaria se aproximando da Terra, cujo eixo inverteria com seu magnetismo irresistível e de onde arrastaria os espíritos de dois terços da humanidade, no mais terrível das hecatombes. Esse corpo celeste apocalíptico foi chamado, dentre outros nomes, de Gheena, ou “planeta monstro” e “planeta chupão”, aterrorizando milhares de pessoas, nos cinco continentes e, sobretudo, espiritualistas no Brasil.
Aduz Eduardo Carvalho Monteiro que, como não poderia deixar de acontecer, até Francisco Cândido Xavier viu-se enredado em torno da polêmica formada, mas 'Emmanuel, por seu intermédio, soube sair bem do imbróglio, sem ferir o médium (Hercílio Maes), o espírito (Ramatis) ou seus admiradores. Chico, como sempre, sem perder a humildade, ensina, esclarece e dá-nos uma lição de respeito ao trabalho de outros médiuns'.
Entrevistado sobre tema tão delicado, Chico respondeu às perguntas da Revista Aliança para o terceiro milênio, de cunho espiritualista, edição de janeiro de 1956, que circulou em São Paulo até 1960. Seguem alguns trechos dessas declarações que tranquilizam e, em momento algum, confirmam fim do mundo:
“Esclarece nosso orientador espiritual Emmanuel que o assunto alusivo à aproximação de um planeta da aura da Terra deve, naturalmente, buscar-se em estudos científicos que possam saciar a curiosidade construtiva das novas gerações. O problema, desse modo, envolve acurados exames, com a colaboração da ciência, razão pela qual pede ele não nos detenhamos na expressão física dos acontecimentos que se aproximam”.(...)
“Afirma o nosso amigo que o progresso da ótica e das ciências matemáticas serão portadoras das ilações, de conclusões mais altas na importância de nossos destinos futuros próximos. Afirma que não podemos esquecer que a Terra, em sua constituição física propriamente considerada, possui os seus grandes repousos e atividades em períodos determinados”.(...)
“Toda essa eclosão de notícias, de mensagens, de avisos da vida espiritual, deve significar para o homem domiciliado na Terra, no presente século, que urge o nosso aproveitamento das lições de Jesus”. (...)
“Essa mensagem é digna de nosso melhor apreço. Contudo, na experiência de Emmanuel, nosso companheiro mais velho, fica-nos a recomendação para um interesse mais efetivo à fixação dos valores morais em nossa personalidade terrena, de conformidade com os padrões estabelecidos no Evangelho do nosso Divino Mestre”.
É o tempo implacável restabelecedor da verdade.
Sem planeta-monstro, amanheceu radiante e belo o dia primeiro de janeiro de 2000, novo século e novo milênio. Mesmo com fenômenos naturais arrasadores, quase um decênio depois, prossegue a mesma vida nos cinco continentes.
O médium Hercílio Maes retornou ao plano espiritual e não se teve mais notícias de Ramatis, cujos livros desceram das prateleiras e raramente são encontrados.
No Evangelho de Mateus está escrito, há dois mil anos: “Guardai-vos dos falsos profetas...” (7; 15).
12 julho 2010
Nos Descaminhos da Fascinação
Há, em "O Livro dos Espíritos", primeira e principal obra da Codificação Espírita, um questionamento de Allan Kardec aos Espíritos Superiores nos seguintes termos:
459 - "Os espíritos influem sobre os nossos pensamentos e as nossas ações?"
Cuja resposta foi: "A esse respeito sua influência é maior do que credes, porque, frequentemente, são eles que vos dirigem".
Allan Kardec, assim como os Espíritos Superiores que o inspiraram no trabalho de escrever e organizar as obras que compõem a Codificação Espírita, sempre se preocupou em alertar acerca dos perigos oriundos da influência dos espíritos imperfeitos. À esta influência deram o nome de "obsessão".
Didaticamente, a obsessão pode atingir três graus bem caracterizados, conforme podemos ler em "O Livro dos Médiuns":
1 - Obsessão simples , que é, segundo o Codificador, "quando um Espírito malfazejo se impõe a um médium, se imiscui, a seu mau grado, nas comunicações que ele recebe, o impede de se comunicar com outros Espíritos e se apresenta em lugar dos que são evocados.(...) Ninguém está obsidiado pelo simples fato de ser enganado por um Espírito mentiroso. O melhor médium se acha exposto a isso, sobretudo, no começo, quando ainda lhe falta a experiência necessária, do mesmo modo que, entre nós homens, os mais honestos podem ser enganados por velhacos. Pode-se, pois, ser enganado, sem estar obsidiado. A obsessão consiste na tenacidade de um Espírito, do qual não consegue desembaraçar-se a pessoa sobre quem ele atua".
(...)"Na obsessão simples, o médium sabe muito bem que se acha presa de um Espírito mentiroso e este não se disfarça; de nenhuma forma dissimula suas más intenções e o seu propósito de contrariar. O médium que se mantém em guarda raramente é enganado. Este gênero de obsessão é, portanto, apenas desagradável e não tem outro inconveniente, além do de opor obstáculo às comunicações que se desejara receber de Espíritos sérios, ou dos afeiçoados".
2 - A subjugação, que é "uma constrição que paralisa a vontade daquele que a sofre e o faz agir a seu mau grado. O paciente fica sob um verdadeiro jugo. A subjugação pode ser moral ou corporal".
"No primeiro caso, o subjugado é constrangido a tomar resoluções muitas vezes absurdas e comprometedoras que, por uma espécie de ilusão, ele julga sensatas: é como uma fascinação.
No segundo caso, o Espírito atua sobre os órgãos materiais e provoca movimentos involuntários. Traduz-se, no médium escrevente, por uma necessidade incessante de escrever, ainda nos momentos menos oportunos. Vimos alguns que, à falta de pena ou lápis, simulavam escrever com o dedo, onde quer que se encontrassem, mesmo nas ruas, nas portas, nas paredes.
Vai, às vezes, mais longe a subjugação corporal; pode levar aos mais ridículos atos. Conhecemos um homem, que não era jovem, nem belo e que, sob o império de uma obsessão dessa natureza, se via constrangido, por uma força irresistível, a pôr-se de joelhos diante de uma moça a cujo respeito nenhuma pretensão nutria e pedi-la em casamento. Outras vezes, sentia nas costas e nos jarretes uma pressão enérgica, que o forçava, não obstante a resistência que lhe opunha, a se ajoelhar e beijar o chão nos lugares públicos e em presença da multidão. Esse homem passava por louco entre as pessoas de suas relações; estamos, porém, convencidos de que absolutamente não o era; porquanto tinha consciência plena do ridículo do que fazia contra a sua vontade e com isso sofria horrivelmente".
3 - E, finalmente, a fascinação, que "é muito mais grave, no sentido de que o médium se ilude completamente. O Espírito que o domina ganha sua confiança ao ponto de paralisar seu próprio julgamento na análise das comunicações e lhe faz achar sublimes as coisas mais absurdas".
"Há Espíritos obsessores sem maldade, que alguma coisa mesmo denotam de bom, mas dominados pelo orgulho do falso saber. Têm suas ideias, seus sistemas sobre as ciências, a economia social, a moral, a religião, a filosofia, e querem fazer que suas opiniões prevaleçam. Para esse efeito, procuram médiuns bastante crédulos para os aceitar de olhos fechados e que eles fascinam, a fim de os impedir de discernirem o verdadeiro do falso. São os mais perigosos, porque os sofismas nada lhes custam e podem tornar cridas as mais ridículas utopias.(...) Procuram deslumbrar por meio de uma linguagem empolada, mais pretensiosa do que profunda, eriçada de termos técnicos e recheada das retumbantes palavras caridade e moral. Cuidadosamente evitarão dar um mau conselho, porque bem sabem que seriam repelidos. Daí vem que os que são por eles enganados os defendem, dizendo: 'Bem vedes que nada dizem de mau'. A moral, porém, para esses Espíritos é simples passaporte, é o que menos os preocupa. O que querem, acima de tudo, é impor suas idéias por mais disparatadas que sejam".
A fim de que pudéssemos reconhecer melhor os espíritos fascinadores, Kardec os descreve:
"Os Espíritos dados a sistemas são geralmente escrevinhadores, pelo que buscam os médiuns que escrevem com facilidade e dos quais tratam de fazer instrumentos dóceis e, sobretudo, entusiastas, fascinando-os. São quase sempre verbosos, muito prolixos, procurando compensar a qualidade pela quantidade. Comprazem-se em ditar, aos seus intérpretes, volumosos escritos indigestos e frequentemente pouco inteligíveis, que, felizmente, têm por antídoto a impossibilidade material de serem lidos pelas massas. Os Espíritos verdadeiramente superiores são sóbrios de palavras; dizem muita coisa em poucas frases. Segue-se que aquela fecundidade prodigiosa deve sempre ser suspeita."
E aconselha:
"Nunca será demais toda a circunspecção, quando se trate de publicar semelhantes escritos. As utopias e as excentricidades, que neles por vezes abundam e chocam o bom-senso, produzem lamentável impressão nas pessoas ainda noviças na Doutrina, dando-lhes uma ideia falsa do Espiritismo, sem mesmo se levar em conta que são armas de que se servem seus inimigos, para ridicularizá-lo. Entre tais publicações, algumas há que, sem serem más e sem provirem de uma obsessão, podem considerar-se imprudentes, intempestivas, ou desazadas."
Os Efeitos sobre o Movimento Espírita
A fascinação é realmente mais comum do que se pensa. Tal como uma epidemia, espalhou-se, e, atualmente, atinge o Movimento Espírita como uma doença moral muito séria. Aliada à falta de estudo das obras de Kardec, à tendência cultural ao sincretismo e à ausência de discernimento e de auto-crítica, ela é responsável pela edição de livros antidoutrinários e comprometedores existentes no mercado da literatura espírita. Essas obras são escritas por médiuns e escritores muitas vezes ingênuos ou mesmo vaidosos que, sob o império da fascinação, não se dão conta do ridículo a que se submetem, comprometendo, inclusive, o sadio entendimento das massas acerca da própria Doutrina Espírita e do que ela verdadeiramente ensina.
A Salada Mística
A fascinação é, sem dúvida, a responsável por inúmeras condutas esdrúxulas observadas em núcleos ditos espíritas, tais como práticas de cunho supersticioso e místico, sem qualquer fundamento racional e doutrinário.
Na esfera da divulgação, muitos indivíduos, embora instruídos, não estão livres da fascinação. Alguns, por confiarem excessivamente no seu pretenso saber, tornam-se instrumentos de Espíritos fascinadores e passam a divulgar, através de livros ou palestras, conceitos antidoutrinários nocivos à fé (raciocinada) espírita. Adotam e divulgam uma série de "ensinos" sem qualquer fundamentação doutrinária e um discurso místico-esotérico a qual chamam de "universalismo", sendo que, quando tais "ensinos" são comparados, nota-se não haver qualquer concordância e que cada um de seus representantes diz uma coisa, baseados que estão unicamente em suas férteis imaginações e arroubos místicos.
Crianças índigo, planeta chupão, apometria, poder curador de cristais e objetos materiais, profecias mirabolantes e aterrorizantes, milagres, intraterrestres, ETs que implantam chips na cabeça dos outros, terapias exóticas e milagreiras, 4ª e 5ª dimensões que a tudo explicam, astrologia, rituais e maneirismos... Enfim, é possível listarmos aqui centenas de fantasias, conceitos e noções que não encontram o menor respaldo, nem doutrinário, nem científico, e que só afastam o indivíduo da realidade, alienando-o e expondo-o a uma posição ridícula, levando de roldão a própria Doutrina Espírita perante a opinião pública.
Infelizmente, isso tudo é conduzido por espíritos perversos, levianos e/ou pseudo-sábios, que estimulam tais fantasias de modo a atrasar o progresso do humanidade e de seus ingênuos adeptos, fazendo-se valer de indivíduos incautos, de mente imaginosa e que carecem de aprofundamento e estudo das questões mais básicas do conhecimento, tanto do ponto-de-vista humano quanto espiritual.
São pessoas que ainda atrelam as questões do espírito ao maravilhoso, ao sobrenatural, ao milagreiro, ao aterrador, ao fantástico, esquecendo-se da razão, da racionalidade e da necessidade de tudo aferir para que então se possa, enfim, acreditar. Em tudo creem, bastando que esteja um médium, um espírito ou algo que o valha a ditar alguma tolice sem sentido - desde que recheada de palavras bonitas e pomposas - para que sejam imediatamente aceitas como reflexo da Verdade e da mais pura "revelação" espiritual..
Quando chamados à realidade, vociferam, alegando terem a liberdade de pensarem como quiserem e que não se encontram "presos" a nenhuma "ortodoxia", não se importando que levam, de roldão, dezenas de outras consciências ao abismo de seus devaneios místicos, com que se aferram, julgando-se "especiais", "escolhidos"...
A Fascinação nos Grupos Espíritas
Allan Kardec alerta para outro grave perigo: o da fascinação de grupos espíritas. Iniciantes afoitos e inexperientes podem cair vítimas de Espíritos mistificadores e embusteiros que se comprazem em exercer domínio intelectual sob todos aqueles que lhes dão ouvidos, manifestando-se algumas vezes como guias, missionários, e até como Espíritos de outra natureza, advindos de algum planeta ou galáxia distante. O mesmo pode ocorrer com grupos experientes que se julguem maduros o suficiente. O orgulho e o sentimento de superioridade é a porta larga para a entrada dos Espíritos fascinadores. Portanto, deve-se tomar todo o cuidado quando na direção de centros espíritas e das sessões de atividades mediúnicas. Os dirigentes são alvos preferidos dos Espíritos hipócritas que, dominando-os, podem mais facilmente dominar o grupo.
Preocupado com tais descaminhos, o espírito Vianna de Carvalho ditou a seguinte mensagem, intitulada "Esquisitices e Espiritismo":
"Ressumam com frequência nos arraiais da prática mediúnica esdrúxulas superstições que tomam corpo, teimosamente, entre os adeptos menos esclarecidos do Espiritismo, grassando por descuido dos estudiosos, que preferem adotar uma posição dubidativa, à coerência doutrinária de que sobejas vezes deu mostras o insigne Codificador.
Pretendendo não se envolver no desagrado da ignorância que se desdobra sob a indumentária de fanatismos repetitivos, alguns espíritas sinceros, encarregados de esclarecer, consolar e instruir doutrinariamente o próximo, fazem-se tolerantes com erros lamentáveis, em detrimento da salutar propaganda da Doutrina de Jesus, ora atualizada pelos Espíritos Superiores. A pretexto de não contrariarem a petulância e o aventureirismo, cometem o nefando engano de compactuarem com o engodo, desconcertando as paisagens da fé e, sem dúvida, conspurcando os postulados kardecistas, que pareceriam aceitar esses apêndices viciosos e jargões deturpadores como informações doutrinárias. (...)
De uma lado, é a ausência de estudo sistemático, de autodidatismo espíritico, haurido na Codificação, de atualização doutrinária em face das conquistas do moderno pensamento filosófico e tecnológico; doutro, é o desamor com que muitos confrades, após se adentrarem no conhecimento imortalista, mantêm atitude de indiferença, resguardando a própria comodidade, por egoísmo, recusando-se a experimentar problemas e tarefas, caso se empenhassem na correta difusão e no eficiente esclarecimento espírita; ainda por outra circunstância, é a falsa supervalorização que se atribuem muitos, preferindo a distância, como se a função de quem conhece não fosse a de elucidar os que jazem na incipiência ou na sombra das tentativas infelizes; e, normalmente, é porque diversos preferem a falsa estima em que se projetam ilusoriamente a desfavor do aplauso da consciência reta e do labor retamente realizado...
...E surgem esquisitices que recebem as manchetes do sensacionalismo da Imprensa mais interessados na divulgação infeliz que atrai clientes, do que na informação segura que serve como luzes do esclarecimento eficiente.
Médiuns e médiuns pululam nos diversos campos da propaganda, autopromovendo-se, mediante ridículos conciliábulos como 'status' de fantasias vigentes no báratro em que se converteu a Terra, sem aferição de valores autênticos, com raras exceções, conduzindo, quase sempre, a deplorável vulgaridade a nobre Mensagem dos Céus, assim chafurdando levianamente nos vícios que incorrem. Fazem-se instrumentos de visões extravagantes e dizem-se dialogando com anjos e santos desocupados, quando não se utilizando, ousadamente, dos venerandos nomes de Cristo e Maria, dos Apóstolos e dos eminentes sábios e filósofos do passado, que retornam com expressões da excentricidade, abordando temas de somenos importância em linguagem chã, com despautérios, em desrespeito pelas regras elementares da lógica e da gramática, na forma em que se apresentam. Parecia que a desencarnação os depreciara, fazendo-os perder a lucidez, o patrimônio moral-intelectual conseguido nos longos sacrifícios em que se empenharam arduamente. Prognosticam, proféticos, os fins dos tempos chegados e, imaginosos, recorrem ao pavor e à linguagem empolada, repetindo as proezas confusas de videntes do pretérito, atormentados que são, a seu turno, no presente.
Utilizando-se das informações honestas da Ciência, passam à elaboração de informes fantásticos, fomentando débeis vagidos de 'ciência-ficção', entregando-se a debates e provas inexpressivas retiradas de lacônicos telegramas de agências noticiosas, com que esperam positivar seus informes sobre a vida em tais ou quais condições, nesse ou naquele Planeta do Sistema Solar, ou noutra galáxia que se lhe torne simpática, como se a Doutrina já não o houvera oportunamente conceituado com segurança a questão, à Ciência competindo o labor de trazer a sua própria afirmação, sem incorrerem os espiritistas no perigo do ridículo desnecessário... (Veja nosso artigo sobre o tema aqui).
Outras vezes entregam-se à atualização de antigas crendices e feitiços, enredando os neófitos em mancomunações com Entidades infelizes ainda anestesiadas pelos tóxicos de última reencarnação, vinculadas às impressões do que acreditavam e se demoram cultuando...
Receitam práticas estranhas e confusas, perturbando as mentes que se encontram em plena infância da cultura como da experiência superior, tornando-se chefes e condutores cegos que são, conduzindo outros cegos, conforme a lição evangélica, terminando por caírem todos no mesmo abismo...
O Espiritismo é simples e fácil como a verdade quando penetrada.
Deixá-lo padecer a leviana aventura de pessoas irresponsáveis, ingênuas ou malévolas, é gravame de que não se poderão eximir os legítimos adeptos da Terceira Revelação.
(...)Cabem, frequentemente, sempre que possíveis, as honestas informações entre Doutrina Espírita e Doutrinas Espiritualistas, prática espírita e práticas mediúnicas, opinião espírita e opiniões medianímicas, calcadas na Codificação Kardequiana, que delineou, aliás, com muita propriedade, as características do Espiritismo, conforme se lê na Introdução de 'O Livro dos Espíritos', estando presente em todo o Pentateuco, que desdobra os postulados mestres em incomparáveis estudos de perfeita atualidade, a resistirem a todas as investidas da razão, da técnica e da fé contemporâneas".
Questão de Coerência
Como já pudemos constatar em vários artigos, não só o Codificador e os Espíritos ligados diretamente à Codificação se preocupavam com os rumos do movimento Espírita e a nefasta tendência das ideias demasiado heterodoxas e suas infiltrações no Movimento Espírita, mas também outras entidades espirituais têm atualmente evidenciado grande preocupação com a invasão de práticas e conceitos estranhos advindos do Orientalismo e do Africanismo, que são respeitáveis, mas que não coadunam com os ensinamentos espíritas.
Portanto, estudemos, pois, a Doutrina Espírita, e atentemos para os desvios que sorrateiramente encarnados e desencarnados propõem de maneira leviana e até irresponsável, para que, amanhã, não caiamos nós nas teias e descaminhos da fascinação.
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24 maio 2010
Os Cavalos de Troia do Espiritismo

Segundo conta a lenda, os troianos acreditaram que um grande cavalo de madeira teria sido dado a eles de presente pelo exército grego como sinal de rendição após uma longa e sangrenta guerra. No entanto, tudo não passou de uma grande ideia de Odisseu, um sagaz guerreiro, que pensou numa maneira de entrar em Troia sem despertar a desconfiança dos inimigos troianos. Recebido com festa e júbilo, o grande cavalo na verdade abrigava dezenas de soldados em seu interior, que, já bem tarde da noite, aproveitando-se do cansaço e da ressaca provocada pelos intensos festejos troianos, saíram de seu esconderijo, abriram os portões da cidade aos outros milhares de soldados escondidos do lado de fora que tomaram a cidade, logo após saqueando-a e incendiando-a.
Pois bem, nada muito diferente desta conhecida história tem ocorrido com o Movimento Espírita praticamente desde que o Espiritismo deu, na França, seus primeiros passos.
Inicialmente, o Espiritismo teve de lutar contra seus inimigos externos: os materialistas, os chefes da Igreja, e os céticos em geral, todos interessados em destruí-lo, ou por vê-lo como uma ameaça aos seus interesses de domínio e poder, ou por mero escárnio e aversão à reforma ético-moral que a mensagem espírita trazia, desde o princípio, em sua filosofia.
No entanto, a maior luta que o Espiritismo teve e tem travado tem sido contra seus inimigos internos, ou seja, aqueles que dizem ocupar suas fileiras, mas que, na verdade, tais quais os gregos, nada mais intentam, conscientemente ou não, que destruí-lo.
O Primeiro de Todos
O primeiro cavalo de troia inoculado, tal qual um vírus letal, em nosso meio, foram as ideias docetistas, ressuscitadas por um certo advogado bordelense chamado J.-B. Roustaing com a colaboração de uma (única) médium chamada Emillie Collignon, que pensaram poder solapar a obra kardequiana de uma só vez através de ditados mediúnicos supostamente advindos dos evangelistas Mateus, Marcos, João e Lucas, sob a também suposta coordenação do Espírito Moisés.
De posse de tais suspeitas comunicações, eivadas de erros crassos e ideias absurdas, de forte influência do pensamento católico, Roustaing compilou a obra "Os Quatro Evangelhos – Espiritismo Cristão, ou Revelação da Revelação", que publicou em 1866, a qual foi imediatamente contestada por Allan Kardec. Com a negativa de Kardec de aceitar prontamente o inteiro teor da referida obra, Roustaing e seus partidários duramente atacaram o Codificador nas páginas suprimidas do prefácio de "Os Quatro Evangelhos", de 1920, com ironia e desdém, acusando o codificador de ser o "chefe", o "mestre" de uma "igrejinha com seus corrilhos, entregue a lutas liliputianas". Ficava, pois, evidente, conforme muito claramente explica Sérgio Aleixo em sua obra "O Primado de Kardec", "... a patente rivalidade, a exagerada conta em que Roustaing e seus discípulos tinham sua própria "escola", supostamente tão superior à de Kardec a ponto de poder substituí-la. Àquela época, o cisma rustenista era confesso. Proclamavam: "Cismas há atualmente; ninguém tem o poder de impedi-los".
Nos dias de hoje, as ideias rustenistas, apesar da pouca vendagem e penetração de sua supra-citada obra basilar, estão presentes em obras editadas pela FEB - Federação Espírita Brasileira, tais como os best-sellers "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", "O Consolador" e "Voltei", além de outras menos conhecidas, porém não menos perigosas "obras-primas" do pensamento neo-docetista, como "Elucidações Evangélicas", "Elos Doutrinários", "A Vida de Jesus", "O Cristo de Deus", entre outras.
O conjunto de teses antidoutrinárias defendidas pelo roustainguismo (ou rustenismo) incluem, por exemplo:
1- A crença que Jesus teria revestido um corpo fluídico e nascido de uma virgem, tornada grávida apenas aparentemente;
2- A defesa da metempsicose, i.é, que o espírito possa reencarnar na condição de animal, mais especificamente como "larvas informes” e chamadas "criptógamos carnudos", "uma massa quase inerte, de matérias moles e pouco agregadas, que rasteja ou antes desliza, tendo os membros, por assim dizer, em estado latente". (Os Quatro Evangelhos, 1.º vol., n. 57 a n. 59, p. 307-313.);
3- A antidoutrinária tese de que "a encarnação humana não é uma necessidade, é um castigo; [...] em princípio, é apenas consequente à primeira falta, àquela que deu causa à queda". (Os Quatro Evangelhos, 1.º vol., n. 59, p. 317 e 324.)
O Ramatisismo
Não muito diferentemente da estratégia rustenista, o Ramatisismo trouxe antigas ideias do antigo espiritualismo oriental travestidas de novidades, desta feita explorando a tendência místico-esotérica, em lugar das teses do Catolicismo Romano e de seitas cristãs dos primeiros séculos depois de Cristo defendidas por Roustaing e seus adeptos.
Igualmente valendo-se de um único médium, o advogado e contador curitibano Hercílio Maes, de formação teosofista, o espírito Ramatis que, segundo alguns, aparece vestindo um turbante com uma esmeralda e uma túnica ao estilo hindú, defende um certo "universalismo eclético", capaz, segundo ele, de enriquecer o corpo doutrinário espírita. Alegando ter fundado santuários iniciáticos no século X na China e na Índia, teria desencarnado ainda moço. Alega também ter tido posições de destaque na mitológica Atlântida, no antigo Egito e na Grécia, além de ter convivido com Jesus e Kardec. Com base nessa suposta ligação com o primeiro, ditou o livro "O Sublime Peregrino", com o qual intenta descrever detalhes da passagem do Cristo pelo planeta, na tentativa de passar ao leitor autoridade e conhecimento. Seguindo a mesma estratégia de convencimento, dita ainda a obra "A Vida no Planeta Marte e os Discos Voadores", que passa a ser coqueluche nos idos de 1950, justamente quando surgem os primeiros filmes sobre ETs e vida em outros planetas. Seu minucioso relato sobre a vida e a topografia marcianas, no entanto, sofre duro abalo, já que, anos depois, sondas não-tripuladas chegam ao planeta e descrevem uma paisagem inteiramente diferente àquela constante da referida obra.
Embora não se auto-intitule "espírita", Ramatis procura incutir ao leitor a noção de que se encontra acima daquilo que chama de "rótulos" e "convenções humanas", ao mesmo tempo que seus ditados, estranhamente, se destinam quase que exclusivamente ao leitor espírita. Ousadamente, Ramatis chega a afirmar que o Espiritismo naufragará, caso seus adeptos relutem em aceitar os elevados princípios e ensinos do espiritualismo oriental. Por conta disso, os centros ramatisistas, boa parte ostentando o nome "espírita" em suas fachadas, veiculam conceitos e práticas estranhas ao Espiritismo, embora digam seguir Kardec, além de Jesus e, claro, o próprio Ramatis, alçado à condição de última palavra em termos de revelação espiritual.
Onde está a concordância?
Aprendemos em "O Livro dos Médiuns" que os Espíritos Superiores jamais se contradizem. Levando-se em conta tal premissa, logo chegamos à conclusão que, entre Roustaing e Ramatis, pelo menos um deles está errado, já que essas duas "escolas" defendem princípios completamente divergentes entre si. Ramatis, inclusive, chega a afirmar que a principal tese rustenista, a do corpo fluídico de Jesus, "é ainda um reflexo dos efeitos seculares adstritos aos dogmas, milagres, mitos e tabus copiados da vida de diversos precursores de Jesus" (O Sublime Peregrino, Cap. VII, A natureza do Corpo de Jesus). Não obstante, lança sua própria tese de que Jesus fora discípulo dos essênios, tendo aprendido com eles, e que, ao mesmo tempo, foi médium do Cristo, "uma entidade espiritual arcangélica", algo que, em momento algum, encontramos em Roustaing.
Portanto, vemos aí uma batalha ideológica entre espíritos unicamente interessados em fazerem prevalecer suas ideias e opiniões isoladas, com as quais acabam por provocar a cizânia, a divisão e a desinteligência nas fileiras espíritas que, teoricamente, deveriam manter-se fiéis, por mera questão de coerência, ao Espiritismo e à Codificação Espírita, conjunto de obras que passaram pelo crivo da universalidade e concordância, além de terem sido supervisionadas pelo insígne e autêntico missionário Allan Kardec, cujas credenciais todos conhecemos e das quais possuímos inúmeros exemplos positivos e factuais.
Conclusão
Muitos indagam como podem os Espíritos Superiores, ou mesmo Deus, permitirem que certos espíritos, encarnados e desencarnados, alcancem (parcial) sucesso em suas empreitadas, com as quais enganam a tantos. A resposta também encontramos na Codificação, repositório de múltiplos alertas a respeito da ação dos espíritos pseudossábios e mistificadores que pululam na atmosfera espiritual terrena:
P.:(...)"Mas como os Espíritos elevados permitem a Espíritos de baixa classe usarem nomes respeitáveis para semear o erro através de máximas muitas vezes perversas?"
R.: — "Não é com a sua permissão que o fazem. Isso não acontece também entre vós? Os que assim enganam serão punidos, ficai certos disso, e a punição será proporcional à gravidade da impostura.
— Aliás, se não fosseis imperfeitos só teríeis Espíritos bons ao vosso redor. Se sois enganados, não o deveis senão a vós mesmos. Deus o permite para provar a vossa perseverança e o vosso discernimento, para vos ensinar a distinguir a verdade do erro. Se não o fazeis é porque não estais suficientemente elevados e necessitais ainda das lições da experiência."
Outros tantos também se confundem por encontrarem boas coisas nos ditados desses espíritos. Tal questão é também esclarecida na Codificação:
P.: 11. As comunicações espíritas ridículas são às vezes entremeadas de boas máximas. Como resolver essa anomalia, que parece indicar a presença simultânea de Espíritos bons e maus?
— Os Espíritos maus ou levianos se metem também a sentenciar, mas sem perceberem bem o alcance ou a significação do que dizem. Todos os que o fazem entre vós são homens superiores? Não, os Espíritos bons e maus não se misturam. É pela constante uniformidade das boas comunicações que reconhecereis a presença dos Espíritos bons."
É bom que ressaltemos que nem sempre tais espíritos estão de má-fé:
P.: 12. Os Espíritos que induzem ao erro estão sempre conscientes do que fazem?
— "Não. Há Espíritos bons, mas ignorantes; podem enganar-se de boa fé. Quando tomam consciência da sua falta de capacidade eles a reconhecem e só dizem o que sabem."
Foi, no entanto, o Espírito Erasto que nos trouxe o alerta mais direto sobre a ação dessa classe de espíritos em 1862, na cidade de Bordéus (onde residia Roustaing), Paris, na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, apontando os "falsos profetas da erraticidade", ou seja, "Espíritos orgulhosos que, aparentando amor e caridade, semeiam a desunião e retardam a obra de emancipação da Humanidade, lançando-lhe através seus sistemas absurdos, depois de terem feito que seus médiuns os aceitem. E, para melhor fascinarem aqueles a quem desejam iludir, para darem mais peso às suas teorias, se apropriam, sem escrúpulos, de nomes que só com muito respeito os homens pronunciam.
"São eles que espalham o fermento dos antagonismos entre os grupos; que os impelem a isolarem-se uns dos outros, a olharem-se com prevenção. Isso, por si só, bastaria para os desmascarar, pois, procedendo assim, são os primeiros a dar o mais formal desmentido às suas pretensões. Cegos, portanto, são os homens que se deixam cair em tão grosseiro embuste..."
E conclui o sábio Espírito, dizendo:
"- É incontestável que, submetendo ao crivo da razão,da lógica todos os dados e todas as comunicações dos espíritos, fácil se torna rejeitar a absurdidade e o erro. Pode um médium ser fascinado, pode um grupo ser iludido; mas, a verificação severa a que procedam os outros grupos, a ciência adquirida, a elevada autoridade moral dos diretores de grupos, as comunicações que os principais médiuns venham a receber, com um cunho de lógica e de autenticidade dos melhores Espíritos, rapidamente condenarão esses ditados mentirosos e astuciosos, que emanam de uma turba de Espíritos mistificadores ou maus". ("O Evangelho segundo o Espiritismo",Cap.XXI,itens X,l)
E, por fim, perguntamos a todos: onde estão os falsos profetas da erraticidade, já que tudo quanto é ditado escrito por via mediúnica é aceito prontamente pelo Movimento Espírita como sendo advindo da Espiritualidade Superior, sem qualquer análise e critério, e logo encaminhadas para publicação? Por que a aceitação pura e simples de qualquer mensagem, sendo que sabemos que, no mundo dos espíritos, tanto os bons quanto os maus podem se comunicar?
Ou seguimos o critério kardequiano de análise das mensagens, seguido de um retorno à divulgação e estudo rigoroso e sério das obras da Codificação Espírita, ou então continuaremos a testemunhar a entrada dos cavalos-de-troia através de nossos muros, aproveitando-se da incúria e da ingenuidade de muitos que, mesmo sabendo do perigo iminente, fecham os olhos confiando unicamente naquilo que chamam de "providência divina", esquecendo-se das responsabilidades a nós confiadas.
Cabe, pois, aos espíritas verdadeiros, cuidarem para que o Movimento Espírita não se desvie pelas sendas do erro e da divisão, tal qual aconteceu com o Cristianismo, hoje tornado uma autêntica colcha de retalhos. O Espiritismo é um só: aquele contido nas obras kardecianas, sem enxertias e adulterações, tal qual um todo monolítico e capaz de responder às mais graves questões espirituais por ainda muito, muito tempo.
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